terça-feira, 27 de novembro de 2012

João César das Neves sabe como detetar os novos hitleres


Peter Berger. Será este homem mais perigoso do que Hitler?

João Cesar das Neves, no DN de hoje (26-11-2012), dá a conhecer uma obra que deve ser interessante.
No seu recente livro “The Triumph of Christianity” (HarperOne, 2011) o reputado sociólogo da religião Rodney Stark faz um resumo de 40 anos de carreira e de uma impressionante lista de trabalhos de outros autores. O tema explícito é o paradoxo a que dedicou grande parte da sua atenção: "como foi possível que uma obscura seita judia se tenha tornado na maior religião do mundo?" (p.1). Só que, apesar de cobrir esparsamente os dois mil anos de história, pode dizer-se que o verdadeiro assunto do volume é bem diferente: derrubar uma enorme quantidade de mitos, erros e manipulações que a historiografia dos últimos séculos acumulou sobre a Igreja.
O economista aponta depois uma série de exemplos de mitos e manipulações que farão a delícia dos novos apologetas (em parte também me considero um):
- O sucesso da expansão cristã no Império Romano não se ficou a dever à decadência do paganismo, revolta de escravos ou favores de Constantino, mas ao facto de os cristãos, graças à sua caridade, "viverem mais tempo que os seus vizinhos pagãos... não 'descartarem' as crianças femininas e as mulheres cristãs não terem a mortalidade substancial por abortos feitos num mundo sem antibióticos" (p.417).
- A Idade Média europeia não foi uma "idade das trevas" de miséria e obscurantismo, mas uma época brilhante da história do mundo, pois a ausência de impérios eliminou a escravatura e monumentos grandiosos, e o génio humano pôde virar-se para descobertas pragmáticas, das esporas aos óculos e moinhos, passando pelo capitalismo (p.242-5).
- A religião não é inimiga da ciência, mas foi na Igreja que nasceu e grande parte dos maiores cientistas são e sempre foram devotos (cap.16).
- "A Inquisição Espanhola foi um corpo bastante moderado, responsável por poucas mortes e salvou muitas vidas por se opor à caça às bruxas que varreu o resto da Europa".
Talvez pudesse dizer também que o pacto das bruxas com o diabo é uma invenção da Inquisição medieval, pelo que não está isenta de culpa na paranóia contra as mulheres que varreu parte da Europa, mais a norte. Mas não há espaço para tudo. O texto pode ser lido aqui.

O que me espanta, porém, é o parágrafo final:
Mas é assustador pensar no enorme poder que alguns pseudocientistas têm, se usarem a sua posição de prestígio e influência para veicular dogmas pessoais. Voltaire e Gibbon, como hoje Richard Dawkins ou Peter Berger, são um perigo para a liberdade maior que Napoleão, Hitler ou Mugabe. Manipular a mente é pior que controlar leis e polícias.
Não me impressiona por aí além que João César das Neves tenha caído na Lei de Godwin. Admiro-me é por incluir Peter Berger na lista dos manipuladores perigosos, ainda que Voltaire, Gibbon e Dawkins também tenham aspetos positivos.
Será o Peter Berger que muitos leem (ou leram, como foi o meu caso, nos anos 90) por causa da secularização, americano de origem austríaca (olhem, a pátria de Hitler), professor em Boston, doutor honoris causa numa universidade jesuíta? É dele uma expressão que entrou na cultura teológica, “rumor de anjos”, para significar os anseios de divino nas sociedades tecnológicas e os sinais de transcendência.
O Google não apresenta outros Peter Berger. E aponta o blogue deste teólogo e sociólogo, aqui. Não o leiam. “Manipular a mente é pior que controlar leis e polícias”, avisa César das Neves. Fui ler. Por sinal, por estes dias, a propósito do furação Sandy, o sociólogo-teólogo lembra o terramoto de Lisboa, quando os católicos diziam que foi um castigo de Deus por causa de haver alguns protestantes em Lisboa enquanto no norte da Europa diziam que era castigo divino por causa de os portugueses serem católicos (texto de 21 de novembro). Tem razão o professor César das Neves. “Manipular a mente é pior que controlar leis e polícias”. E parece que Peter Berger concorda.

14 comentários:

Anónimo disse...

Esse homenzinho das Neves não deve ter ouvido falar de um tal Torquemada e outras historiazinhas que tanto gosta de apagar com a sua borracha tendenciosa e especuladora! Nunca vi mente mais manipuladora e a raiar um fanatismo enfermado dessa ainda tão presente e omnisciente igreja medieval que se esconde envergonhado debaixo de uma capa pseudo-intelectual como esta figurazinha que tem o descaramento de acusar de manipuladora a história! Esse senhor é um dos tais que se dedicam a montar e a fabricar essas mentes brilhantes do neoliberalismo brutal que afunda a Europa na miséria e na fome e ainda por cima numa universidade católica imagine-se! E diz-se esta gente cristã!

maria disse...

Não li o artigo e, como sempre, não perco nada. César das Neves é a bulldozer da História: nivela tudo, segundo a sua leitura monocromática.

Anónimo disse...

Que ridículo o comentário do primeiro anônimo...
Parece que encara a história como dogma, inquestionável, ignorando, todavia, o processo de desconstrução e reescrita da história levada a cabo na atualidade...
parece-me que só aquele que menospreza, despreza e denigre a imagem da Igreja, merece ser ouvido e lido comum pouco mais de atenção...
e assim a sociedade atual afunda, cega que está pelo marxismo cultural que apodrece tudo o que toca...

Anónimo disse...

Ao anónimo das 10:13 a.m.: digo de si o que disse do César das Neves.

Anónimo disse...

Ò Anónimo das 11:36 p.m.

Esses fantasmas ensombrados do marxismo que lhe povoam a mente não lhe permitem um discernimento despido de parcialidades! Ou lê muito pouco o que escreve Cesar das Neves ou então também é daqueles que gosta que lhe sirvam à mesa esse prato que se chama revisionismo regado com um bom vinho negacionista! Já agora, quem come também dessa sopa dos dogmas inquestionáveis é a instituição onde se move o professor, eu nunca provei tal prato! Sou cristão mas não dou abrigo a tais ideias usadas ainda por muitos que tentam desconstruir e construir certas pontes que levam as suas farinhas ideológicas já tão gastas no tempo aos moinhos onde cozem o pão dos seus gostos, não é amigo anónimo!

Anónimo disse...

Ok sr. juiz anónimo das 10:13 a.m.: como deduzo da sua primeira sentença das 08.18 p.m. vexa nem se dá ao trabalho de ler tal a pressa engendrada nesse seu processo kafkiano que aqui esgrime e que é resultado da sua mente brilhante e acusadora que adora dar com o martelo das suas justiças pessoais na mesa das ignorâncias! Ò criatura, ao menos leia o que o homenzinho escreveu, ou cansa-lhe muito os neurónios!

Anónimo disse...

Pois... vá encher chouriços. Deus no céu e você na terra, como já disse.

Anónimo disse...

Em uma palavra, és um cristão sem Igreja...
O que é o mesmo que dizer que... não, não é o mesmo que nada...
Um cristão sem Igreja, simplesmente não é cristão.

Anónimo disse...

Como é o cristão que faz a Igreja e não ao contrário, tomo essas palavras com grande alegria, afinal não é Deus quem salva o homem! E sim, é verdade que sem Cristo não somos nada, mesmo habitando em catedrais e palácios que se alimentam e sustentam da culpa que semeiam aqueles que afirmam como canas rachadas que fora da igreja não há salvação! Fazia muita falta por essas bandas onde coabitam tais trombones papagueantes o Cristo dos azorragues e das mesas derrubadas do templo, era uma grande bênção para limpar muito odre dessas catedrais onde já nem se lhes consegue distinguir o fundo tal o lodo das misérias e hipocrisias humanas ali lavadas! Nem a lixívia das teologias fabricadas por tais criaturas consegue disfarçar a coisa!

Anónimo disse...

Sobre os chouriços olhe que até tenho saudades de um belo chouriço assado em molho de cerveja misturado com aguardente velha! Nunca provou! Acompanhado por uma boa pinga alentejana é de fazer tremer os dentes só de sentir-lhe os estalos da pele a saltitar dos calores em cada trincada! Acredite que nem o frio que anda por ai a moer-nos os ossos lhe consegue ganhar nessa corrida dos tremeliques! Bebo à sua saúde amigo anónimo que esta vida são dois dias e tanto irar só faz mal ao coração!

Anónimo disse...

Pois. Beba mais aguardente velha. Já sabemos qual é o "espírito" que o inspira: não o divino, mas o do vinho. Amén.

Anónimo disse...

Amigo Anónimo 6:39 p.m. - se precisar de contratar mais algumas carpideiras para o ajudar a dar mais tom a essa espiritualidade dos lamentos onde parece gostar tanto de celebrar o Cristo ressuscitado, diga-me, porque infelizmente é coisa que não falta nesses templos dos odres religiosamente guardados pelos olhares e gestos escandalizados dos corações de alguns cristãos dos nossos dias, tudo porque Alguém se atreveu a colocar neles algum vinho para fazer da vida cristã uma festa para sempre!

“Naquele tempo, disse Jesus à multidão: «A quem hei-de comparar os homens desta geração? Com quem se parecem? São como as crianças, que, sentadas na praça, falam umas com as outras, dizendo: ‘Tocámos flauta para vós e não dançastes, entoámos lamentações e não chorastes’. Porque veio João Baptista, que não comia nem bebia vinho, e vós dizeis: ‘Tem o demónio com ele’. Veio o Filho do homem, que come e bebe, e vós dizeis: ‘É um glutão e um ébrio, amigo de publicanos e pecadores….” Lc 7,31-35

Anónimo disse...


Correcção:

Odres não, antes talhas de pedra, porque os odres que ali existiam já rebentaram todos há muito com a força do Vinho Novo! Nesses lugares dos lamentos, apenas resistem ainda as talhas de pedra para purificar as vidas de muitos que se dizem salvos e redimidos, mas que ainda vivem carregados de luto nesse Cristo que teimam em manter na cruz!

Pudera, fosse Ele definitivamente ressuscitado nesses templos e acabavam-se logo as dependências e os manipulares infames dos senhores da lei e da justiça própria nos irmãos mais fragilizados!

Quando chegará o dia da Tua promessa Senhor! Quando chegará o dia dos derrubes de todos os templos para que Tu possas finalmente habitar dentro dos homens e fazeres deles templos santos onde a festa nunca acabe!

Anónimo disse...

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