Umas coisinhas sobre as bruxas, ao arrepio do pensar comum. E posto isto, vou para casa dar cabo de uma abóbora.
1
As bruxas e os seus sabbats são uma invenção dos
inquisidores medievais tardios, mais concretamente nas montanhas da Suíça. Foram
os inquisidores que associaram as feiticeiras ao culto do diabo e à heresia. E
a partir daí acaba a tolerância e começa a perseguição no centro da Europa.
2
A queima das bruxas aconteceu em muito maior escala na Idade
Moderna do que na Idade Média. Na realidade, se considerarmos que Idade Média
vai até 1453 (Queda de Constantinopla), a perseguição às bruxas foi uma
raridade. Houve condenações, mas quase todas no contexto de heresias como as
dos cátaros. O pior viria a seguir, de modo sistemático, até aos princípios do séc. XVIII. Diz-se
que a última mulher a ser condenada à morte por bruxaria foi uma jovem, em
Glarus (cantão protestante), na Suíça, em 1783. A tragédia terminou onde
começara.
3
Os protestantes (luteranos, calvinistas, anglicanos)
queimaram mais bruxas do que os católicos (o que, mesmo assim, é claro, não é
motivo nenhum de glória). E, o que ainda é mais estranho e contrário ao pensar
comum, houve mais juízes e condenações seculares (em tribunais seculares) do que religiosas.
4
O livro que foi um best-seller na perseguição das bruxas, o “Malleus
Maleficarum” (“O Martelo das Bruxas”), de 1487, escrito por dois frades
dominicanos, nunca foi aprovado pela Igreja Católica. Pelo contrário, foi
colocado no Index. Mas fez imenso sucesso entre católicos e ainda mais entre
protestantes alemães.
5
Na Península Ibérica, não houve queima de
bruxas (ou se houve, foram residuais e a bruxaria não foi o principal motivo). Porquê? Por causa da Inquisição ibérica, quase exclusivamente preocupada
com a perseguição aos judeus e muçulmanos. Isso mesmo. Não queimou bruxas. Sem
tirar nem pôr.
6
Há uma tese que diz que nos tempos em que algumas mulheres (geralmente
viúvas, solitárias, com conhecimentos de medicina popular, nas margens das
povoações, curandeiras) eram perseguidas como bruxas detinham um alto estatuto
jurídico. E que depois do fim das perseguições passaram a ser consideradas doentes,
incapazes de personalidade jurídica, pelo que viram o seu estatuto social
diminuído.
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