domingo, 15 de maio de 2011

O importante num bispo não será seguir o estilo de Jesus?

Um leitor anónimo comentou o texto sobre o bispo australiano D. William Morris. Porque comungo totalmente com o que o leitor diz (e é bom ouvir elogios) e coloca ainda mais questões, chamo para aqui o que deixou na caixa de comentários:
Parabéns pelo tratamento dado a este caso. É pena que a nossa imprensa tivesse ficado por meras referências telegráficas. Este bispo há-de ser recordado, num futuro que esperamos não muito distante, como precursor de uma profunda reforma na Igreja. 
No fundo, ele é removido por não seguir normas eclesiásticas. Mas o importante num bispo não será seguir o estilo de Jesus? Ora, em Jesus nada do que praticou D. Morris está desautorizado. É natural que o Papa tenha o seu pensamento. O que não é curial é que estigmatize quem pensa e age de modo diferente. 
Se a Igreja é o povo, com que legitimidade é que se afasta alguém apreciado pelo povo? Como é que se envia um bispo americano para estudar uma questão na Austrália? O que pensaria Jesus disto? E os apóstolos? Será que é na Igreja que menos encontramos Jesus? 
Só quando houver um grande clamor popular a Igreja mudará. Um clamor sereno, mas determinado poderá mudar muita coisa. O poder é sensível às multidões, e o poder eclesiástico gosta particularmente dos aplausos. Creio que foi Hans Kung (outro proscrito) que disse que, na Igreja, um não conta, cinco levam a pensar e cinquenta podem mudar uma situação. 
Depois, estes métodos de delação fazem lembrar os regimes ditatoriais. Ora, Jesus veio para nos libertar. Não pondo em causa a seriedade de João Paulo II, há que reconhecer que o seu modelo de Igreja não é o único. E não será o mais próximo de Jesus. E a santidade não pode ser aferida apenas pela relação com a instituição Igreja. A santidade decorre, antes de mais, do seguimento de Jesus. 
Parabéns pelo blog e continue a trazer para as clareiras o que está na penumbra.

7 comentários:

Anónimo disse...

Só mais um tópico que valeria a pena introduzir nesta discussão.
Além da ausência de matéria para esta demissão, subsiste a sensação de injustiça.
Todos nós conhecemos padres e bispos que defendem o mesmo que D. William Morris defende e, não obstante, não são incomodados.
Há bispos que sabem, perfeitamente, que muitos dos seus padres praticam, por exemplo, absolvições colectivos. Há mesmo indícios de uma conivência táctica com tais procedimentos.
Ora, isto revela duas coisas:
1. D. William Morris tem a coragem de assumir em público o que outros defendem em rpivado; mas, como sempre, a coragem a catigada.
2. A delação continua a ser método de decisão na Igreja de Jesus. Enquanto D. William Morris foi denunciado, há muitos que têm a «sorte» de não o ser. Ou seja, Roma decide em função da delação.
Será isto cristão?
Um último ponto, já agora, remete-nos para o procedimento na escolha dos bispos.
Certamente de D. William Morris já teria este pensamento antes da nomeação. Não faltou, pois, quem o considerasse de boa doutrina e fiel a Roma. Será que estes procedimentos secretos (que, depois, acabam por o não ser) continuam a fazer sentido?
As pessoas pronunciam-se em função da simpatia (ou antipatia) do candidato.
O que é estranho é que, à luz do que tem vindo a público. D. William Morris não falhou na caridade, na simplicidade, no amor pelos pobres. Isto é, não se afastou de Jesus.
Onde terá «falhado» foi na defesa de um caminho diferente para a Igreja, sem entrar em litígio com a sua autoridade. Não se afastou de Jesus, apenas se distanciou de alguns preceitos da Igreja.
Mas, para a Igreja, parece que é pior falhar para com ela do que falhar para com Jesus.
Sinais!

Anónimo disse...

(correcção)

Só mais um tópico que valeria a pena introduzir nesta discussão.
Além da ausência de matéria para esta demissão, subsiste a sensação de injustiça.

Todos nós conhecemos padres e bispos que defendem o mesmo que D. William Morris defende e, não obstante, não são incomodados.

Há bispos que sabem, perfeitamente, que muitos dos seus padres praticam, por exemplo, absolvições colectivas. Há mesmo indícios de uma conivência táctica com tais procedimentos.

Ora, isto revela duas coisas:
1. D. William Morris tem a coragem de assumir em público o que outros defendem em privado; mas, como sempre, a coragem é castigada.
2. A delação continua a ser método de decisão na Igreja de Jesus. Enquanto D. William Morris foi denunciado, há muitos que têm a «sorte» de não o ser. Ou seja, Roma decide em função da delação.
Será isto cristão?

Um último ponto, já agora, remete-nos para o procedimento na escolha dos bispos.

Certamente que D. William Morris já teria este pensamento antes da nomeação. Não faltou, pois, quem o considerasse de boa doutrina e fiel a Roma. Será que estes procedimentos secretos (que, depois, acabam por o não ser) continuam a fazer sentido?

As pessoas pronunciam-se em função da simpatia (ou antipatia) do candidato.

O que é estranho é que, à luz do que tem vindo a público. D. William Morris não falhou na caridade, na simplicidade, no amor pelos pobres. Isto é, não se afastou de Jesus.

Onde terá «falhado» foi na defesa de um caminho diferente para a Igreja, sem entrar em litígio com a sua autoridade. Não se afastou de Jesus, apenas se distanciou de alguns preceitos da Igreja.

Mas, para a Igreja, parece que é pior falhar para com ela do que falhar para com Jesus.

Sinais!

Anónimo disse...

Repito: existe um código de direito canónico. As regras do jogo são as que estão escritas. Escrevam o que quiserem neste blogue, mas promover a absolvição geral em alternativa à confissão individual e achar que é correcto só pode estar a brincar com coisas sérias. A Igreja não é nenhum talk show e isso distingue-a de todas as outras Instituições. Quer se goste ou não...

Jorge Pires Ferreira disse...

Caro amigo, claro que existe um direito canónico cuja primeira regra, não escrita no código mas escrita por exemplo nos tribunais eclesiásticos é: "A suprema lei é a salvação das pessoas" - estou a pensar na frase similar que está escrita no tribunal eclesiástico da diocese onde moro. Ora, o direito canónico prevê a absolvição colectiva, e, talvez não saiba, mas alguns teólogos defendem que a confissão dos pecados, no início da Eucaristia, que é o sacramento maior, também os perdoa... Dispensando a absolvição individual com a dicção dospecados, que, como saberá, é uma "invenção" irlandesa. Viveu-se quase um milénio sem ela. Quero com isto dizer que é preciso extravazar a fixidez de um direito canónico que, em muitos aspectos é injusto. (Sabia que, até 1983, à letra do direito canónico em vigor, os filhos dos talhantes não podiam ir para o seminário? É só uma das aberrações) Basta pensar que os processos canónicos são feitos sem o conhecimento e o poder de resposta dos visados. Mais, quem os faz é quem os defende e quem julga. O que, para uma justiça minimamente justa, é uma gravíssima limitação. Muita gente já tem dito isto.Só estou a repetir.

Anónimo disse...

Bem, e se formos mais atrás no tempo, altura houve em que apenas existia uma só remissão dos pecados na vida de um cristão...
Concordo com tudo o que diz sobre o Direito Canónico, acrescentando apenas que mesmo ele tem sido objecto de revisão - 1917 altura em que surgiu e 1983 quando foi revisto por João Paulo II. E provavelmente, haverão mais alterações de pormenores a realizar.
Só não compreendo o que quer dizer quando afirma: «os processos canónicos são feitos sem o conhecimento e o poder de resposta dos visados. Mais, quem os faz é quem os defende e quem julga.» Se puder, pode explicar melhor esta questão no seu blog?

Um abraço,
Paulo C.

Anónimo disse...

Então se a confissão é uma invenção irlandesa o que é a Eucaristia tal como a conhecemos hoje? Não vale a pena andar com rodeios porque nesta matéria têm-se feito algumas afirmações muito "ligeiras". Nunca fui muito Ferrenho do direito canonico, mas aconselho-vos a deitar uma olhadela a um livro que é muito acessível mas muito claro: Derecho Paroquial - Jose San Jose Prisco. Com o devido respeito, creio que só se têm dito disparates.

paulo disse...

Concordo com o post. É gritante a falta de regras democráticas dentro da Igreja. E ainda mais o facto de não existirem regras de direito canónico que assegurem um processo justo. Como pode a Igreja clamar justiça na sociedade se não a aplica dentro de portas?
E quantos teólogos João Paulo II não mandou calar, conduzindo ao seu afastamento da Igreja, com claro empobrecimento desta? Recordo só Leonardo Boff e Bernard Haring.

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