O sucessor interino de Hugo Chávez afirmou que a doença do
falecido "rompia toda a normalidade", um regresso à tese de que o
cancro fora "provocado" pelos EUA e por isso se distinguia dos
cancros comuns, inofensivos e ocasionalmente agradáveis.
Mas nem tudo é mau, e o sr. Maduro tem razões para festejar.
Primeiro porque subirá provavelmente à presidência não interina. Depois porque,
conforme explicou em palestra televisiva, Chávez subiu às alturas e
encontrou-se com Cristo, que talvez num intervalo das conversas com Alexandra
Solnado lhe confidenciou: "Chegou a hora da América do Sul." Ou seja,
Chávez fez lóbi no Céu e colocou um argentino em Roma. Embora os motivos pelos
quais Chávez não arranjou um Sumo Pontífice venezuelano fiquem por esclarecer,
os restantes factos são indesmentíveis. Duvidar disto é duvidar do potencial
cancerígeno da CIA, do progresso social da Revolução Bolivariana e dos suínos
ciclistas.
Quanto ao Papa propriamente dito, o meu discreto ateísmo não
me inspira grandes considerações. Em compensação, o ateísmo ruidoso de muitos
não os impede de emitir palpites sucessivos acerca da matéria. Pelo menos em
Portugal, os media trataram de ouvir avidamente as opiniões de gente sem
qualquer vínculo ao catolicismo, o que faz o mesmo sentido que questionar um
adepto dos Los Angeles Lakers sobre o momento do Sporting. Neste caso, o fã de
basquetebol diria provavelmente não saber nada a propósito. Já os ateus
militantes não só sabem imenso a propósito do Vaticano como insistem em
partilhar a sabedoria connosco.
Padecendo de uma estranha maleita que os impede de viver em
paz sem que o líder de uma fé a que se dizem radicalmente indiferentes concorde
com eles, os ateus militantes receberam o Papa Francisco sob três perspectivas.
A perspectiva simpática apreciou a circunstância de o homem vir do hemisfério
sul (porquê?) e ter sido nomeado contra o "sistema" (apesar de ter
sido o "sistema" a nomeá-lo). A perspectiva hesitante lamenta que o
homem não defenda o casamento homossexual, o aborto, a eutanásia e, afinal,
cada imperativo dos bem pensantes. A perspectiva desconfiada descobriu (ainda
que, conforme se comprova no site do Bloco de Esquerda, à custa de manipulações
fotográficas) a afinidade entre o sr. Bergoglio e a antiga ditadura argentina.
Enquanto os cardeais não designarem um herege para pastorear os crentes, o
catolicismo não se redime.
1 comentário:
Nojeira, de facto, no site do BE uma foto a dizer: "Ditador Vilela com o bispo Bergoglio". Durante a ditadura, Bergoglio não era bispo! na foto está o bispo Aramburu! Nojeira, de facto. Mas é assim que as campanhas de descrédito avançam. Mas uma mentira acerca do carácter de alguém é sempre um louvor acerca do mesmo.
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