segunda-feira, 18 de junho de 2012

Coisas do demo - a propósito de um texto de João César das Neves


O gato não tem culpa nenhuma de aqui estar

João César das Neves fala na sua crónica de hoje, no DN (aqui), do diabo.

Eu gosto de ler os textos do professor de economia, ainda que muitas vezes discorde. Como é o caso de hoje. Aprecio os seus paradoxos, mas evito cair neles. Dão jeito para sofismos, mas não passam disso. Ainda há dias, ao vivo, ouvi mais um, desta vez sobre as reivindicações das mulheres. Era mais ou menos assim: “Dizem que elas foram oprimidas durante milhares de anos. E nunca se queixaram? Há aqui qualquer coisa que não joga bem”. A pergunta pode fazer pensar. Mas se pensarmos mais um pouco percebemos que fazia parte da opressão não se queixarem, tirar-lhes as hipóteses de pensar, convencê-las de que não se podiam queixar, nem sequer colocar a possibilidade. Usando um paralelo que não é assim tão descabido, podemos dizer: “A escravatura estava contra a dignidade humana? Hummm. E os escravos não se queixaram durante milhares de anos [na Mauritânia só foi proibida em 1981]?” Podíamos responder-lhe: “Queixaram-se, sim. Escreveram tratados sobre a dignidade humana e apresentaram teses de doutoramento sobre a igualdade dos seres humanos”, quando a única possibilidade de se queixarem era usar o que melhor sabiam usar, os pés, e fugir. E quando o faziam, matavam-nos.

O que faz hoje o professor? Fala do demo. Do diabo. Tudo muito bem, tudo muito certinho. Só há um problema. Confunde diabo e demónio. Está contra os evangelhos, onde nunca o diabo é confundido com o demónio. Em resumo, nos Evangelhos, os demónios "possuem", mas são expulsos, porque se trata de doenças curáveis. Já o diabo tenta, mas nunca possui ninguém. É a força do mal. Sem dúvida que o mal existe e por vezes atrai. Mas para quê e porquê a personificação?

O argumento, também teológico, de que a liberdade é suficiente para explicar o mal moral, humano, é por isso subvertido, bem ao seu jeito:
É curioso perceber porquê [a recusa de Satanás]. A razão liga-se ao axioma mais central e indiscutível da nossa cultura. Somos o tempo da liberdade, humanismo, técnica e poder sobre a natureza. Ora nada destrói mais esses valores que saber-nos sujeitos a influências maléficas, que turvam as nossas escolhas, distorcem a nossa humanidade, pervertem as nossas obras e podem dominar a nossa vida. Se existem tentações demoníacas, lá se vão os sonhos de tolerância, humanismo, liberdade. Caímos no real. O ser humano, que se acha radicalmente autónomo e soberano, ainda tolera com diplomacia um deus longínquo, mas nunca se considerará sujeito ao demónio.
É preciso estar atendo às ilusões dos que defendem a existência do diabo/demónio. Também isso pode ser demoníaco. A minha tese, à João César das Neves, é precisamente essa. Acreditar no demónio/diabo não é evangélico, não é responsabilizante, pode ser traumatizante, é intelectualmente infantilizante e teologicamente contraditório. Pode ser caso de médico e de psicólogo. Acreditar no demónio pode, de facto, tornar-se demoníaco.

29 comentários:

João Silveira disse...

Claro que o Diabo não existe, Jorge Ferreira já falou ex cathedra em relação a essa matéria. O assunto está encerrado. Tenha juízo, professor César das Neves!

Jorge Pires Ferreira disse...

Caro João, obrigado pela ironia. O diabo existe ou não existe. Não é uma questão de jeito ou preconceito. É uma questão de verdade. Não sei em que é que se apoia quem afirma que existe. Eu apoio-me nos evangelhos para dizer que é um erro confundir diabo e demónio. Posso dar-lhe bibliografia com imprimatur. Creio em Deus, não no diabo ou seres parecidos.

João Silveira disse...

Caro Jorge, resta-nos a ironia visto que a sua argumentação não faz sentido.

Conhece melhor os evangelhos do que a Igreja? Sabe melhor o que são os evangelhos do que a Tradição, de onde os evangelhos nasceram? Se sabe, os meus parabéns!

Se não sabe, seja um bocadinho mais humilde.

Anónimo disse...

dou-lhe os meus parabens.Estou de acordo com o que escreve todavia permito-me pedir-lhe que num proximo post faça referencia á bibliobrafia que refere no artigo

Jorge Pires Ferreira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jorge Pires Ferreira disse...

Jorge Pires Ferreira disse...
João, se estamos a falar de argumentação, o que é isto que me diz?

"Conhece melhor os evangelhos do que a Igreja? Sabe melhor o que são os evangelhos do que a Tradição, de onde os evangelhos nasceram?"

Isto é argumento para quê? Para afirmar a existência do demónio ou o contrário?

Na realidade, isto não é argumento para nada. Ou melhor, é uma tentativa de argumento para me calar, coisa que, caro João, você não consegue.

Tenho, por isso, de lhe perguntar, por exemplo, onde é que a Igreja afirma que o diabo/demónio existe? Um concílio de 1215? Chega?

Volto a afirmar e talvez ainda hoje dê alguma bibliografia, que nos Evangelhos (não disse "Bíblia") diabo e demónio são coisas diferentes. E compreender o que são ajuda a ter ideias claras sobre o assunto.

Anónimo disse...

Seria interessante que a referida bibliografia fosse disponibilizada no blogue. Todos ficaríamos mais esclarecidos e não só o João.

Jorge Pires Ferreira disse...

Ok. Indicarei bibliografia e mesmo um artigo completo. Mas só amanhã à tarde. Porque há outros deveres familiares e profissionais pelo meio. Isto vai nos intervalos.

João Silveira disse...

Deixa-me cá tentar arranjar argumentos:

"Quais são hoje as maiores necessidades da Igreja? Não deixem que a minha resposta os surpreenda como sendo simplista e, ao mesmo tempo, supersticiosa e fora da realidade. Uma das maiores necessidades da Igreja é a defesa contra este mal chamado Satanás. O diabo é uma força atuante, um ser espiritual vivo, perverso e pervertedor; uma realidade misteriosa e amedrontadora." (Papa Paulo VI, L'Osservatore Romano, 24/11/1972)

"É claro que o pecado é um produto da liberdade do homem. Porém, no profundo dessa realidade humana, existem fatores em ação que a colocam para além do meramente humano, na área limite onde a consciência do homem, a sua vontade e a sua sensibilidade estão em contato com as forças das trevas. Elas, de acordo com São Paulo, estão ativas no mundo quase a ponto de dominá-lo (Rm 7,7-25; Ef 2,2; 6,12)" (Papa João Paulo II, Exortação Apostólica à Reconciliação e à Penitência, Julho 1993)

Do Catecismo da Igreja Católica:

II. A queda dos anjos
391. Por detrás da opção de desobediência dos nossos primeiros pais, há uma voz sedutora, oposta a Deus (266), a qual, por inveja, os faz cair na morte (267). A Escritura e a Tradição da Igreja vêem neste ser um anjo decaído, chamado Satanás ou Diabo (268). Segundo o ensinamento da Igreja, ele foi primeiro um anjo bom, criado por Deus. «Diabolus enim et alii daemones a Deo quidem natura creati sunt boni, sed ipsi per se facti sunt mali – De facto, o Diabo e os outros demónios foram por Deus criados naturalmente bons; mas eles, por si, é que se fizeram maus» (269).
392. A Escritura fala dum pecado destes anjos (270). A queda consiste na livre opção destes espíritos criados, que radical e irrevogavelmente recusaram Deus e o seu Reino. Encontramos um reflexo desta rebelião nas palavras do tentador aos nossos primeiros pais: «Sereis como Deus» (Gn 3, 5). O Diabo é «pecador desde o princípio» (1 Jo 3, 8), «pai da mentira» (Jo 8, 44).
393. É o carácter irrevogável da sua opção, e não uma falha da infinita misericórdia de Deus, que faz com que o pecado dos anjos não possa ser perdoado. «Não há arrependimento para eles depois da queda, tal como não há arrependimento para os homens depois da morte» (271).
394. A Escritura atesta a influência nefasta daquele que Jesus chama «o assassino desde o princípio» (Jo 8, 44), e que chegou ao ponto de tentar desviar Jesus da missão recebida do Pai (272). «Foi para destruir as obras do Diabo que apareceu o Filho de Deus» (1 Jo 3, 8). Dessas obras, a mais grave em consequências foi a mentirosa sedução que induziu o homem a desobedecer a Deus.
395. No entanto, o poder de Satanás não é infinito. Satanás é uma simples criatura, poderosa pelo facto de ser puro espírito, mas, de qualquer modo, criatura: impotente para impedir a edificação do Reino de Deus. Embora Satanás exerça no mundo a sua acção, por ódio contra Deus e o seu reinado em Jesus Cristo, e embora a sua acção cause graves prejuízos – de natureza espiritual e indirectamente, também, de natureza física – a cada homem e à sociedade, essa acção é permitida pela divina Providência, que com força e suavidade dirige a história do homem e do mundo. A permissão divina da actividade diabólica é um grande mistério. Mas «nós sabemos que tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus» (Rm 8, 28).
E há muito mais de onde isto veio, dizei uma só palavra e eu farei copy/paste.

Espero ansiosamente a bibliografia que irá desmentir o Catecismo.

maria disse...

Ah, ele disse isso? [que as mulheres...]...convenço-me que o JCN fez apenas a catequética necessária para as "comunhões todas"...mas parece que o cardeal Bertone também disse, acerca das fumaças que vêm do Vaticano, que é de fora que querem dividir...coisa do diabo. Ah, homens dos diabos, tão lentos para ver as traves em que tropeçam.

Jorge Pires Ferreira disse...

João, quer que leve a sério um texto que começa assim:

"Por detrás da opção de desobediência dos nossos primeiros pais, há uma voz sedutora, oposta a Deus, a qual, por inveja, os faz cair na morte"?

Quem é que lhe tirou a faculdade de pensar? Depois queremos que os ateus nos levem a sério. É do Catecismo. E depois? O Catecismo pede-nos que metamos a capacidade de pensar numa gaveta? Veja a história do diabo, que com certeza não vem no Catecismo, para perceber que é pré-cristã e pouco bíblica.

Mais, um texto que diz "A Escritura e a Tradição da Igreja vêem..." e "Segundo o ensinamento da Igreja", etc. parece que nem tem grandes certezas.

Mas continua desfocado, João. Eu não nego a existência do mal. Digo só que anda para aí muita confusão entre demónio e diabo, confusão que não existe nos evangelhos.

Continua sem falar das possessões diabólicas e dos exorcismos. E não, no Catecismo não há mais sobre o diabo. E no Credo que rezamos aos domingos nem isso há.

João Silveira disse...

Caro Jorge, quer então dizer que o Catecismo foi feito por pessoas que não pensam, com o propósito que mais de nenhum pense. Mas no meio disto tudo há um ser pensante: o Jorge!

O Papa Bento XVI já se procunciou várias vezes sobre a existência do Diabo, mas o Jorge tem a vantagem de pensar e o Papa não. O mesmo aconteceu com os Papas Paulo VI e João Paulo II, o Jorge ganha a todos com esta vantagem pensante.

A “história do diabo” está no Catecismo sim, é só ler. Juntamente com o resto, tudo bem explicadinho de acordo com o que diz o César das Neves, mas que o Jorge tenta desdizer, até agora sem um único argumento.

Queria que descrevessemos todas as realidades visíveis e invisíveis no Credo? Era para demorar 3 meses?

Por acaso tenho um grande amigo meu que é exorcista. Mas segundo o Jorge só pode ser um charlatão. Valha-nos São Jorge!

Jorge Pires Ferreira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jorge Pires Ferreira disse...

João, você provoca-me, mas não me enerva. Eu falei do não pensar em relação a esta afirmação:


"Por detrás da opção de desobediência dos nossos primeiros pais, há uma voz sedutora, oposta a Deus, a qual, por inveja, os faz cair na morte"?

O não pensar era em relação a isto,mas vocês extrapola para o que bem lhe interessa. Mas que não corresponde ao que se discute. Enfim, fala-se de um parafuso que não encaixa e você vai até à extração do minério.

Diga-me: leva mesmo aquela afirmação a sério? O que quer dizer? Que existiram Adão e Eva? Que há pecado original? Pais? Que houve uma voz sedutora? Por inveja? De quê?

Não estou a negar nada. Só estou a perguntar.

O pouco da história do diabo contado no catecismo, "anjo decaído", mesmo que seja para levar a sério, à letra, o que duvido, é secundaríssimo na fé católica. Para usar uma metáfora desportiva, joga nos distritais. O Vaticano II, que agora tantos defendem só fala do diabo/demónio lateralmente, quando cita a Bíblia, sinal de que o assunto pouco interessava.

Sim, gostava que descrevesse todas as realidades visíveis e invisíveis. Eu dou-lhe tempo.

Tem um amigo que é exorcista? Não digo que é um charlatão porque a alternativa não é entre ser verdadeiro e ser charlatão. Há uma terceira hipótese: estar enganado. Se o seu amigo faz exorcismos a sério (alguns dizem que até o sinal da cruz é exorcismo contra o mal - não me refiro a esses), não quer dizer que seja sério ou desonesto. Isso não sei. Quer dizer é que não funciona bem da mente. Ajude-o. É uma grande obra de misericórdia que lhe faz.

Por falar em São Jorge. Ele matou um dragão, não foi? Procure lá um papa ou um concílio que fale do dragão de São Jorge.

João Silveira disse...

O meu objectivo não é provocá-lo, é apenas pô-lo a pensar.

Claro que levo essa frase a sério. E claro que há pecado original, isso é doutrina básica da Igreja. Ou como explica a nossa tendência para o mal, vem directamente de Deus? E obviamente que existiram os primeiros pais, chame-lhes adão e eva ou jaquim e manela. Leia a encíclica Humanis Generis e descubra porquê. Infelizmente a teologia do Jorge conheço-a de cor e salteado, mas pobres teólogos esses que querem negar as evidências e ficam com uma mão cheia de nada.

Recomendo-lhe uma leitura breve: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/audiences/2008/documents/hf_ben-xvi_aud_20081203_po.html.

Em alguma das matérias tratadas pelo Vaticano II havia necessidade de referir o diabo, ou de voltar a contar a sua história? Que eu saiba este catecismo é bem posterior ao VII e referências à existência do diabo não faltam.

O meu amigo exorcista é mais inteligente e mais santo do que nós os dois juntos, por isso se alguém precisa de ajuda somos nós. Ele faz exorcismos “a sério” mas antes disso encaminha as pessoas para médicos, de forma a não haver enganos. E faz também testes de despistagem, para garantir que a pessoa não quer apenas chamar a atenção. Só recebe casos de pessoas que a medicina não consegue explicar. Mesmo assim faz vários exorcismos por semana. Se o Jorge não acreditar, recomendo-lhe que vá assistir a um, desde que seja com o propósito de estar a rezar, garanto que rapidamente vai mudar de ideias.

Jorge Pires Ferreira disse...

João chegamos a alguns pontos interessantes:

1 - O texto do Papa merece ser confrontado com o do Catecismo, coisa que eu próprio farei, para mim, em primeiro lugar. Nem tudo me parece concordante. E parece abusivo, como muitos teólogos têm observado, fazer depender a Redenção do Pecado Original. A Redenção fica em causa sem o pecado original? E é preciso o pecado original para explicar o mal? Então não era o demónio/diabo? São a mesma coisa? Xi, que confusão. Digamos que não é um bom momento do magistério de Bento XVI esse de fazer depender a Redenção do pecado original. Mas é uma perspetiva entre outras.

2 - Gostava de assistir a um exorcismo, sim.
Diga-me como para:
jorgepiresf@gmail.com

Anónimo disse...

O amigo do senhor João Silveira faz vários exorcismos por semana ?com jurisdição de quem ?o senhor João silveira consegue arranjar convites para assistir a exorcismos ? quem emite esses convites ?o amigo exorcista?ou algum bispo diocesano?Faz testes de despitagem ?quem os autorizou ?eles estão adequados á nossa cultura ? quem promoveu o seu rteconhecimento?se o senhor João silveira me pudesse dar estes esclarecimentos ficava grato e eu muito humildemente atrevia-me a propor-lhe alguma atençao para o que a Igreja no seu magistério diz sobre o assunto

João Silveira disse...

Jorge, vai ter confrontar muita coisa até ver textos do Papa que contradigam o Catecismo. Ele mais do que ser inteligente é humilde.

De facto parece-me que está muito confuso. Se ler este artigo se calhar percebe melhor os erros dessa teologia em que nada existiu: http://unamsanctamcatholicam.blogspot.pt/2012/05/cardinal-pell-richard-dawkins-adam-eve.html

O diabo não tem culpa em nenhum dos nossos pecados. O máximo que pode fazer é sugerir-nos coisas, dar-nos sugestões, daí que seja também conhecido por tentador. Mas não é o diabo que nos obriga a pecar, nem nunca foi, nem poderia ser.

Vou-lhe mandar um mail, em relação ao outro assunto.

João Silveira disse...

Para alguém que nem se digna assinar os comentários este anónimo faz imensas perguntas. Resumindo:

“Jurisdição” do bispo da diocese dele, ora essa. Então quem é que dá ordens aos padres? Não existem convites para ver exorcismos, nem baldes de pipocas à porta. Existem pessoas que estão a rezar enquanto o exorcismo é feito, porque a oração ajuda a que seja mais eficaz. E podem ser necessários para ajudar, caso seja preciso agarrar na pessoa. Tenho pena que os católicos em plena sociedade de informação estejam tão desinformados em relação a estes assuntos da nossa fé.

Jorge Pires Ferreira disse...

Olá, João. Posso parecer confuso, mas não estou. O João é que diz que "o máximo que [o diabo] pode fazer é sugerir-nos coisas, dar-nos sugestões" (está a chamar diabo a quem?) e depois fala em exorcismos. Então qual é o máximo? Afinal é o tentador ou o possuidor? Os dois? O que eu sempre disse, desde o início, é que só é o tentador. Nunca o possuidor. Foi por aí que as coisas começaram. O João encarregou-se de prosseguir naquela lógica costumeira do "se há-fumo-há-fogo-oh-não-a-amazónia-já-arde-toda".

O mesmo acontece no Adão-Pecado-Jesus-Redenção. Parece que cai tudo que nem dominós. Dawkins diz isso e Bento XVI, como no texto de ontem, concorda com essa lógica, apesar de estarem em campos contrapostos. (Não estou a dizer que concordam um com o outro; estou a dizer é que de Adão a Cristo há um feito dominó para Dawkins - que não aceita Adão -; e Bento, que aceita Adão, considera que este dominó é real).

O João é como aquelas Testemunhas de Jeová (tenho respeito por elas e alguns amigos entre elas) que, confrontadas com alguma questão para a qual não estão preparadas, dizem: "Eu não sei, mas tenho lá alguém na minha igreja que sabe".

Está sempre a mandar-me links e passagens dos outros, como aqueles professores que em vez de responderem e alargarem horizontes dão títulos de livros (tive um professor de teologia que, claramente, mandava ler o que nunca tinha lido e depois admirava-se com o que lia nos testes). Mas eu por vezes até leio os textos dos links que me envia, ainda que inócuos, inconsequentes e quase sempre pouco esclarecedores, como se uma coisa mil vezes repetida passasse a ser verdadeira (para alguns, pelos visto, é crida).

Aguardo o outro mail.

João Silveira disse...

Então o Jorge alerta para a confusão que existe entre o diabo e os demónios depois cai nessa esparrela?

Alguma vez eu disse que o diabo possuia pessoas? Os pontos que citei do catecismo, assim como as frase do Papa explicam muito bem quem é o diabo.

As possessões e os demónios são outro parágrafo. É estranho como pessoas tão informadas ignorem totalmente tudo isto. E nenhum demónio pode possuir a pessoa sem que esta tenha dado assentimento, nomeadamente tendo recorrido a magia ou adivinhações, pondo a sua esperança nessas coisas, em vez de a pôr em Deus.

Quem frequenta os sacramentos e não se mete nessas coisas está longe do poder demoníaco, pode respirar de alívio.

Ó Jorge, tanta lenga-lenga para não dizer nada? Repare que em tantas frases não conseguiu arranjar nenhuma alternativa a adão, ao pecado original e à ideia de Jesus.

Eu como testemunha de Jeová vejo o Jorge como aqueles “cientistas” que dizem: - Ah o Einstein está errado. - Como? - Está errado, digo-vos. - Então? – Aquilo não é assim, isso era antigamente que pensavam dessa forma. - Então como é? – Não é assim, é de outra forma. – Qual? – O Einstein está errado, temos que mudar de paradigma...

Anónimo disse...

cuidado que o João discípulo amado silveira conhece um bruxo que faz umas macumbas caso o pessoal não lhe de razão ,ó rapaz tu metes medo com tanta arrogância, que até cheira a enxofre! enjoa tanta mesquinhez…não tens clientela no teu blog senza e vens para aqui á procura de cruzadas????????????????????????????????????’porque não voltas para o teu blog e esperas lá quietinho que alguém ponha os olhos nos teus dotes de belo escritor? enjoas sabias?

Anónimo disse...

O gato é lindo. Como se chama ?

Bernardo Motta disse...

Jorge,

A Igreja Católica sempre defendeu e ensinou como verdades de doutrina que:

a) Existem anjos fiéis a Deus e anjos que trairam Deus; os demónios são estes últimos

b) O príncipe dos anjos, outrora fiel a Deus, rebelou-se contra Ele e trouxe uma catrefada de anjos rebeldes atrás; quando falamos no Diabo, falamos desse anjo caído

c) esse mesmo Diabo tentou os nossos primeiros pais

d) eles cederam à tentação, e a isso chama-se pecado original

e) este último fez a humanidade perder o estado de graça do qual beneficiava no Éden

f) por isso mesmo, Deus fez-se Homem em Jesus Cristo, para nos redimir; ou seja, sem pecado original, não há necessidade de redenção, pois Adão e Eva viviam na graça de Deus antes de pecarem; o Génesis torna claro que os nossos pais foram tentados pela serpente, imagem alegórica para o Diabo, como todos sabemos

g) Cristo exorcisou inúmeros demónios, pelo que os exorcismos são inegáveis para qualquer cristão coerente; em alternativa, podemos dizer que os Evangelhos não são factualmente fiáveis (e abrimos uma caixa de Pandora), ou então podemos dizer a coisa absurda que é a de que Cristo confundiu possessões demoníacas com doenças psicológicas (que Cristo não era omnisciente,logo, que Cristo não era Deus)

Eu batalho comigo mesmo para tentar compreender o que leva um cristão inteligente e culto como o Jorge a negar doutrina cristã básica, e de sempre, e sobretudo, para quê?

Exactamente, o que é que o Jorge ganha ao deitar fora doutrina cristã de sempre? Ganha aplausos dos não cristãos? Ganha a aprovação dos pseudo-sábios dos nossos tempos? Ganha a aprovação dos teólogos modernistas e hereges que fazem buracos na barca de São Pedro?

Não há rigorosamente nada de irracional na crença na realidade do Diabo, dos demónios, das possessões demoníacas. A distinção entre Diabo e demónios é real (o Diabo é o chefe dos demónios), e o Novo Testamento conta-nos amplas histórias referentes ao Diabo e aos demónios.

As possessões são factuais, e os relatos sobre elas são inúmeros. Conheço pessoalmente pelo menos dois sacerdotes, um deles exorcista que já mo atestou pessoalmente, e o outro, que não sendo exorcista, já assistiu a exorcismos.

Para além disso, temos o facto bem atestado de que vários Papas (São Pio X, João Paulo II, só para referir dois) realizaram exorcismos, e que o exorcista da Diocese de Roma (Gabriele Amorth) faz dessa actividade o seu mister há décadas sob o olhar benevolente do Santo Padre.

Reitero a minha pergunta: que ganha o Jorge, com estas acrobacias teológicas? É que é tão óbvio que os pontos acima são doutrina cristã de sempre, que me custa ver o Jorge a descrever uma doutrina nova como se ela fosse cristã.

Um abraço sincero,

Bernardo Motta

Bernardo Motta disse...

Jorge,

Escrevi amplamente sobre o tema do Diabo, expondo as inúmeras razões que tornam racional a crença na existência dessa criatura maldita, e na existência do seu séquito de ajudantes.

http://espectadores.blogspot.pt/search/label/Diabo

Queira, por favor, ter a paciência de percorrer este material, e de me apontar os meus erros. Estou sempre aberto à necessidade de corrigir os erros das minhas ideias.

Um abraço,

Bernardo Motta

Jorge Pires Ferreira disse...

Caro Bernardo,

faz-me um convite simpático, não de emendar erros, pois não tenho esse pretensão, mas de discutir perspectivas.

Não poderei corresponder ao convite assim tão de repente, pois não só não vivo disto como ao olhar só para a alínea g) me apercebo que seria um trabalho sem fim. Nem saberia por onde começar. Ainda por cima em assuntos cheios de alçapões.

Passarei pelo seu blogue, mas desde já deixo claro que as minhas discussões limitam-se ao meu blogue.

Retribuo o abraço.

Bernardo Motta disse...

Caro Jorge,

Usou o termo "simpático". Eu queria começar por apontar um holofote para essa palavra: simpático. Se é verdade que eu não escrevo com o fito de ser simpático (escrevo com o fito de procurar, entender e depois propagar a verdade), também é verdade que considero elementar o uso de uma sincera e genuina atitude de simpatia.

Conheço o João Silveira há vários anos, e é por causa da presença do João nas suas caixas de comentários que eu voltei a ler o seu blogue, que já não lia há muitos anos.

Se estamos aqui a conversar, eu devo-o ao João.

O João, e digo-o porque conheço bem a posição dele, está com uma atitude em tudo idêntica à minha: amor à Igreja (ou seja, amor a Cristo), fidelidade ao Magistério (ou seja, fidelidade à verdade), e uma genuína força que nos leva à correcção fraterna dos nossos irmãos na fé que, inadvertidamente, e em muitos casos com toda a boa vontade, podem estar sob o efeito de erro, num ou noutro aspecto da doutrina.

Erros todos os cometemos.
Eu mesmo, há uma década, já partilhei da maior parte dos erros que agora lhe aponto. Quem está livre de erros cometidos no passado que atire a primeira pedra!

Já passei por esses erros. Ultrapassei-os, e graças a Deus, hoje compreendo melhor o que antes não compreendia. E é uma obrigação moral, para mim, vir aqui partilhar consigo essa minha experiência. Eu não sei viver de outro modo. Detesto tanto o efeito nocivo que um erro tem em mim, sobretudo um erro de doutrina, como o efeito nocivo que esse erro tem na vida de um outro meu irmão ou irmã em Cristo.

Erros de doutrina ferem a unidade eclesial. Não é apenas uma questão da má imagem que damos para os não cristãos. É verdade que damos essa má imagem, e não poucos amigos ateus já me apontaram, por exemplo, casos como este, em que há cristãos que hoje em dia não aceitam certos aspectos (alguns mesmo centrais como este) da doutrina cristã de sempre. Perdemos credibilidade, e isso é mau. Mas o pior não é isso, o pior é traírmos Nosso Senhor, que nos pediu a unidade. Temos que ser um só, como Cristo é um só com o Pai e com o Espírito Santo.

Uma das formas em que somos um só é no Amor. Creio que não é esse o problema que nos traz aqui agora. Outra das formas de mostrarmos que somos um só passa por termos uma e uma mesma doutrina.

(continua)

Bernardo Motta disse...

(continuação)

Quem define o conteúdo dessa doutrina? Em última análise, terá que ser sempre a Tradição viva do Magistério da Igreja Católica, plasmada no Santo Padre e nos Bispos a ele unidos por toda a Terra e através dos séculos.

O cristão deve usar da razão, e não deve aceitar algo irracional. Mas, antes disso, o cristão deve verificar bem se não poderá dar-se o caso de a sua razão estar pouco esclarecida. Nesses casos, a atitude racional e prudente consiste na fidelidade ao Magistério que nos pede a Lumen Gentium do Vaticano II. Esta Constituição Dogmática desse grande Concílio diz o seguinte acerca do ministério episcopal de ensinar, que cabe aos Bispos unidos ao Papa:

«Ensinando em comunhão com o Romano Pontífice, devem por todos ser venerados como testemunhas da verdade divina e católica. E os fiéis devem conformar-se ao parecer que o seu Bispo emite em nome de Cristo sobre matéria de fé ou costumes, aderindo a ele com religioso acatamento. Esta religiosa submissão da vontade e do entendimento é por especial razão devida ao magistério autêntico do Romano Pontífice, mesmo quando não fala ex cathedra; de maneira que o seu supremo magistério seja reverentemente reconhecido, se preste sincera adesão aos ensinamentos que dele emanam, segundo o seu sentir e vontade; estes manifestam-se sobretudo quer pela índole dos documentos, quer pelas frequentes repetições da mesma doutrina, quer pelo modo de falar.» (Cap. III)

Podemos ler: "religiosa submissão da vontade e do entendimento". Isto não deixa margem para dúvidas sobre a atitude que o cristão coerente deve ter acerca do tema em apreço. O cristão coerente deve aceitar como real a existência do Diabo e dos demónios, e das possessões diabólicas ou demoníacas (acho artificial e irrelevante distinção que se quer forçar entre ambas). Diria ainda que por "religiosa submissão da vontade e do entendimento", de forma alguma se deve ler que o cristão deve aceitar algo irracional como sendo verdadeiro por causa da obediência a uma autoridade. Esse erro teológico é, na verdade, uma heresia que dá pelo nome de fideísmo. A expressão deve ser lida como a afirmação da obrigação de obediência ao Magistério em questões, não irracionais, mas em questões que o nosso intelecto e a nossa cultura ainda não permitem compreender plenamente, e no entretanto, devem ser aceites de forma humilde e submissa.

Faltou dizer uma coisa, que espero que seja não polémica entre nós: os exemplos que temos vindo a dar, de testemunhos em prol da realidade do Diabo e dos demónios, vindo quer das Escrituras, quer da Tradição da Igreja, são exemplos que pertencem à esfera do Magistério da Igreja Católica. O Catecismo está incluído nesse Magistério, assim como os textos conciliares, e como toda e qualquer declaração de um Bispo, em união com o Santo Padre e com a tradição milenar da Igreja, quando esse Bispo se pronuncia sobre temas de doutrina ou de costumes (de moral).

(continua)

Bernardo Motta disse...

(continuação)

Queria deixar uma nota final. O Jorge diz:
"faz-me um convite simpático, não de emendar erros, pois não tenho esse pretensão, mas de discutir perspectivas."

Eu não quero discutir perspectivas. Usando as suas próprias palavras, Jorge, ou o Diabo existe ou não existe. Perante um facto, ou a negação desse facto, não há "perspectivas". Eu não pretendo que isto seja algo relativistico ou subjectivo. Não vou ficar-me pelo discurso vago da "perspectiva do Bernardo" e da "perspectiva do Jorge", e por três razões centrais:

1) Acredito que se pode defender (ou atacar) objectivamente este aspecto da doutrina cristã, e fazê-lo de forma racional e minimamente imune a opiniões ou sentimentos pessoais

2) Acredito que, acima da "perspectiva do Bernardo" e da "perspectiva do Jorge", está o ensinamento do Magistério, voz viva dos ensinamentos de Cristo

3) Acredito que é incomparavelmente mais importante a verdade objectiva dos factos, a verdade acerca da realidade, natural ou sobrenatural, do que as nossas perspectivas pessoais

Um abraço em Cristo,

Bernardo Motta

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