sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Steve Jobs e o fundador dos jesuítas

O padre Antonio Spadaro, novo director da revista "La Civiltà Cattolica", escreveu no seu blogue sobre umas semelhanças entre as atitudes de Steve Jobs e algumas frases de Inácio de Loyola. Reproduzo o texto que retirei daqui:

“Lembrar que eu estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para me ajudar a fazer grandes escolhas na vida": essas são as palavras que Steve Jobs pronunciou no dia 12 de junho de 2005 em um famoso discurso aos formandos de Stanford. Esse commencement address [discurso de formatura] foi, para ele, uma oportunidade única para falar sobre si mesmo. Reler esse discurso no dia em que Steve Jobs deixou esta terra é, talvez, uma boa forma para honrá-lo. 
E Steve tem razão. As suas palavras ecoam as de Inácio de Loyola, o fundador dos jesuítas, que considera que uma forma de fazer uma boa escolha na vida consiste em fazer "como se eu estivesse à beira da morte; e assim, regulando-me por ela, tomarei com determinação a minha decisão" (Exercícios Espirituais, 186). A morte não é, no caso de Inácio e de Steve, um espantalho, mas sim a constatação de que os temores, os embaraços e as futilidades desaparecem perante o pensamento da morte, e só resta o que realmente conta, aquilo que para nós é realmente importante. 
Não sei se Jobs era um crente. Desse discurso, não se deduz muita coisa. Aqui, eu falo simplesmente da disposição interior a fazer escolhas significativas na vida, apontando para aquilo que importa. Nenhum ser humano, crente ou não crente, pode fazer escolhas na vida pensando em si mesmo como imortal. 
E Steve diz isso de uma maneira fantástica, com uma pequena frase do nada: "Você já está nu". Exato. Lemos no Livro de Jó: "Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei para o seio da terra" (1, 21). Considerar a nossa nudez é o caminho de uma sabedoria de vida, o único que é capaz de nos fazer dizer, como Steve fez no intraduzível encerramento do seu discurso: "Stay hungry. Stay foolish", isto é, permaneçam com fome, permaneçam tolos. 
Sobretudo, o pensamento de estarmos nu e sermos mortais nos leva a viver intensamente. Steve diz: "Você tem que encontrar o que você ama". E parece ecoar Inácio de Loyola que, em seus Exercícios Espirituais, insiste constantemente em entender e perguntar "o que eu quero e desejo" verdadeiramente (por exemplo, Exercícios, 48). 
Só quem sabe que a própria vida é nua e sempre será não perderá tempo para fingir de se cobrir, de ser jovem eternamente, de pensar que se é o dono do mundo, mas saberá que a vida tem em si uma fome profunda. É essa fome, reconhecida expressamente na sua fé profunda, que leva Inácio de Loyola a escrever: "Prefiro ser considerado vão e louco por Cristo, que por primeiro foi tudo por tal, a ser sábio e prudente segundo este mundo" (Exercícios espiritual, 167). 
O que importa é ter uma visão neste mundo e perceber que ela se torna uma missão para fazer deste mundo um lugar melhor.

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