terça-feira, 30 de outubro de 2012

Mário Soares quer doutrina social da Igreja

Mário Soares no DN de hoje:

1 - A IGREJA E A DOUTRINA SOCIAL CRISTÃ. Num tempo tão difícil em que os desempregados são imensos - e há, pela primeira vez, miséria desde a Revolução dos Cravos -, a Igreja não pode estar calada. Sei que há muitos e bons sacerdotes que protestam e fazem tudo o que podem para ajudar os pobres e os desempregados, bem como as associações cristãs de caridade social.

Mas refiro-me à Conferência Episcopal e ao senhor cardeal-patriarca, que, talvez pela primeira vez, foi infeliz no que disse recentemente. Acredito que a Igreja no seu extenso património também esteja a sofrer cortes. Mas, se assim é, mais uma razão para protestar e não se pôr ao lado do Governo, que é responsável pelas políticas de austeridade, que, como é hoje evidente, nos conduzirão ao desastre total.

O senhor cardeal não gosta de manifestações, está no seu direito. Mas note que, por enquanto, se trata, felizmente, de manifestações pacíficas, de que os católicos se devem lembrar muito bem visto que foram bastante úteis à Igreja, quando, em tempos passados, foram necessárias...

Permito-me dizer-lhe isto porque a doutrina social da Igreja faz-nos muita falta, neste momento tão difícil para Portugal. E não só para os portugueses, para a União Europeia - e para a moeda única -, que estão em perigo grave de desagregação. Como é que pessoas cultas e informadas não veem isto?

O atual Governo, como a esmagadora maioria dos portugueses já percebeu com as políticas de austeridade, está a empobrecer terrivelmente os portugueses e a destruir Portugal, pondo em causa a nossa própria democracia e o nosso património. Dou o exemplo da privatização das águas de que agora se fala e várias outras. Lembrar-se-ão os católicos que Sua Santidade o atual Papa, quando a mesma questão foi posta, em Itália, condenou de imediato e indignado uma tal iniciativa, por a água ser um direito humano comum?

É preciso que os católicos que acreditam sinceramente na doutrina social da Igreja se manifestem contra este Governo que só vê o dinheiro e quer destruir tudo quanto seja social.
O resto, sobre outros assuntos, está aqui. Fica registada a opinião do patriarca da política. Também acho que a doutrina social da Igreja faz muita falta, a começar por princípios tão simples como não gastar mais do que o que tem e pagar as dívidas.

8 comentários:

HD disse...

Completamente de acordo com o gastar mais do que tem e pagar as dividas…
Mas Jorge…
E se na sua Familia de repente, que nunca viveu acima das suas possibilidades e sempre esteve na linha de água …. e sem saber a razão….. ficasse com menos um terço dos seus proventos mensais devido aos impostos, que terá que pagar, por dividas que nunca contraiu?
O que equacionaria?
Pagar as dividas ao mesmo ritmo, sabendo que privaria os seus filhos de parte de alimentação?
Ou qual dos seus filhos, escolhia para não ser alimentado?
E se porventura , passado um mês , um dos conjugues ficasse sem emprego , reduzindo-se a UM TERÇO os proventos mensais…
Quem expulsaria de casa, para garantir os seus compromissos de crédito e continuar a sobreviver? 2 filhos? O Conjugue que ficou sem emprego?
Não seria avisado, desde logo tentar aos primeiros sinais de crise domestica, renegociar a divida?
Não fazer nada , levará a sua família ao colapso…e nunca pagará divida nenhuma.
E as pessoas não são coisas….
É isto que em breve vai acontecer a Portugal, afirmado pelos melhores economistas. Veja-se a Grécia…
Sim cumprir com as nossas obrigações, mas sem enviar ninguém para o INFERNO.
E o que está a acontecer diariamente ( só não vê quem lhe dá jeito ser cego) é descartarmo-nos de imensas PESSOAS para o lixo.
O Jorge vai conseguir dormir, sabendo que todas as noites a roleta russa deitou ao Inferno mais não sei quantas famílias?
Eu tenho muitas noites de insónias...
E isto só tem a ver com a Doutrina Social da Igreja!!
HDias

Anónimo disse...

Ninguém vive sozinho. O problema é que enquanto nós contamos tostões, quem nos trouxe para aqui, com o beneplácito deste "fóssil político" que nunca se preocupou na DSI durante o reinado do dito cujo, conta nuvens. Onde estávamos nós quando o nosso vizinho vivia acima do que o seu dinheiro lhe permitia? Falámos com ele? Alertámos para o que nos (a começar por ele e a acabar em mim por arrastamento social) poderia acontecer? Não, pois não? Onde estava esta "fóssil político" a preocupar-se com a DSI quando o FMI veio para cá durante o seu consulado? E se, por estar preocupado com a DSI, prescindisse das verbas para a sua fundação? Também, tudo isto tem a ver com a DSI.

Fernando d'Costa

Helena V. disse...

Quem gastou mais do que podia? E que esquema de endividamento de uns e correlativo enriquecimento de outros nos conduziu aqui e nos tenta convencer da inevitabilidade do empobrecimento e da miséria? A DSI não se resume a uma moral de obediência cega e acrítica a lógicas de mercado que esmagam a dignidade das pessoas. Não se resume ao "bom conselho" de "pagar as dívidas". Porque... (volto ao pricípio)dívidas contraídas por quem?
Sem tempo para dizer muito mais, digo apenas que concordo com o HDias.

Anónimo disse...

Boa tarde Helena,

olhe, faça as seguinte contas a individuais, casais, famílias, câmaras, juntas de freguesia, Estado, fundações:

dinheiro disponível - dinheiro gasto = X

se este X for menor do que 0, aí tem a resposta

dúvida que anda por aí muito X < 0? eu não.

Mas a questão de fundo é a incoerência do senhor Soares. Onde estava ele quando a DSI estava a ser violada pelos governos anteriores do PS? Ele fala agora pois devem-lhe ter dito que é esse o modo de arrebanhar os católicos descontentes com o Governo a engraçarem com o PS. Disso não tenho dúvidas.

Fernando d'Costa

Helena V. disse...

Toda a razão, caro Fernando d'Costa. Mas não intervim para defender Mário Soares. Do mesmo modo, devemos manter alguma clarividência quanto ao estado de coisas actual. E na DSI temos pensamento produzido sobre esta matéria. Que venha a lume, para bem "de todos os homens e do Homem todo"!

HD disse...

A questão primordial não é essa!
È pura perca de tempo agora ver quem tem culpa- juntem-nos todos num molho da esquerda á direita e julguem-nos num país com justiça decente, que não o nosso. Ai sim!
Só quem tem falta de senso, não vê que falta dinheiro para os gastos.
A Pergunta essencial : é quem vai ser atirado borda fora do Português comum, visto que o dinheiro não chega ?
Tu ou Eu ? O meu ou o teu filho? A minha mãe ou a tua? A minha mulher ou a tua?
Porque o que já está a acontecer ,não é um simples apertar o cinto….
É muitos ficarem sem NADA e ficam no vazio.
A semana passada só num ponto de Lisboa, das voltas de sem abrigo cerca da 01:00 da manhã duplicaram numa semana o nº de pessoas que ficaram sem nada ( de 3\4 sem abrigos recentes passaram para mais de 10) agora multipliquem isto vezes 25 pontos na cidade x 4 voltas diferentes diarias em Lisboa e não somos a única associação ….aumentou-se o nº de refeições entregues, mas como os recursos diminuíram(porque será?) temos que fazer um “ certo milagre demais pão com menos farinha” …
Sentimos perfeitamente o nº de gente que se abeira das carrinhas que não come há mais de 24 horas...e não o “vulgar sem abrigo”
Este é novo : gente despejada, sem emprego, pessoas despedidas com 50 anos sem familia, vulneráveis, aflitíssimos , ...
São estes a primeira linha que engrossa a miséria do dia a dia…e ainda não está cá as medidas draconianas que se avizinham com o novo Orçamento 2013 !!! Então como será?
Pergunto: nessas contas que qualquer leigo já percebe,sabem quanto pagamos de juros?
Pois é…o importante é pagar, mesmo que todos os dias trucidemos uns quantos milhares de pessoas para o Inferno – não somos nós, mas tem que ser –
Mas quem se pode achar católico e apoiar este tipo de medida assassina?
E porque não RENEGOCIAR A DIVIDA?
Pois não podemos deitar irmãos nossos para o Lixo todos os dias?
É que falar de austeridade para os outros,insensivelmente de barriga cheia, tolda-nos a Fraternidade que deveria ser elementar.
As culpas neste momento é o que menos me preocupa…pois as caras dos que sofrem deveriam preencher a nossa argucia e engenho para sairmos desta situação , sem ASSASSINAR ninguém.
HDIAS

Anónimo disse...

Caro HDias,

a minha questão e, creio que também, do Jorge é a incoerência do senhor Soares. Para mim isso é o decisivo: se ele estivesse verdadeiramente preocupado com a DSI (que apela ao pagamento das dívidas por parte de todas as pessoas de bem) tinha falado nela antes e por ela se tinha regido quando foi PM.

De qualquer modo é isso mesmo: renegociemos a dívida pois é isso que os Bancos fazem quando a eles nos dirigimos quando não pagamos impostos. Ah, pois... não se trata de uma paralelismo adequado: os Bancos oferecem, e publicitam, empréstimos; no nosso caso fomos nós que nos dirigimos a quem não tem essa vocação de dar empréstimos, pois para o fazerem teriam que tirar riqueza a quem já nos deu continuamente muito dinheiro. E que tal um perdão parcial da dívida? Não foi isso que aconteceu na Grécia? Foi, e a situação ficou muito pior pois em simulações de regresso ao mercado os juros que a esse país se pediria para lhe dar dinheiro passaram dos (já de si incomportáveis) 14% para os 21%.

Que lhe parece?

Fernando d'Costa

HD disse...

Quando surgir em Portugal o que já se faz na Grécia depois falamos….
Fruto das medidas recentes na Grécia quem fica desempregado tem Assistência medica por um ano. Findo esse tempo se quiser saúde …paga!! ??
"Hoje, na Grécia, estar desempregado significa um bilhete para a morte"
HDias

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