quarta-feira, 8 de maio de 2013

Scorsese faz um filme sobre os jesuítas portugueses no Japão


Scorsese vai finalmente filmar a adaptação de "Silêncio", romance de Shusaku Endo que fala dos missionários jesuítas no Japão que renegam a fé durante as perseguições dos poderes nipónicos.

No papel de Sebastião Rodrigues, o jesuíta que é enviado para investigar o caso, estará Andrew Garfield, que há pouco fez de Homem-Aranha.


Há muito que se falava deste filme do ex-seminarista Scorsese. Parece que deste vez é que é.

Da notícia do "Público" de hoje:
Em declarações à revista Variety, Scorsese disse que Silêncio é um filme sobre as raízes da fé religiosa, uma questão que o acompanha desde a infância e que já explorou em filmes como A Última Tentação de Cristo (1988) ou Kundun (1997). Em A Última Tentação de Cristo, que valeu a Scorsese uma nomeação para o Óscar de Melhor Realizador, Jesus Cristo, apesar do chamamento de Deus, é tentado a viver a vida de um mortal. 
“É algo que sempre fez parte da minha vida. Para as pessoas que estão de fora é difícil entender o mundo em que eu cresci, o do catolicismo romano na Nova Iorque dos anos 1950. Fiquei tão impressionado que tentei fazer parte desse mundo mas aos 15, 16 anos percebi que era muito mais duro e complicado do que eu tinha pensado…em termos de vocação”, disse ao site da revista Variety. 
Scorsese leu pela primeira vez o romance de Shusaku Endo há 25 anos, quando o arcebispo Paul Moore lho enviou, na sequência de um visionamento de A Última Tentação de Cristo. O realizador recorda que o livro o marcou pela sua “simplicidade complexa” e por se tentar “ libertar dos dogmas e tentar lidar apenas com a essência…da Cristandade, de Jesus". Após ter lido o livro o realizador começou imediatamente a trabalhar na sua adaptação ao cinema, com o argumentista Jay Cocks, seu colaborador regular. Entretanto interrompido por outros projectos, o guião só ficou terminado em 1996.

Bento Domingues: A ditadura do medo

Texto de Bento Domingues no "Público" do domingo passado.

Vida cósmica

A ressurreição de Cristo fundamenta a esperança viva do êxito vitorioso e eterno da grande vida cósmica, êxito que nós não somos capazes de descrever, mas unicamente de pressentir e esperar.

Peter Nemeshegyi

terça-feira, 7 de maio de 2013

Um "bom colégio de padres" - anedota contada por Bergoglio

Esta história foi contada por Jorge Bergoglio no livro-entrevista publicado em Portugal pelas Paulinas (Francesca Ambrogetti e Sergio Rubin, "Papa Francisco, Conversas com Jorge Bergoglio"), na página 42:

Um rapaz judeu era expulso de todas as escolas por ser indisciplinado, até que outro judeu recomenda ao pai um «bom colégio de padres». E anima-o, dizendo-lhe que, certamente, ali o irão endireitar. O pai aceita o conselho. Passa-se o primeiro, mês e o rapaz porta-se muito bem, sem qualquer repreensão. Também não tem problemas de comportamento nos meses seguintes. O pai, levado pela curiosidade, foi ver o reitor para saber como é que ele conseguiu encarrilhá-lo. “Foi muito simples”, responde o sacerdote. “No primeiro dia agarrei-o por uma orelha e disse-lhe, apontando para o crucifixo: «Este era judeu como tu; se te portares mal, vai-te acontecer o mesmo»”.

Mas esta faz lembrar uma outra contada por Onésimo Teotónio de Almeida. Pode lê-la aqui.

Mais

É por Jesus ser o mais verdadeiramente humano que conheço, penso eu, que é também o mais de Deus.

Joaquín Gomis

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Mais Francisbol: Zanetti dá a camisola ao Papa


Mais uma camisola para Francisco. Há dias, não interessa quando, tantas têm sido as camisolas de futebol que entram no Vaticano, la foi o argentino do Inter de Milão entregar a sua (tenho ideia de que também já tinha oferecido uma a Bento XVI). E Messi? E Di Maria? E Lucho? De que estão à espera?

DN: "O ídolo do Papa Francisco é... o ex-leão Beto Acosta!"


No DN de hoje. Há dias escrevi aqui, com os meus desapaixonados conhecimentos de futebol, que em Portugal só conhecia um jogador que tinha passado pelo clube do Papa. Romagnoli. Afinal, há mais, novamente no Sporting.

(Vou criar uma etiqueta nova, são tantas as camisolas que o Papa recebe: "Francisco e futebol", melhor, "Francisbol")

Autoridade e crescimento

Autoridade vem de augere, que quer dizer fazer crescer. Ter autoridade não é ser uma pessoa repressora. A repressão é uma deformação da autoridade que, no seu correto exercício, implica criar um espaço para que a pessoa possa crescer. Alguém com autoridade é alguém capaz de criar um espaço de crescimento.

Jorge Bergoglio no livro-entrevista de Francesca Ambrogetti e Sergio Rubin, "Papa Francisco, Conversas com Jorge Bergoglio", Paulinas, pág, 68

domingo, 5 de maio de 2013

Bento Domingues: "Ditadura do medo"


Bento Domingues no “Público” de hoje.

Importa que a DSI passe a ser reelaborada com o contributo de especialistas das ciências sociais. Qual é o papel da Doutrina Social dos Papas nas Universidades Católicas e das investigações das Universidades Católicas na elaboração da DSI? Mas, para se poder chamar, com verdade, DSI tem de seguir a eclesiologia do Vaticano II (Lumen Gentium, 36 e a Gaudium et Spes). A Igreja é constituída pelas mulheres e homens que se reconhecem em Jesus Cristo. Todos juntos, não teremos medo.

Texto na integra, aqui, a amanhã.

Kierkgaard. 200 anos de angústia, desespero e fé

Kierkgaard nasceu há 200 anos. Gostava de assinalar a data com algo original, mas tal não me será possível hoje. Fiquemos com o que sobre Kierkgaard já foi escrito neste blogue.

sábado, 4 de maio de 2013

E chegarei de noite


E chegarei de noite
com o gozoso espanto
de ver,
por fim,
que andei,
dia a dia,
sobre a própria palma da Tua mão.

Pedro Casaldáliga

Anselmo Borges: "O bispo R. Williams enfrenta o ateu R. Dawkins"

Texto de Anselmo Borges no DN de hoje ( e no final o vídeo do debate Williams/Dawkins & others):


1-Não tem faltado aqui, nestas crónicas, a denúncia das patologias da religião. Como ser insensível ao sofrimento das vítimas da pedofilia do clero? Vítimas de escrúpulos, vítimas da humilhação intelectual, vítimas da intolerância religiosa, de um deus mesquinho e escravizador... O historiador católico Jean Delumeau escreveu: "As minhas investigações convenceram-me de que a imagem do Deus castigador e vingativo foi um factor decisivo para uma descristianização cujas raízes são antigas e poderosas".

Parece que, enquanto pôde, o clero controlou a vida sexual dos fiéis, a ponto de outro historiador, Guy Bechtel, afirmar que a fractura entre a Igreja católica e o mundo moderno se deu na teoria do sexo e do amor, com uma confissão inquisitorial centrada na actividade sexual.

Será preciso lembrar os homens e mulheres que foram assados nas fogueiras da Inquisição e não só, porque tinham ideias novas? E houve o medo-pânico da mulher, que se chegou a acusar de manter relações sexuais com o diabo. E os livros considerados heréticos também foram queimados. E houve as cruzadas, as guerras de religião, a missionação forçada. Pio VI condenou essa "detestável filosofia dos Direitos do Homem". Pio IX condenou expressamente a evolução como uma aberração. No século XX, o teólogo E. Drewermann escreveu: "Há 500 anos, a Igreja recusou a Reforma; há 200, o Iluminismo; há 100, as ciências naturais; há 50, a psicanálise. Como viver com tantas rejeições?"

Apesar de tudo, creio que é inegável que, no cômputo geral, o saldo é superior a favor da religião, nomeadamente do cristianismo. E não estou sozinho nesta apreciação.

2-Cada quarta-feira, a Cambridge Union Society, um clube de debate ligado à Universidade de Cambridge, realiza um debate sobre temas actuais. No passado dia 31 de Janeiro, com a presença de mais de 800 pessoas, sendo a maioria constituída por estudantes universitários, o tema era debater a necessidade da religião neste século, a partir das seguintes perguntas: "A religião é compatível com a vida do século XXI? Como pode conseguir-se que encaixe com as leis e os valores modernos? E se fosse compatível, a religião faz mais bem do que mal?"

Para o debate, partindo da premissa, "A religião não tem espaço no século XXI", foram convidados vários intervenientes, entre os quais o arcebispo Rowan Williams, que deixou há pouco a liderança da Igreja Anglicana, e o biólogo Richard Dawkins, ateu convicto e apóstolo do ateísmo a nível mundial.

Segundo R. Dawkins, a religião é "redundante e irrelevante", para lá de "uma traição à inteligência, uma traição ao melhor de nós, ao que nos torna humanos", continuando: "parece responder à pergunta enquanto a não examinas e te dás conta de que o não faz. Espalha explicações falsas, quando se poderia ter oferecido explicações reais, explicações falsas que obstaculizam a iniciativa de descobrir explicações reais." No contexto científico, funciona como um "charlatão pernicioso". Em suma: a sociedade funcionaria melhor, se as religiões estabelecidas desaparecessem.

Para R. Williams, a religião "foi sempre uma questão de construir comunidades, uma questão de construir relações de compaixão e de inclusão". A questão fundamental é ver qual deveria ser a atitude que se tem para com ela. Os direitos das pessoas "têm profundas raízes" nas comunidades de fé. "A Declaração dos Direitos Humanos não teria sido o que é se não tivesse havido o debate filosófico e religioso." Assim, o respeito pela vida humana e a igualdade são inerentes a todas as religiões organizadas. Por isso, pretender que "o compromisso religioso deve ser um assunto meramente privado vai contra a história da religião".

No final, depois de todas as intervenções, parte do público votou. Aí, os favoráveis à afirmação "a religião não tem espaço no século XXI" saíram derrotados: 136 contra 324. A religião autêntica pratica o amor, faz comunidades, oferece transcendência e sentido final. Mas é claro que, também no domínio da religião, se não pode abandonar a presença da razão crítica.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Humor pontifício - 2

Como é agora?

- Ir a Roma e não ver os Papas?
- Ir a Roma e não ver um Papa sequer?
- Ir a Roma e não ver qualquer Papa?

Humor pontifício - 1

Um amigo, o Luís, quando viu que o eleito era argentino, comentou:
- Esperemos que traga buenos aires à Igreja.

"Esperemos que não caia no banho, nem tome café adulterado"



Eric Frattini, que o “Público” de hoje diz ser espanhol (ele, no site pessoal, não diz de onde é, mas a Wikipédia diz que é peruano), dá uma entrevista com imensas tiradas sobre o Vaticano. A entrevista só fala disso. Umas acertadas, outras mirabolantes, ainda que com algum fundo de verdade. Deixo aqui as tiradas que me parecem mirabolantes (a não ser que um caso dê para montar uma teoria) e as que me parecem com mais interesse.

As mirabolantes:

Para o Vaticano, tudo o que não é sagrado é secreto. 
 [Os serviços secretos do Vaticano] são os mais antigos e os que têm a maior rede de informadores. 
 [Eles, o Vaticano,] vendem armas a ditadores, têm sociedades financeiras em paraísos fiscais. 
 “Tu apoias-me se eu te apoiar para secretário de Estado?” As congregações [pré-conclave] são isso. 
 Quando ele [Papa Francisco] disse que vinha do fim do mundo não estava a falar da Argentina, estava a dizer que vinha de muito longe da Cúria. 
 Esperemos que não caia no banho, nem tome café adulterado.


As que me fazem pensar.

Se ele suspender o banco, afastar toda a cúpula de Sodano ou de Bertone... aí sim, vou acreditar. Este Papa é diferente, usa os seus sapatos velhos, recusa carros blindados, vai pagar a conta do alojamento ao centro de Roma. Mas também é chefe do Estado do Vaticano, o que é que ele pode fazer? 
 Eu sou um anti-Ratzinger, mas sou um apoiante de Bento XVI, penso que ficará na História como um revolucionário. Falhou, porque os acontecimentos o ultrapassaram ou porque a pressão da imprensa com os casos de pedofilia foi demasiada. João Paulo II encobriu tudo, o campesino polaco, como eu lhe chamava, todos recordamos a bênção que deu a Marcial Maciel [acusado de inúmeros crimes de pedofilia]. Claro, é fundador dos Legionários de Cristo, que têm poder e muito dinheiro. João Paulo II pensou "o que é que me importa mais, o dinheiro que me dão os Legionários ou as 5000 crianças violadas por padres?". Teve de vir Ratzinger para condenar e afastar Maciel.
E para quem quiser ler tudo: 




Lamentações de Rahner e de outros

Lido num livro de Carlos González Vallés:

"Karl Rahner disse pouco antes de morrer que lamentava duas coisas em sua vida; não ter amado mais as pessoas e não ter tido mais audácia com as hierarquias da Igreja. Não quero morrer sem dizer realmente o que penso".

Numa relação

O crente pode pensar que se encontra numa relação especialíssima com Cristo. Mas não pode considerá-lo como posse sua, nem negar que o não crente esteja também numa relação com o Nazareno.

Étienne Trocmé

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Homens de branco

Dois no Vaticano. Foto da Reuters.

Juan Jacobo Rousseau

Num livro em espanhol, leio algo sobre Juan Jacobo Rousseau, que era um homem de estatura pequena mas que teve grande influência na ordem secular que se instaurou após a Revolução Francesa. Por momentos, hesitei. "Juan Jacobo Rousseau"? Fez lembrar o Carlos Marques do materialismo dialético num livro julgo que da Livraria Tavares Martins da década de 1950.

Resumo

Em resumo, Ele apareceu-me, por um lado, como o rosto mais humano do divino e, por outro, como o rosto mais divino do humano.

Jean-Claude Renard

Sinodalidade e sinonulidade

Tenho andado a ler o que saiu no sínodo e suas consequências nacionais, diocesanas e paroquiais. Ia para escrever que tudo se resume à imple...