sábado, 12 de maio de 2012

Anselmo Borges: A outra "Santíssima Trindade"

Texto de Anselmo Borges no DN de hoje (aqui):

Salvo excelentes excepções, como Frei Bento Domingues, os teólogos em Portugal não se pronunciam sobre a crise económico-financeira. Não é o caso dos teólogos em Espanha. Alguns exemplos.
González Faus

1. J. I. González Faus, da Faculdade de Teologia da Catalunha, faz uma crítica acérrima à presente situação. Voltando ao documentário célebre "Inside Job", num artigo ácido que intitula "Agencias de rating o de raping?", denuncia os Bancos de investimento que vendiam activos tóxicos, sabendo-o. Lá estavam os peritos da Moody's e Standard and Poors, dizendo: "são AAA (fiabilidade máxima)." Deste modo, as três agências (Moody's, S & P e Fitch) ganharam milhões. Elas poderiam ter terminado a festa, dizendo: vamos ajustar os critérios. Mas não; pelo contrário, deram triplo A a Madoff, dias antes da sua queda. Meses antes da derrocada de Lehman Brothers, o próprio FMI declarou que estava "em boa situação financeira e os riscos parecem baixos".

Por isso, na arbitragem das agências, ao contrário do que deveria suceder, "é preciso partir do pressuposto da sua parcialidade e desonestidade, a não ser que se prove o contrário". O problema é que vivemos num sistema montado sobre a agressão do capital insaciável. "Se o Banco me emprestar dinheiro e eu o não devolver, tem direito a ficar com o que é meu e a continuar a exigir-me mais. Os que colocaram o seu dinheiro numa Caixa ou num Banco, se estes o não devolverem, não têm direito a nada." Cita o Papa João Paulo II: "A Igreja ensina a prioridade do trabalho frente ao capital: o trabalho sempre é uma causa eficiente primária enquanto o capital é só um instrumento." Mas comenta: "Isto só está em vigor a partir de uma ideia de Deus que nem os bispos partilham." E acrescenta: "Visto de Wall Street, o trabalhador é apenas uma ferramenta. E as ferramentas não têm dignidade."

A quem lhe atira que é um ignorante ou analfabeto económico responde: "Tive uma irmã gémea que morreu de cancro por culpa de uma clara falha médica. Quando lhe foi comunicado o diagnóstico fatal, limitou-se a dizer: 'Eu não saberei de medicina, mas quando digo que algo me dói é porque dói; mas ao médico não doía'. Receio que aos nossos médicos económicos lhes não dói."
José M. Castillo
2. José M. Castillo, da Universidade de Granada, pergunta: "Quem são os mercados?" O que se sabe é que, uma vez que o que interessa é o lucro, as pessoas investem somas fabulosas no capital financeiro e, neste momento, "ninguém sabe até onde chega a montanha imensa de dinheiro que os mercados manejam". O que é facto é que o movimento de capitais financeiros se move pelo mundo sem qualquer controlo, e um indivíduo, a partir de casa, com o seu computador, pode transtornar e afundar a estabilidade económica e as poupanças de milhões de pessoas.

Que fazer? Afinal, "a corrupção maior e mais perigosa não é a desta ou daquela pessoa, deste ou daquele político, desta ou daquela empresa. A corrupção mais grave é a corrupção do sistema económico em que estamos metidos", que enriquece mais os ricos e empobrece mais os pobres. Quem manda no mundo não são os políticos, mas a economia e a finança. "É urgente que nós todos pressionemos, cada um como puder e sempre com a mais transparente honradez, os que gerem o poder económico e político, para que regulem e controlem os mercados, aumente a produtividade e, em todo o caso, que o que se produz não beneficie tanto uns poucos à custa da ruína dos outros."
Xabier Pikaza
3. Xabier Pikaza, da Universidade de Salamanca, reflecte sobre a nova Trindade, frente à Trindade cristã. "A Trindade cristã era formada por Deus Pai, o Filho Jesus Cristo (que éramos todos os seres humanos) e o Espírito Santo (que era a comunhão ou amor entre Deus e os seres humanos, entre todos os seres humanos). Mas agora surgiu uma Trindade diferente, formada por Deus-Capital (que não é Pai, mas monstro que tudo devora), pelo Filho-Empresa, que não redime, mas produz bens de consumo ao serviço dos privilegiados do sistema, e pelo Espírito Santo-Mercado, que não é comunhão de amor, mas forma de domínio de uns sobre os outros".


Nota deste blogue: As fotos dos teólogos foram tiradas no colóquio sobre "Quem foi (é) Jesus Cristo", em outubro do ano passado, em Valadares (V. N. Gaia). O colóquio foi organizado precisamente por Anselmo Borges.

3 comentários:

Anónimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=KqQmQ63z4DE&feature=share

Anónimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=NPt5npECegU&feature=youtu.be

Anónimo disse...

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http://www.jornalfraternizar.pt.vu/

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