Baptizar ou não baptizar crianças? Bento Domingues diz que sim, no "Público" de hoje, mas com uma argumentação muito fraquinha. Apresenta o velho argumento da escolaridade, com novos exemplos: "Ninguém acha estranho que estes [os pais] não esperem pela decisão livre dos filhos para hábitos de higiene, de alimentação, das regras de convívio, da inscrição nos infantários, etc." Sem dúvida que tal argumento poderia ser utilizado para defender a educação religiosa dos filhos, mas quanto a mim não vale para a decisão religiosa - que é substancialmente diferente. Na mesma linha do dominicano, os pais deveriam poder começar logo por inscrever os filhos na ordem profissional ou num clube - como aliás alguns fazem, porque há fanáticos para tudo.
Por outro lado, Bento Domingues diz que baptizar é afirmar a precedência do amor de Deus, que é "anterior a qualquer caminhada do ser humano", argumento que um leitor deste blogue aqui deixou há tempos. Não compreendo bem o que está em causa. O amor de Deus é universal, para baptizamos e não baptizados. Só pode ser. Se os pais (e a Igreja) pretendem comunicar isso com o baptismo dos filhos, não estarão equivocados? Qual a identidade do baptismo? O baptismo é o sacramento da adesão de uma pessoa a Jesus Cristo (morre-se e ressuscita-se com Ele) e a uma comunidade (os cristãos, no meu caso, na versão católica) como consequência (tal como o perdão dos pecados é uma consequência do encontro com Jesus Cristo). Não vejo como a decisão possa ser tomada de outro modo que não de um modo consciente e pessoal, mesmo que essa consciência tenha diferentes graus.
3 comentários:
Criado à imagem e semelhança de Deus, todo o homem é filho de Deus. No baptismo, reconhece, assume, publicamente, essa paternidade, com as suas consequências.
Baptizar as crianças quando muito pequenas está errado. Como sacramento deveria, alem de muitos outros sinais, ser um sinal de fé de quem o recebe. Quem recebe o Baptismo é a criança e não os pais, os padrinhos ou a comunidade cristã; até porque estes podem renovar o seu Baptismo todos os anos pela Páscoa na Vígilia Pascal em que se renova os compromissos baptismais na Liturgia Baptismal. O Baptismo não serve para redimir as crianças do Pecado Original, não serve para as salvar do Limbo ou Purgatório, não serve para as apresentar á comunidade cristã... tudo isto, e mais razões invocadas, são redutórias do simbolismo e importância que tem o Baptismo na vida de um Cristão. Não concordo que as crianças sejam baptizadas quando recem nascidas. Se os pais são cristãos, mais cedo ou mais tarde, pelo próprio exemplo dos pais, as crianças pela sua própria curiosidade e processo natural de aprendizagem, vão fazer perguntas aos pais e pedir-lhes as razões da sua fé. Diga-se já que muitos pais não as têem, e por vezes parece que é preciso inventar "cegonhas" para explicar a importância de Jesus e das nossas opções de vida cristãs. Aqui começa um processo de catequese, em familia, de ensino da via cristã. Concordo que assim que os pais compreenderem que os filhos estão prontos a serem baptizados o possam propor aos pequenos cristãos, que então poderiam iniciar uma catequese, até diria com a presença dos pais, em Igreja de preparação para o Baptismo. Se alguma criança, jovem ou adulto, não quer ser baptizado, ir à catequese, preparar-se para o Crisma, procurar uma vocação, seja o Matrimónio ou Ordenação, ir á Missa, e já nem falemos de Confessar e Unção dos enfermos que muitos cristão não praticam nem pedem, então deveriamos nós perguntar que tipo de exemplo damos como Cristãos e como Igreja? Lembremo-nos que Jesus Encarnou num ambiente familiar, também hoje deveriamos orar sobre o significado da vida oculta de Jesus que crescia em sabedoria na casa de seus pais, obediente a seus pais.
Caríssimos,
Vendo tantas certezas, só me assaltam perguntas...
Se eu tivesse nascido na India, era hindu? Estaria certamente num caminho de salvação, mas estaria naquele que acredito ser o caminho da salvação?
É que assim, importa muito ser cristão ou ser budista?
Porque se é cristão?! Por tradição? Por educação? Por imitação? Porque aprendi a sê-lo?
E porquê evangelizar outros povos!? Para quê dar-me ao trabalho de espalhar a Boa Nova a todos os povos se já há caminhos de salvação aí, em todos os povos?...
Porquê continuar a ser cristão (e católico!), se há outros caminhos aparentemente mais satisfatórios para o meu bem-estar, ou até para a minha felicidade?
Será que afinal ser cristão é um caminho de verdadeira felicidade? Acredito nisto?
E se é um caminho de verdadeira felicidade, um tesouro - como dizem os antigos - porque não partilhar com os outros? Porque não partilhar este tesouro com os próprios filhos? Porquê privá-los de um sinal (sacramento) que os torna filhos de Deus (adesão a Cristo) e os recebe na grande família cristã? Porquê deixá-los em lista de espera? O sacramento é um mero rito teatral ou é a realização real, concreta e visível (sacra-mens/mysterium e symbolon) de uma acção divina? Acredito mesmo nisto?
Todos somos filhos de Deus porque somos seres-humanos? Então e se eu for ateu? De que me valeria a apostasia?
Precisei de ter 15/18 anos para me tornar cristão? E tomei-a de facto? E depois disso, não tomei mais decisão nenhuma? Arrumei o assunto? Acabaram-se as dúvidas, as lutas, os combates, os desafios, as quedas, as desistências, as mortes e os renascimentos?
E como baptizado acabaram-se os meus momentos de êxtase? Não tenho acesso a mais instantes de arrebatamento que me modificam a vida?
Mas, e se eu quisesse ser desbaptizado? Não posso renunciar? Estarei imune a conversões religiosas?
Baptizar ou não baptizar...
Se baptizar traz dissabores conjugais e/ou familiares, sinceramente, não se baptize.
Se baptizar significa trazer alegria, paz e amor para o seio de uma família, estamos à espera de quê?...
Saudações,
Paulo Campos
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