São Jerónimo (347-420), num comentário ao Salmo 102, disse: “Sou como um pelicano do deserto, que fustiga o peito e alimenta com o próprio sangue os seus filhos”.
O pelicano alimenta os filhos, mas não chega a picar o peito até deitar sangue, como pensavam os medievais, seguindo os comentários de Jerónimo. Mas por esta doação de si mesmo, sacrifício de si mesmo, ficou como símbolo da Eucaristia.
O Salmo, uma oração do aflito, em concreto, diz: "Tornei-me semelhante ao pelicano no deserto". É uma imagem bela para falar de qualquer dor. A ave aquática torturada pelo deserto.
Já não temos a condição torturada de viver num "vale de lágrimas" (pelo menos alguns - para a maioria da humanidade, a condição normal é o sofrimento, ainda que não sem alegria), mas continuamos a precisar do Maná caído do céu, do Pão da Vida, da luz na noite, da água no deserto, ainda que estas imagens sejam lugares-comuns. Talvez porque sejam sentimentos universais.
Ontem foi dia do Corpo de Deus.
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