sábado, 1 de setembro de 2012

A relação difícil da Igreja com as mulheres jovens

Sobre a Igreja e as mulheres nos dias que correm, vale a pena ler a entrevista do brasileiro IHU ao teólogos Benedetta Zorzi (freira beneditina, ligada à organização das teólogas italianas) e Armando Matteo (padre, ligado à pastoral universitária). Este último é autor de “La fuga delle quarantenni. Il difficile rapporto delle donne con la chiesa” (A fuga das quarentonas. A difícil relação das mulheres com a igreja).

Duas perguntas e respostas:
IHU On-Line – Quais as dificuldades para se tentar construir uma Igreja “a duas vozes”, com homens e mulheres participando da mesma forma? 
Maria Benedetta Zorzi e Armando Matteo – De um lado, certamente há uma mentalidade segundo a qual o laicato e, portanto, obviamente, as mulheres – duas vezes leigas – são chamadas a participar plenamente da gestão da vida eclesial; de outro, as próprias mulheres não fazem o suficiente para mudar essa mentalidade e muitas vezes, tendo introjetado valores femininos androcêntricos, são as mais estrênuas defensoras de um sistema que as penaliza.
Outro elemento é a ignorância dos padres, sobretudo dos mais jovens, em nível histórico e teológico. Acrescente-se a isso a desorientação identitária do homem jovem ocidental. Diante de uma reflexão secular da mulher sobre a sua identidade, sobre os seus papéis e sobre a mudança da sua autopercepção, não houve uma reflexão equivalente do homem sobre si mesmo, sobre o seu papel, sobre quem ele deve ser com respeito a essa mulher que mudou. Se, como diz o Magistério, a antropologia católica é dual, então, se um polo muda, o outro também deve mudar necessariamente.
Cada vez mais temos homens jovens incapazes de fazer frente a uma relação com as jovens adultas de hoje, capazes, afirmadas socialmente, livres, autodeterminadas, pessoal, física e projetualmente... com todas as consequências que isso implica. A Igreja Católica ainda parece ser o único baluarte em que um jovem ocidental pode continuar não pondo em discussão a sua identidade masculina. Se pensarmos no que o padre deveria fazer na Igreja Católica, no modo em que esse papel é hoje apresentado, não é de se admirar que esse papel atraia pessoas com dificuldades identitárias. Também não devemos nos admirar se o resultado desse conúbio emerja com consequências muitas vezes desagradáveis. 
IHU On-Line – Por que, apesar dos inúmeros textos eclesiais do Concílio Vaticano II sobre a importância das mulheres, ainda existe na Igreja uma forte tensão entre as declarações de princípio e a prática em confiar a elas funções de responsabilidade? 
Maria Benedetta Zorzi e Armando Matteo – Porque não se refletiu o suficiente sobre o papel do padre, sobre as modalidades de gestão do poder, das paróquias, porque não se promove explicitamente e com força a formação teológica das mulheres, porque se conecta ainda muito estreitamente a liderança à ordenação ministerial. As aberturas da Igreja para as mulheres de 50 anos atrás nos parecem apenas tímidas hoje, mas eram apropriadas para as mulheres e para o mundo de 50 anos atrás. Hoje, depois de um Magistério que falou de gênio feminino, sim, mas tudo somado por uma perspectiva marcada também geoculturalmente, seria preciso dar mais um passo para compreender a fundo as demandas do mundo das mulheres que está mudando rapidamente.
Ler tudo aqui.

Alguém comentou neste blogue que a ordenação de mulheres, na Igreja católica, provocaria uma debandada. Afinal, parece que não é preciso tanto.

7 comentários:

Anónimo disse...

São as evidências, meu caro. Houve debandadas noutras confissões cristãs, não acha? Qual o motivo de não haver agora na Igreja católica. Mas o ónus da prova, para implementar uma nova linha de acção sacerdotal, está do lado de quem a defende. Há evidências que Jesus quis, mas não pôde, chamar mulheres ao sacerdócio? Há evidências que, hoje, Deus deseja que as mulheres acedam ao sacerdócio? Onde estão? Onde se fundamentam teologicamente aqueles que desejam que as mulheres sejam ordenadas? No a "Igreja precisa delas?" Pois precisa, mas precisará delas para o sacerdócio? Vem para aqui o "Nós somos Igreja" dizer que "ah, mas haviam mulheres na última ceia". Provas? Nenhuma. Tristeza.

Jorge Pires Ferreira disse...

Escrevo na suposição de este anónimo ser o mesmo do comentário das 5:53 p.m de
http://tribodejacob.blogspot.pt/2012/08/o-vaticano-e-um-antro-de.html

Se não for, façam-se os devidos descontos.

Caro anónimo, acho estranho que fale em evidências e peça provas sem aplicar o pedido a si próprio.

Vejamos.
“Houve debandadas noutras confissões cristãs…”

Concretize, pf. Quais debandas, em que confissões, porque motivos? Deveram-se à ordenação de mulheres? Onde? Gostava de conhecer os dados.

Em relação às questões que coloca, elas têm vindo a ser respondidas, nos posts e respectivos comentários.

Admito que a pressa lhe faça colocar questões absurdas como “Há evidências que Jesus quis, mas não pôde, chamar mulheres ao sacerdócio?”, supondo que Jesus chamou alguém ao sacerdócio.


Ou “Há evidências que, hoje, Deus deseja que as mulheres acedam ao sacerdócio?”, supondo que haja evidências de Deus, hoje, em relação a qualquer assunto.


Sobre quem esteve na Última Ceia, não ao sei ao certo quem foi. Sei que estava lá um que o entregou e que não era mulher. Mas não vou daí tirar qualquer conclusão sobre género e capacidade de delação.

Vendo Marcos, diz que a ceia é preparada para Jesus e dos discípulos (nunca vi ninguém dizer que “discípulos” não inclui mulheres), Mc14,14. Uns versículos à frente, 14,17, diz que Jesus foi com os Doze. Quer dizer que chegou com os Doze e estavam lá outros, ou só os Doze é que cearam? Eu não sei.

Lucas diz que a ceia é para os discípulos (Lc 22,10) e que “quando chegou a hora, pôs-se à mesa e os Apóstolos com Ele” (Lc 22,14). Como saberá, Doze não é sinónimo de Apóstolos (fiquemos só por este facto: Paulo não era um dos Doze e era Apóstolo).

João diz que Jesus, durante a Ceia, lavou os pés aos discípulos (Jo 13,5)e mandou que fizessem o mesma (curioso: dizem que o mandato da ceia dá origem ao sacramento da Eucaristia; porque é que este mandato não deu origem a um sacramento de lava-pés, de serviço? Ou deu?)

Mt diz sensivelmente o mesmo que Marcos.

Em resumo, eu, que não respondo pelo Nós Somos Igreja, não sei quem lá esteve ao certo e não me confio na imagética clássica sobre o assunto.

Mas sei que a Igreja diz que a Eucaristia-Ceia é inseparável da Morte-Sacrifício na Cruz (mesa, altar, cruz) e aí vejo que os evangelistas são unânimes em dizer que as mulheres estavam lá (e também o “discípulo que Ele amava”, que erroneamente confundem com João). Tenho de tirar algumas conclusão disso, para lá da fidelidade daquelas mulheres até à última hora?

São reflexões dispersas. Espero que contribuam para algo.

Anónimo disse...

Exactamente. Reflexões dispersas sem qualquer relevância para o caso. Baralhar o testemunho da crucificação com o perpetuar da entrega sacrificial de Jesus é profundamente desonesto. Profundamente. E só serve para tentar baralhar e voltara a dar. Desonestidade, pois. Mas é óptimo que não diga "ordenem-se mulheres pois elas estavam na última ceia". Não se sabe. Ponto. Sabe-se que estavam os Apóstolos (só homens) e alguns discípulos. Não se sabe é se estes últimos eram só homens ou só mulheres. Mas a missão encarregue por Jesus aos Apóstolos e aos discípulos é distinta. Mais uma vez: qual o argumento teológico para a ordenação feminina? O, "a Igreja precisa delas no sacerdócio?" Seja sério. Isso não pega nem com Araldite.

Jorge Pires Ferreira disse...

“Baralhar o testemunho da crucificação com o perpetuar da entrega sacrificial de Jesus é profundamente desonesto. Profundamente.”

Prove lá a desonestidade. A ceia/cruz são ou não teologicamente indissociáveis? E prove aquela, suponho que tb considerará desonestidade, da semelhança entre instituição da Eucaristia e instituição do lava-pés. Só dizer “desonestidade” não chega. Ou só são válidos os raciocínios que vão numa direcção pré-determinada?

Mas repare que eu disse:
“Tenho de tirar alguma conclusão disso [das mulheres estarem com Jesus na morte], para lá da fidelidade daquelas mulheres até à última hora?”

A resposta – pensava eu que era evidente – é não. Tal que penso que não se deve fundamentar o sacerdócio ministerial das mulheres numa presença ou não na Última Ceia.

Diz:
“Mas a missão encarregue por Jesus aos Apóstolos e aos discípulos é distinta”.

Mostre, p.f. Qual a missão e como é(são) distinta(s). Já agora com citações.

Mas olhe que já começa a ficar com muita coisa para provar e mostrar.

Não esqueço que ficaram estas questões:

“Houve debandadas noutras confissões cristãs…”

Concretize, pf. Quais debandas, em que confissões, porque motivos? Deveram-se à ordenação de mulheres? Onde? Gostava de conhecer os dados.

Em vez de qualificar as suas atitudes pelas coisas não provadas e não respondidas (em relação a mim já disse que cometo desonestidades, que não sou sério…), vou pensar que ainda o fará.

Anónimo disse...

Hahaha... não sou eu que, seguindo a opinião oficial da Igreja, que tem que provar o que quer que seja. É quem a contesta. Não basta dizer "O que diz não se sustenta" (apesar de se sustentar); precisa de sustentar a sua posição. Mas isso não faz, pois não? Hahahaha... E afirmo que uma coisa é a participação na última ceia e outra o assistir à crucifixão.

uma Maria como as outras.

Anónimo disse...

5:42 p.m.

Consegue ou não responder ao Jorge?
Já que tem a "coragem" de provocar com aleivosias, tenha também a coragem de responder, se faz favor.

Outra Maria como as outras.

Jorge Pires Ferreira disse...

Obrigado, Anónimo das 6:45 p.m.

Do Anónimo dos "Hahahaha" ainda espero respostas.

Mas ele já reconheceu que não sabe se estiveram ou não mulheres na Última Ceia. É um progresso.

Diz que "uma coisa é a participação na última ceia e outra o assistir à crucifixão", como se alguém tivesse dito que é a mesma coisa. Mas aí dou-lhe um desconto. Algo lhe deve ter escapado.

Penso que não será preciso repetir as questões. Mas será preciso ter respostas porque, como ele, há quem fala de instituições, missões, apóstolos, ministérios, sacerdócio, sacramentos... como se as coisas fossem branco no preto, como se não houvesse margem para dúvidas, interpretações, outros pontos de vista.

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