sexta-feira, 29 de junho de 2012

Luz e fraquezas do papado

Bento XVI entrega o pálio a D. Chaput, de Filadélfia (o bispo que conduziu o processo - apressado, dizem - contra o bispo australiano defensor da ordenação de homens casados, entre outros aspetos; sobre o australiano D. William Morris, ler aqui e aqui). Foto tirada da Ecclesia

Bento XVI disse hoje, numa cerimónia com os arcebispos metropolitas nomeados no último ano, que a história do próprio Papado é um “drama”, caracterizada por “dois elementos”: a “luz e força que provêm do Alto” e “a fraqueza dos homens”.

O Papa interpreta um trecho do Evangelho de Mateus em que num primeiro momento Jesus diz que Simão é rocha, pedra (daí o Pedro), “fundamento visível sobre o qual está construído todo o edifício espiritual da Igreja” (explica o Papa), e noutro diz que é Satanás (“Vai-te daqui, Satanás! Tu és para Mim uma ocasião de escândalo...» (16, 23).
O discípulo que, por dom de Deus, pode tornar-se uma rocha firme, surge aqui como ele é na sua fraqueza humana: uma pedra na estrada, uma pedra onde se pode tropeçar (em grego, skandalon). Por aqui, se vê claramente a tensão que existe entre o dom que provém do Senhor e as capacidades humanas; e aparece de alguma forma antecipado, nesta cena de Jesus com Simão Pedro, o drama da história do próprio Papado, caracterizada precisamente pela presença conjunta destes dois elementos: graças à luz e força que provêm do Alto, o Papado constitui o fundamento da Igreja peregrina no tempo, mas, ao longo dos séculos assoma também a fraqueza dos homens, que só a abertura à ação de Deus pode transformar.
Diz também o Papa que “a Igreja não é uma comunidade de seres perfeitos, mas de pecadores que se devem reconhecer necessitados do amor de Deus, necessitados de ser purificados através da Cruz de Jesus Cristo”.

Fica assim patente que alguns defensores do papado e da sua história são mais papistas do que Papa, já que Bento XVI reconhece fraquezas.


Porém, depois do reconhecimento de tanta fraqueza humana, como não admitir que nos unem mais as fragilidades do que os méritos? Como não sublinhar mais o perdão e a misericórdia (divinas) do que os méritos, as dignidades as distinções (humanas)?


Afirmações beneditinas retiradas daqui.

12 comentários:

Anónimo disse...

Não desejava apenas a ordenação de homens casados (que já ocorre pontualmente, pelo que sei, no Brasil), mas de mulheres e a possibilidade de nas eucaristias dar-se a comunhão não só a cristãos não católicos (vá lá), mas também a não cristãos. Tudo coisas que o meu tão amado "Nós Somos Igreja" deseja, a ponto de ter escrito uma carta a apoiar William Morris.

Já gora: é possivel duvidar que a obediência adulta é uma virtude cristã? espanto-me sempre com tal movimento.

Fernando d'Costa

maria disse...

bom, mas o "drama" do papado não é o drama de qualquer pessoa?

João Silveira disse...

Fernando tudo isso já existe há 500 anos, chama-se igreja protestante.

maria disse...

João, o seu argumento é mais ou menos assim:

A família Magalhães, a pedido de alguns membros, reune-se, e são colocadas alguns questões que estão a dificultar o melhor relacionamento na família. Entre as diferentes questões levantadas, um dos membros aponta a situação da Maria e do Luís que nas festas familiares são convidados, instados a participar porque toda a família tem muito carinho por eles, mas no decorrer da festa, nomeadamente, no decorrer da refeição, os mesmo não se podem sentar à mesa, nem tocar nos alimentos. Terão que mudar algumas práticas para que todos os membros da família se sintam verdadeiramente participantes da mesma.

E o sr Magalhães toma a palavra e diz:"isso tudo já existe no apartamento em frente, na família Silva..."

Anónimo disse...

Ah quanta garra afiada. Vão ter de esperar pela outra vida para ver as mulheres com as gadanhas no Altar.

João Silveira disse...

Mas, Maria, a Igreja nunca foi uma democracia. Nunca foi nem nunca será, senão acabava em três tempo.

Eu não digo o que Credo que me apetece dizer, nem um inventado por mim, digo o Credo da Igreja, em comunhão com os meus irmãos.

Se eu começar a querer dizer: "Creio em Shiva, toda poderosa", os outros têm que entrar em consenso comigo? Vamos aqui dialogar para chegarmos a um meio termo?

Anónimo disse...

Ó das 2:29 PM, se calhar não será preciso esperar tanto...

Anónimo disse...

Uma Igreja democrática? sejamos sinceros: alguém acha mesmo que a maioria dos católicos está minimamente esclarecida sobre a teologia da sua fé para ter opiniões sustentáveis sobre o que quer que seja na Igreja? "Eu quero a ordenação de judeus pois a Declaração Universal dos Direitos Humanos" diz que todos temos os mesmos direitos; "Eu quero que não haja um Papa" pois somos todos iguais; "Eu quero que a Igreja seja pró-aborto pois cada um é dono do seu corpo"; "Eu quero que a Igreja venda todo o seu património para ser pobre com os mais pobres". Era, de facto, o fim da Igreja.

Fernando d'Costa

João Silveira disse...

Nem mais!

maria disse...

não, senhores, não estou a pensar em democracia, antes:

Lc 15 11-32

João Silveira disse...

Maria, esta história é o contrário da que a que tinha descrito antes.

HD disse...

É de facto importante , ter uma opinião sustentada sobre a Igreja ,mas…

Se a maioria dos católicos não estão minimamente esclarecidos sobre a Teologia da sua Fé, muito se deve ao que a Igreja ( não ) investiu pastoralmente.

Se dependesse de algumas mentes, o Reino de Deus seria só de alguns eleitos sapientes masculinos, dialogantes no latim.

Felizmente que para ter Fé, não é preciso um Doutoramento em Teologia.

Pois Deus torna tudo muito mais simples, para o comum dos mortais católicos.

E essa Graça, não há esclarecimento teológico que o implante.
Quem tem Fé, pode ter uma opinião sobre a Igreja, pois ela é a sua casa.

HDias

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