Francisco Xavier Nguyen Van Thuan numa prisão vietnamita:
“Quando fui colocado no isolamento, fui confiado a um grupo de cinco guardas: dois deles estão sempre comigo. Os chefes mudam-nos de duas em duas semanas com os de outro grupo, para que não sejam «contaminados» por mim. Depois, decidiram não mudar mais, pois de outra forma todos ficariam contaminados!
No início, os guardas não falavam comigo, respondiam apenas «yes» e «no». É muito triste; quero ser gentil, cortês com eles, mas é impossível, evitam falar comigo. Não tenho nada para lhes dar de presente: sou prisioneiro, todas as roupas são marcadas com grandes letras «cai-tao», isto é, «campo de reeducação». Que devo fazer?
Uma noite, vem-me um pensamento: «Francisco, tu és ainda muito rico. Tens o amor de Cristo no teu coração. Ama-os como Jesus te ama.» No dia seguinte, comecei a amá-los, a amar Jesus neles, sorrindo, trocando palavras gentis. Começo a contar histórias das minhas viagens ao exterior, como vivem os povos na América, Canadá, Japão, Filipinas, Singapura, França, Alemanha… a economia, a liberdade, a tecnologia. Isso estimulou a curiosidade dos guardas, e excitou-os a perguntarem-me muitas outras coisas. Pouco a pouco, tornamo-nos amigos. Querem aprender línguas estrangeiras: francês, inglês… Os meus guardas tornam-se meus alunos! A atmosfera da prisão melhorou muito.
Até com os chefes da polícia. Quando vieram a sinceridade do meu relacionamento com os guardas, não só pediram para continuar a ajudá-los no estudo de línguas estrangeiras, mas ainda me mandaram novos estudantes”.
in "Cinco pães e dois peixes", de Francisco Xavier Nguyen Van Thuan (ed. Paulinas)