A ortodoxia não é, apenas (como muitas vezes se afirma), a salvaguarda da moralidade e da ordem, mas, também, o único guarda lógico da liberdade, da inovação e do progresso. Se desejarmos derrubar um próspero tirano, não o poderemos fazer com a nova doutrina da perfectibilidade humana: fá-lo-emos apenas com a velha doutrina do pecado original. Se desejarmos arrancar pelas raízes crueldades inatas ou erguer do marasmo em que jazem populações perdidas, não o poderemos fazer com a teoria científica de que a matéria precede o espírito; fá-lo-emos com a teoria sobrenatural de que o espírito precede a matéria. Se desejarmos, inclusivamente, acordar um povo para uma constante vigilância social e para uma luta sem tréguas, nada conseguiremos com as teorias da imanência de Deus ou da Luz Interior, porque estas são, quando muito, razões para contentamento; temos de insistir sobre a transcendência de Deus e o fulgor que flutua e se escapa: isso significa o descontentamento divino. Se desejarmos, particularmente, radicar a ideia dum equilíbrio generoso contra a ideia duma autocracia pavorosa, teremos de ser trinitários e nunca unitários (...). Se queremos, ainda, exaltar o proscrito e o crucificado, temos de nos lembrar de que um verdadeiro Deus, e não um simples sábio ou herói, foi crucificado também.
Gilbert Keith Chesterton (1874–1936)
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