sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Coisas que não deviam passar despercebidas (1): Edith Stein morreu há 70 anos

Edith Stein em 1926

Edith Stein, a discípula preferida se Edmund Hurssel, morreu há 70 anos. Completados ontem. Andrea Tornielli escreveu no sítio “Vatican Insider” sobre a carmelita judia que é copadroeira da Europa. Reproduzo o texto que saiu no IHU.

Há 70 anos, morria em Auschwitz a Irmã Teresa Benedita da Cruz, ou Edith Stein, filósofa. Ela nascera em uma família judaica, havia se batizado e, depois, entrara no mosteiro das Carmelitas de Colônia, na Alemanha. Em 1939, encontrava-se no Carmelo de Echt, na Holanda, e foi capturada em julho de 1942, durante as blitz nazistas que se seguiram à carta de denúncia das deportações, assinada pelos bispos católicos dos Países Baixos e lida em todas as igrejas. Até aquele momento, os nazistas haviam poupado os judeus batizados: foram capturados cerca de 300 religiosos de origem judaica. 
Cristiana Dobner, em um artigo publicado pela agência SIR, lembra que o jornalista Van Kempen conseguiu contatá-la no campo de triagem e se encontrou diante de "uma mulher espiritualmente grande e forte". Ela não quis fugir nem receber um tratamento diferente dos outros judeus. "Ela me disse: 'Eu jamais poderia acreditar que os homens pudessem ser assim e que os meus irmãos tivessem que sofrer tanto!'. Quando não havia mais dúvidas de que ela seria transportada para outro lugar, eu lhe perguntei se eu poderia ajudá-la (tentar libertá-la); novamente, ela me sorriu suplicando-me que não. Por que abrir uma exceção para ela e para o seu grupo? Não seria justiça tirar vantagem do fato de ser batizada! Se não pudesse participar do destino dos outros, a sua vida estaria arruinada: 'Não, não, isso não!'". 
Edith Stein repetia que não havia traído o seu povo ao reconhecer Jesus como Messias. Ela seria proclamada bem-aventurada por João Paulo II em 1987 e santa em 1998. No ano seguinte, também copadroeira da Europa. No dia 12 de abril de 1933, Stein escreveu uma carta ao Vaticano, dirigida ao Papa Pio XI. Ela a enviou através do arquiabade beneditino de Beuron, Raphael Walzer, ao cardeal secretário de Estado, Eugenio Pacelli. 
"Padre Santo! Como filha do povo judeu, que pela graça de Deus é há 11 anos filha da Igreja Católica, me atrevo a expressar ao pai da cristandade o que preocupa milhões de alemães. Há semanas, somos espectadores, na Alemanha, de acontecimentos que envolvem um total desrespeito da justiça e da humanidade, sem falar do amor ao próximo. Durante anos, os líderes do nacional-socialismo pregaram o ódio contra os judeus. Agora que conquistaram poder e armaram os seus seguidores – entre os quais há conhecidos elementos criminosos – recolhem o fruto do ódio semeado". 
Depois de falar dos muitos casos de suicídio de judeus submetidos a vexações pelos nazistas, Edith Stein acrescentava: "Pode-se considerar que os infelizes não tivessem suficiente força moral para suportar o seu destino. Mas se a responsabilidade em grande parte recai sobre aqueles que os levou a tal gesto, ela também recai sobre aqueles que se calam". 
"Tudo o que aconteceu e o que acontece cotidianamente vem de um governo que se diz 'cristão'. Não só os judeus, mas também milhares de fiéis católicos da Alemanha e, creio, de todo o mundo esperam e confiam há semanas que a Igreja de Cristo faça ouvir a sua voz contra tal abuso do nome de Cristo. A idolatria da raça e do poder do Estado, com a qual a rádio martela cotidianamente as massas, não é uma aberta heresia? Essa guerra de extermínio contra o sangue judeu não é uma ultrajem à santíssima humanidade do nosso Salvador, da Santíssima Virgem e dos Apóstolos? Não está em absoluto contraste com o comportamento de nosso Senhor e Redentor, que, mesmo na cruz, rezava pelos seus perseguidores?". 
"Todos nós – concluía a filósofa – que olhamos para a atual situação alemã como filhos fiéis da Igreja tememos o pior para a imagem mundial da própria Igreja, se o silêncio se prolongar ainda mais. Estamos convencidos de que esse silêncio não pode a longo prazo obter a paz do atual governo alemão. A guerra contra o Catolicismo ocorre em silêncio e com sistemas menos brutais do que contra o Judaísmo, mas não menos sistematicamente". 
Como se pode ver, uma denúncia específica e clarividente, acompanhada pelo pedido de um posicionamento por parte da Santa Sé contra o nazismo. A Santa Sé respondeu à carta de Stein. O cardeal Pacelli, escrevendo em alemão, respondeu ao arquiabade beneditino Walker ainda no dia 20 de abril de 1933, informando que a carta "foi devidamente apresentada à Sua Santidade". 
Em 1937, Pio XI publicaria a encíclica “Mit Brennender Sorge”, na qual a ideologia nacional-socialista é condenada como pagã e anticristã.

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