Ir à Igreja porquê? O drama da Eucaristia
Timothy Radcliffe
Ed. Paulins
296 páginas
Se houvesse um top para os melhores livros católicos do ano, este estaria certamente num dos primeiros lugares. “Ir à Igreja porquê? O drama da Eucaristia”, do ex-mestre geral dos frades dominicanos, Timothy Radcliffe, é um espicaçar para a fé, um indutor de esperança, um tónico para o amor. E tudo isto servido com uma imensa dose de humor, cultura e inteligência. Não só o conteúdo é profundo e enriquecedor, como a forma, a escrita, é apaixonante, por vezes divertida, sempre estimulante.
O livro começa com uma anedota já contada neste blogue, a que várias vezes se alude ao longo das primeiras páginas e que expõe a finalidade da obra:
“Certo domingo, a mãe acordou o filho com uma sacudidela e disse-lhe que estava na hora de ir para a igreja. Sem resultado. Dez minutos mais tarde, insistiu:
- Sai imediatamente da cama e vai para a igreja.
- Ó mãe, não me apetece! É tão aborrecido! Porque é que hei-de chatear-me?
- Por duas razoes: sabes muito bem que deves ir à igreja ao domingo e, em segundo lugar, és o bispo da diocese”.
Claro que, como diz Timothy Radcliffe, “não são apenas os bispos que, por vezes, não têm desejo de ir à igreja”. Um jovem, a quem o seu bispo perguntou, no dia do Crisma, se iria à igreja todos os domingos, respondeu: “Iríeis também ver o mesmo filme todas as semanas?”
Este livro não é sobre como fazer missas criativas e espectaculares, como alguns gostam. Nem sobre a Teologia da Eucaristia. É sobre ir à Missa, sobre como na participação em qualquer Missa, da maior festa e com o padre mais bem falante à mais humilde celebração e no lugarejo mais remoto, se vive um drama. É “uma exploração (…) do modo como a Eucaristia se refere a tudo”. A Missa “representa o drama fundamental de toda a existência humana. Forma-nos como pessoas que crêem, esperam e têm caridade”. A tese deste livro é esta: “O nosso «sim» ao Corpo de Cristo transforma o modo como pertencemos uns aos outros e, por conseguinte, quem somos”.
O autor ilustra a sua obra, dividida em três grandes partes sobre a fé, a esperança e o amor (que remetem para a Liturgia da Palavra, a Oração Eucarística e a Comunhão), com pequenos casos pessoais ou da história, trechos de romances e de poemas e alusões a filmes, o que constitui uma excelente ponte cultural para o mundo em que vivemos.
Refira-se, por último, como grande sinal de ecumenismo, que este livro foi encomendado pelo arcebispo Rowan Williams, primaz da igreja anglicana (que também é um grande poeta), e adoptado como o seu Livro da Quaresma para 2009.
Como dizia um padre, para andar limpo não é preciso conhecer a composição química da água. Basta lavar-se. Para participar na Eucaristia, não será necessário ler livros sobre a Missa. Mas quem ler este, vai tornar-se mais consciente do grande dom de Cristo à sua comunidade e ao mundo.
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