segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Philip Roth e Deus


Tiago Bartolomeu Costa comentou a minha surpresa pela sua surpresa por Philip Roth ter dado com a questão de Deus.
Escreveu o colaborador do Ípsilon aqui (nos comentários):
Surpreendo-me porque, precisamente, ele sempre disse, e reafirmou na entrevista à Vanity Fair, que citei no artigo, que "não há [nele] um único osso religioso".
E porque, tendo lido a íntegra da sua obra, achei, sim, surpreendente que ele o fizesse agora. Esperava que o tivesse feito em outros livros, como "Pastoral Americana", até mesmo em "Todo-o-mundo" que começa num funeral, ou em "The Humbling", onde o protagonista se suicida sem sequer pensar em Deus.
O Roth falou sempre muito de religião, obviamente. Mas fê-lo, tal como digo no artigo, usando-a para pensar no Homem, e nunca em Deus. Aqui, em "Nemesis", Deus é co-protagonista.
Eu li menos do que três livros de Roth. Li dois. E nem sequer os principais. Li “O Animal Moribundo” e “Todo-o-Mundo”. São dos mais recentes e, ao que sei, dos menores. Não receber o Nobel desmotiva. Vi o filme “Mancha humana”, mas isso não conta para os livros lidos. E não li os obrigatórios “Pastoral Americana” e “A conspiração contra a América”.
De qualquer forma, li o suficiente para pensar que a questão de Deus pairava sobre a fragilidade humana, quer quando se apaixona por uma mulher mais nova (“O Animal Moribundo”), quer na morte (“Todo-o-Mundo”). Roth, nos que eu li, falava sempre de coisas judaicas, pois claro. Mas com tanta judaicidade, a questão de Deus, mais tarde ou mais cedo, haveria de chegar. Eu não sabia que ele não tinha um único “osso religioso”. Apostava simplesmente que a “carne religiosa” (o corpo é a coisa mais bíblica que há) estava perto.
Há judeus ditos ateus. Pode ser o caso de Roth. Mas em nenhum outro povo a questão divina está tão intrincada na identidade humana. Por que é que ele é judeu, continua a ser judeu, vivendo nos EUA? Como é que um judeu pode ser judeu, gerações após gerações, sem nunca ter vivido na Judeia? A questão de Deus está lá sempre. Por vezes, vem ao de cima. Parece que é o caso do novo romance, que só lerei quando surgir em português, em 2011, suponho.
O caso de Roth faz pensar numa anedota que é mais ou menos assim:
Diz o corcunda:
- O sr. é judeu, não é?
O judeu admira-se:
- Como é que sabe?
Responde o corcunda:
- Pela mesma razão que o sr. não me pergunta se eu sou corcunda.

1 comentário:

maria disse...

sim, até porque qual é a questão que o "homem" tem por encerrada?

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