Todos os labirintos começam e terminam no coração do homem, mas este tem vastidões que ignoramos, desertos que só pressentimos, silêncios maiores que todo o silêncio, aberturas para muito longe. Raramente nos dispomos a percorrer semelhante paisagem. Os seus caminhos são duros, de uma esperança estreita e áspera, mas também purificadora. Reconduzem o coração, escravo de tantas dispersões, à utopia de um centro. Permitem refundar a vida. Morte e renascimento; cruz e ressurreição; inverno e primavera.
Peregrinar é aceitar percorrer nas estradas de hoje o antiquíssimo labirinto penitencial que as catedrais tinham gravado: redescobrir pelo apagamento a verdade do que se é; experimentar na pobreza o sentido do que se possui; reinventar na errância o endereço das construções sedentárias que nos motivam; medir no eterno a direcção do provisório."
José Tolentino Mendonça
(copiado do dia 2 de Fevereiro do equinócio de outono)
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