sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Todos os labirintos começam e terminam no coração do homem

"Quanto eu gosto de ver no chão das catedrais (Chartres) ou nas traves da nave principal (Lucca) um labirinto gravado! Houve um tempo em que os homens sabiam que a imagem do caminho é a figura da própria existência. Mas no tempo das vias de comunicação globais e das altíssimas velocidades, perdemos o saber das viagens profundas.

Todos os labirintos começam e terminam no coração do homem, mas este tem vastidões que ignoramos, desertos que só pressentimos, silêncios maiores que todo o silêncio, aberturas para muito longe. Raramente nos dispomos a percorrer semelhante paisagem. Os seus caminhos são duros, de uma esperança estreita e áspera, mas também purificadora. Reconduzem o coração, escravo de tantas dispersões, à utopia de um centro. Permitem refundar a vida. Morte e renascimento; cruz e ressurreição; inverno e primavera.

Peregrinar é aceitar percorrer nas estradas de hoje o antiquíssimo labirinto penitencial que as catedrais tinham gravado: redescobrir pelo apagamento a verdade do que se é; experimentar na pobreza o sentido do que se possui; reinventar na errância o endereço das construções sedentárias que nos motivam; medir no eterno a direcção do provisório."

José Tolentino Mendonça
(copiado do dia 2 de Fevereiro do equinócio de outono)

1 comentário:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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