domingo, 17 de outubro de 2010

Para que serve a Economia? - Texto de Tolentino Mendonça

A Economia deixa de ser apenas um processo administrativo, uma arte de gestão corrente e passa a colocar no centro da sua finalidade o serviço integral à Pessoa
Há uma frase lapidar de Carl Schmitt em relação aos Estados modernos que importa recuperar: «Todos os conceitos decisivos da moderna doutrina do Estado são conceitos teológicos secularizados». Isto é, na origem de paradigmas fundamentais que nos regem, como por exemplo a Economia e o Governo, e que hoje regressaram (Deus sabe com que desespero) ao centro do debate público em Portugal, está a influência determinante da teologia cristã, sobretudo nas suas estações bíblica e patrística.
O termo Economia (do grego, Oikonomia) significa literalmente “norma ou administração da casa”. Começou por conhecer um uso profano em autores como Aristóteles (que toma o conceito não como uma ciência, mas como uma actividade de ordem funcional), Xenofonte (que utiliza a sugestiva imagem da articulação dos dançarinos numa roda para falar do controle e da precisão necessários ao seu bom funcionamento) ou Quintiliano (a Economia torna-se a ordenada disposição da matéria de um discurso).
Uma opinião muito difundida reconhece que é na esteira de São Paulo que primeiro se oficializa um significado teológico na palavra Economia. Veja-se o passo da Carta aos Colossenses: «Agora, alegro-me nos sofrimentos que suporto por vós e completo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo, segundo a economia de Deus, a qual me foi dada para levar à plena realização a Palavra de Deus, o mistério escondido ao longo das gerações e que agora Deus manifestou aos seus santos» (Col 1,24-25). Ou aquele da Carta aos Efésios: «[Deus] manifestou-nos o mistério da sua vontade, segundo a benevolência que nele expõe para a economia da plenitude dos tempos, para recapitular todas as coisas em Cristo» (Ef 1,9-10). No pensamento paulino, há uma aproximação estruturante entre os termos Economia e Mistério. A Economia é a tradução histórica, o trocar por miúdos (digamos assim) do desígnio de Salvação que Deus tem para o Homem. A Economia deixa de ser apenas um processo administrativo, uma arte de gestão corrente e passa a colocar no centro da sua finalidade o serviço integral à Pessoa.
É verdade que hoje o conceito de Economia voltou ao âmbito profano ou secular. Mas se não conservar uma ressonância mais lata, serve para quê?
José Tolentino Mendonça, texto retirado da Agência Ecclesia.

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