O Papa escreveu no Financial Times. É histórico porque,
dizem, é a primeira vez que o Papa escreve um artigo de jornal – e logo no
papa dos jornais económicos e financeiros.
O artigo pode ser lido todo online. Estive para copiá-lo para
este blogue, por ser histórico, mas o FT pede que não copiemos (“High quality
global journalism requires investment. Please share this article with others using the link below, do not cut
& paste the article”. Está descansado, FT).
O artigo
começa assim (copio um bocadinho e deixo o link):
“Render unto Caesar what belongs to Caesar and to God what belongs to God,” was the response of Jesus when asked about paying taxes. His questioners, of course, were laying a trap for him. They wanted to force him to take sides in the highly charged political debate about Roman rule in the land of Israel. Yet there was more at stake here: if Jesus really was the long-awaited Messiah, then surely he would oppose the Roman overlords. So the question was calculated to expose him either as a threat to the regime, or as a fraud.
Ler tudo aqui.
Começando por uma questão monetária, faz-me lembrar aquela
tentativa de Paulo evangelizar na ágora ateniense aludindo ao “Deus
desconhecido” e aos poetas gregos. Sabemos como acabou a cena: “Ouvir-te-emos
numa próxima vez” (Atos 17,32). Hoje seria: “Está bem, mas agora não temos
tempo”.
O Papa diz que Jesus não quer que se politize a religião nem
que se deifique o poder temporal, que Jesus é herdeiro de David, mas sem armas,
e que o nascimento do salvador desafia a reescalonar as nossas prioridades,
valores e estilos de vida. “Desde a manjedoura, Cristo chama-nos a viver como
cidadãos de um reino celeste, um reino que todas as pessoas de boa vontade
podem ajudar a construir aqui na Terra”.
No final, um breve dado biográfico do autor, como é típico
no FT: “The writer is the Bishop of Rome and author of ‘Jesus of Nazareth: The
Infancy Narratives’”. Ainda bem, porque quem lê o FT é bem capaz de não saber quem é Bento XVI, ainda que também haja moedas com a sua cara, já que olham mais para Wall Street do que para a Via Apia.
Comentando este artigo, João César das Neves disse à
Renascença:
“É a primeira vez que o Papa escreve num jornal, ainda por cima no ‘Financial Times’, que para alguns é maldito e no qual o Papa não desdenhou participar. Depois ele centra-se na questão decisiva que é uma mudança de atitude. Parte da expressão ‘dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus’ para mostrar que vivemos no mundo, mas vivemos no mundo de outra maneira, que os cristãos têm de olhar para as suas realidades, seja o Parlamento ou na bolsa de valores, de uma maneira diferente. Não nos deixarmos prender nas ideologias nem nos ídolos, mas olharmos sempre para outra linha, sempre no mundo mas com outra atitude” (aqui).
Por curiosidade, gostava de saber o que pensam Manuela Silva
ou Alfredo Bruto da Costa da colaboração do Papa nas páginas do clarim do
capitalismo.
2 comentários:
Desta não estava eu à espera. Uma atitude, no mínimo, histórica. Será que virão mais artigos noutras áreas?
Obrigado pelo seu comentário. Eu gostaria que fosse o primeiro de muitos. E ele poderia ainda escrever na Blitz, na Maria, na Hola, na Cosmopolitan, na Vanity Fair, na Monocle, na Mojo. Não estou a brincar. E acho que não seria banalizar a palavra do Papa entrando nas publicações que tantos que não põem um pé na Igreja leem.
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