quarta-feira, 14 de setembro de 2011

14 de Setembro de 1998. João Paulo II publica a encíclica "Fides et ratio"


João Paulo II assinou no dia 14 de Setembro de 1998 aquela que foi a sua penúltima encíclica, "Fides et ratio", sobre as relações entre fé e razão. A encíclica é chamada por alguns "Fisichella et Ratzinger", por ter sido em grande parte elaborada por Rino Fisichella (ordenado bispo uns dias antes da publicação) e cardeal Joseph Ratzinger.
Começa assim:
A fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade.
É um documento fundamental para quem estuda teologia e filosofia cristã, mostrando, por um lado, que na teologia cristã sempre houve diálogo, ainda que por vezes tenso, entre fé (Revelação) e razão, que a teologia não pode prescindir da razão e que a filosofia fica coxa, isto é, desorientada e relativista, se não se relacionar com Revelação. Quanto Bento XVI fala em relativismo aproxima-se muito de alguns parágrafos deste encíclica - como o 81:
Deve ter-se em conta que um dos dados mais salientes da nossa situação actual consiste na «crise de sentido». Os pontos de vista, muitas vezes de carácter científico, sobre a vida e o mundo multiplicaram-se tanto que estamos efectivamente assistindo à afirmação crescente do fenómeno da fragmentação do saber. É precisamente isto que torna difícil e frequentemente vã a procura de um sentido. E, mais dramático ainda, neste emaranhado de dados e de factos, em que se vive e que parece constituir a própria trama da existência, tantos se interrogam se ainda tem sentido pôr-se a questão do sentido. A pluralidade das teorias que se disputam a resposta, ou os diversos modos de ver e interpretar o mundo e a vida do homem não fazem senão agravar esta dúvida radical, que facilmente desemboca num estado de cepticismo e indiferença ou nas diversas expressões do niilismo.
Em consequência disto, o espírito humano fica muitas vezes ocupado por uma forma de pensamento ambíguo, que o leva a encerrar-se ainda mais em si próprio, dentro dos limites da própria imanência, sem qualquer referência ao transcendente. Privada da questão do sentido da existência, uma filosofia incorreria no grave perigo de relegar a razão para funções meramente instrumentais, sem uma autêntica paixão pela busca da verdade.
Na perspectiva desta encíclica, só a teologia, isto é, a reflexão crente sobre a Revelação e o transcendente, pode salvar a filosofia do relativismo e, em última análise, do cepticismo e do nihilismo.


Outros acontecimentos deste dia:
- Publicação da encíclica "Laborem exercens", em 1981
- Morte de Adriano VI, em 1523,  último Papa não italiano antes de João Paulo II

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