sábado, 25 de maio de 2013

Anselmo Borges: "O mundo dos afectos, a fé e a cura"

Artigo de Anselmo Borges no DN de hoje:


A definição do Homem como animal racional não dá conta adequada do que somos: de facto, não começamos por pensar, mas por sentir. Somos afectados pelo meio ambiente, desde o ventre materno. Daí, não ser indiferente uma gravidez querida e serena e uma gravidez vivida no meio da inquietação e do sobressalto.

No instante da concepção, está-se no que alguns chamam a "inocência do sentimento". Depois, começamos a ser afectados, positiva ou negativamente, e assim se vai formando uma atitude positiva ou negativa face ao mundo e aos outros, com consequências na auto-estima e autoconfiança ou não, com confiança no mundo e nos outros ou, pelo contrário, com desconfiança e inquietação.

Na altura, ainda se não pensa, mas sente-se. Primeiro, são os afectos. Suponhamos que, depois do nascimento, não se cuida convenientemente do bebé, ninguém lhe sorri, ninguém o acarinha. O que fica? O sentimento de frustração. Afinal, o que vale o mundo? Para que serve? Não começa aqui o sentimento de revolta, violência e destruição?

Depois, com a aquisição lenta do uso da razão, há-de estudar-se a vida afectiva, para aproveitar a sua força - querer ser e viver - na condução da existência, sabendo conviver com ela nas suas dimensões positivas e negativas. Porque a razão, sem os afectos, pode ficar paralisada, mas estes, sem aquela, podem tornar-se cegos. E assim se constata a importância do que hoje se chama a razão que sente, razão sensível, razão emocional.

É neste fundo anímico-vital afectivo que mergulha a própria fé religiosa. Esquece-se frequentemente que a fé não começa por ser religiosa, mas uma atitude fundamental da existência enquanto confiança de base. Hoje, quando o que faz falta é confiança e crédito, percebe-se melhor o tema. Mas, a um dado momento, há-de colocar-se também a questão da fé religiosa, na medida em que se põe a pergunta pelo fundamento último da confiança.

A realidade da fé como atitude fundamental de toda a existência e como possível abertura à fé religiosa, garante do sentido último e pleno, é sublinhada cada vez mais, também em estudos científicos referentes à doença e à cura. Aliás, não há aqui nenhuma descoberta, pois sempre se soube que a atitude do Homem face à vida, à doença e à própria morte depende do grau da sua confiança.

Também da confiança em Deus? "Uma grande maioria do corpo científico considera que a religião tem um impacto positivo na saúde", explicou na Time Magazine Andrew Newberg, da Universidade da Pensilvânia.


Agora, Le Monde des Religions (n.° 54, 2012) foi investigar e dá conta de um artigo da Universidade de Oxford em 2001, com a síntese de 1200 estudos sobre a questão, concluindo que "crer , rezar, praticar uma religião levam a uma melhor resiliência às doenças mentais como a esquizofrenia e têm uma acção positiva sobre a pressão arterial e as funções imunitárias". Isto não significa que a oração seja um medicamento, mas que acreditar permite suportar melhor a doença, favorecendo o tratamento. A imagem de Deus, bom ou castigador, é fundamental.

Gail Ironson, da Universidade de Miami, num estudo sobre a ligação entre VIH e crença religiosa, conclui que, "mesmo tendo em conta os medicamentos, a espiritualidade traz um melhor controlo da doença". Nel Krause, da Universidade do Michigan, mostrou que as pessoas que acreditam que "a sua vida tem um sentido" vivem mais tempo.

O acto médico não pode ser de modo nenhum o de um técnico perante uma máquina estragada que é preciso reparar. É necessário aproximar-se do paciente dentro de uma compreensão global do Homem. Georges Engel, num artigo célebre - "The Need for a New Medical Model" -, falou de uma aproximação "bio-psico-social", que, segundo o teólogo Guy Jobin, teve enorme impacto. "Já não se trata de uma divisão do trabalho entre cura do corpo e cura das almas. Em vários sectores do cuidado - em geriatria, nos cuidados de longa duração, nos cuidados paliativos -, o acompanhante espiritual faz agora parte integrante da equipa de cuidados. É considerado um profissional como os outros membros da equipa."

14 comentários:

Anónimo disse...

Agora ao ler AB veio-me à memória um trabalho que me calhou na cadeira de Psicologia das Religiões sobre a área que trata da influência positiva que o uso da meditação exerce no domínio da saúde, sobretudo nas enfermidades relacionadas com o stress e a parte psíquica do ser humano.

Escolhi como fonte:

”Psiconeuroimunologia e Tradições religiosas do Oriente”. (Paul J. Griffiths)

Uma boa área a explorar também…

Peter

Anónimo disse...

Mais uma palhaçada do Peter. Alguém perguntou-lhe alguma coisa?

Anónimo disse...

Realmente já estava a admirar o jejum de silêncios tão longo das minhas sombras companheiras por estas andanças!!!... deve ser efeitos de tanto se ter falado por estes lados no sandálias, vulgo belzebu! Los hermanitos de los pueblos del Quijote bem me vão avisando: "Yo no creo en brujas, pero que las hay, hay"!

Peter

Anónimo disse...

Sr. Peter, a sua citação no primeiro comentário trata-se de um livro, de um artigo? Se me puder orientar, agradeço. Fiquei interessada.

Maria João Brás

Anónimo disse...

Maria João, tem a ver com um trabalho que tive que desenvolver na cadeira de Psicologia das Religiões na altura. O tema central tratava da influência que a Religião tinha sobre as enfermidades humanas, tanto do lado patológico como do lado da cura! A mim calhou-me abordar uma das dimensões da cura, que trabalhei a partir de um livro que tive que escolher entre alguma bibliografia indicada pelo Prof. e que cito como fonte, um livro muito bom:

”Psiconeuroimunologia e Tradições religiosas do Oriente”. (Paul J. Griffiths)…

Agora um aparte.. sinceramente não esperava era a reacção do nosso Anónimo tão irado, apenas quis abrir o leque do tema! Bom, confesso (risos) que também seria uma boa oportunidade para expor algum currículo na matéria (que me perdoe o irmão hospitaleiro o abuso) não fosse alguém de Madrid visitar este belo espaço e quem sabe, como estão ainda algumas vagas abertas lá pelos paços episcopais madrilenos, (eram 8 lugares acho eu)…sempre podia dar uma mão e ao mesmo tempo ganhava algumas caricas a mais para umas sopas..risos! Desculpe, estou a brincar, é só para atenuar a alta tensão que aqui ficou plasmada por um coração mais irado nas suas linguagens circenses!

Peter

Anónimo disse...

Maria João, o livro está em inglês, creio que não foi ainda traduzido e pertencia à biblioteca pessoal do prof… não sei se existe no mercado português!

Peter

Anónimo disse...

Muito obrigado, Sr. Peter.
Vou procurar em inglês então.

Maria João Brás

Anónimo disse...

Maria João, desculpe, esqueci de deixar o título original:

“Psychoneuroimmunology and Eastern Religious Traditions”
PAUL J. GRIFFITHS

Peter

Anónimo disse...

Mais tretas do Peter. Julga-se com muito para dizer.

Anónimo disse...

Anónimo (5:27 PM) - felizmente que nem os discípulos nem este servidor ou outro que tenha escolhido caminhar na liberdade de espírito que Deus nos concedeu, necessitaram de pagar propinas ou fazer uma colecção de “cadeiras” numa espécie de avareza narcisista do conhecimento de Deus, para perceberem-entenderem o seu coração humano e a caminhada da vida….! Meu caro, isso só se aprende na escola da vida e com a também ajuda das múltiplas partilhas que a janela global abriu livremente a qualquer um que deseje aprender e crescer como pessoa integral, e não como clone saído de um qualquer processo produzido nessas séries absurdas das doutrinas que os fornos das ideologias humanas vão cozendo nas suas presunções de tudo já saberem…! Abençoadas bibliotecas e a internet também, presentes de Deus… pelo menos nesses espaços não há porteiros nem vigilantes celestiais!

Peter

Anónimo disse...

Só sinto saudades dos amigos(as) e irmãos(as) grandes de coração que ali deixei naquela fugaz passagem por aquels cantos, safa, foi por pouco, escapei a tempo à clonagem… o resto meu caro, não sinto falta absolutamente nenhuma, e muito menos dos pacotes dos saberes que ali se empacotam nas mentes, “saberes” que conseguem ser mais cinzentos e carregados do que a cor daquele edifício!

Não, nem que fosse gratuito... muito obrigado, prefiro as quedas da vida e a mão do Pai para aprender a caminhar junto com aqueles que também gostam da liberdade...!

Peter

Anónimo disse...

Este país é tão pacóvio e anti-clerical que um provinciano das beiras, só por atacar a Igreja, é promovido a intelectual modernaço.

Anónimo disse...

Usando uma espécie de metáforas, permitam-me fazer uma pequena análise ao comentário anónimo das 12:44 PM…imaginemos então:

Se “pacóvio” fazendo bem as contas, dá, repartido com justiça e equidade em duas partes iguais (como bons irmãos que somos da mesma pátria pacovoniana), numa espécie de pacK_+_oBvio que ganharam corpo e rosto nessas quadros carregados de um provincianismo pacóvio que serviram de decoração a esse grande pátio paroquial em que se havia tornado tal pacovoniana nação desde aqueles saudosos tempos do 1º pré pack_+obvio que tomou forma na dupla cerejeira-salazar, atentemos então no resultado de tal viagem no tempo!
Não só ficamos com um atraso pacoviano agravado agora pelo trauma da metamorfose do tão desejado PEC-IV (um enteado rejeitado do antepassado pack+obvio) e que as hostes mais centralizadoras lá das terras do Tejo travaram-afogaram, impedindo assim que os exércitos das beiras avançassem nessa luta inglória contra os egoísmos de uns poucos, e que acabou por resultar na miséria em que a pátria pacovoniana está agora mergulhada…

Ai D.Sebastião onde andas tu para recuperar tal pacovoniana pátria! Não tardes, vem depress, e não te preocupes porque reforços não faltam por estas terras.. o que há mais por aí é hostes e potestade, armados de varapaus linguistico-hostilizanteses, dirigidos pelos príncipes das trevas que ainda não foram exorcizados, para ajudar a reconquistar as terras aos novos sarracenos pacóvios das beiras que não perdem a mania de gritar pelo pai anti-clerical conhecido noutros tempos por mata frades, e que anda agora a gozar a reforma que conseguiu sacar ainda em bom altura, e por isso cavalga por ali todo garboso, montado no seu ginete da lezírias que galopa estático como os ventos das esperanças que sopram nesta terra e são impedidos de entrarlá para os aldos do terreiro do paço! E foi assim que nasceram as revoltas das “modernices”… ora não querem lá ver estes provincianos atrevidos!

Peter

Anónimo disse...

...varapaus linguistico-hostilizantes e não só... a constatar pelas novas vagas abertas lá para os lados de la Comunidad de Madrid que forma parte de la cuenca hidrográfica del mismo Tajo que passa pela ribeirinha lisboeta...! Olho neles... novos aliados... novas alianças... depois não venham dizer que eu não vos avisei...!

Peter

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