Michel Hubaut
Do Corpo Mortal ao Corpo de Luz
Gráfica de Coimbra 2
238 páginas
Tendo como subtítulo “Fundamentos e significado da ressurreição”, este
livro parte da constatação de que a esperança cristã aparece como pouco
atraente na cultura atual. Centra-se depois na análise dos textos do Novo
Testamento que falam da ressurreição. E numa terceira parte fala da “fé na
ressurreição de Cristo e a nossa transfiguração”.
Para falar do que promete a fé cristã, o autor prefere o termo
transfiguração a ressurreição. Mas os termos são intercambiáveis, já desde as
páginas bíblicas, em que a Transfiguração de Jesus aponta para a Ressurreição.
Numa entrevista, esclareceu que “a palavra ressurreição continua a ser um pouco
abstrata. A palavra transfiguração visa a mesma realidade. É a tradução da
palavra grega «metamorphosis». Ela fala mais ao imaginário. Todas as crianças
sabem muito bem o que é a metamorfose, a do bicho-da-seda, por exemplo, que
deixa a sua crisálida para desenvolver asas de borboleta. Transfiguração tem a
noção de mudança de forma”.
Hubaut detém-se em cada uma das passagens do Novo Testamento sobre a
ressurreição de Jesus, no que constitui um ótimo guia para descobrir o sentido
de muitas das leituras que são proclamadas no tempo litúrgico pascal. Mas o
grande objetivo da obra é atingir cada leitor no momento presente. De pouco
adianta falar da ressurreição de Jesus se ela nada tiver a ver com a nossa
vida. Por isso, o capítulo mais que atualiza para nós a mensagem que mudou o
mundo (“Ele está vivo!”) tem como título “Chamados a ser transfigurados, a nossa
ressurreição começa hoje. Jesus transfigurado esclarece o seu itinerário pascal
e o nosso”. E aí se realça que, porque a transfiguração já começou, a esperança
cristã em vez de nos desmobilizar, impele-nos à transformação (transfiguração)
do mundo em mais justiça, mais solidariedade, mais desenvolvimento, mais
fraternidade (p. 210).
Para esta obra – e muito outros autores, principalmente da área da
Bíblia e da antropologia – , a doutrina católica é capaz de não ser lá muito
cristã quando fala do que acontece após a morte. Linguagem defeituosa do corpo
e alma, demasiado colada aos conceitos gregos, como aparece no Catecismo e em
algumas homilias. Escreve Hubaut:
“Segundo a doutrina oficial da Igreja Católica, só a alma sobrevive
depois da morte biológica, uma alma que tem de esperar pela última Vinda de
Jesus no fim dos tempos, para reencontrar o seu corpo. Este cenário não é muito
coerente com as aparições de Cristo pascal, nem sequer com o conjunto da antropologia
bíblica. Podemos perguntar se o cristianismo não se trará deixado contaminar um
pouco pelo «dualismo platónico» segundo o qual a alma é uma entidade
espiritual, autónoma, prisioneira do corpo” (pág. 112).
O último capítulo é “Ressurreição ou reincarnação”. Impõe-se o
esclarecimento, já que a reincarnação bem ganhando terreno no mercado ocidental
das crenças, ainda que, como defende o autor, não seja compatível com os
conceitos judeocristãos de Deus, Homem, História e Mundo.
Michel Hubaut, padre franciscano, é autor de mais de duas dezenas de
livros de teologia e espiritualidade. Anima o centro de espiritualidade e de
peregrinações das Grutas de Santo António (o português), em Brive, no centro de
França, e é conselheiro de uma associação de pais que perderam filhos.
2 comentários:
Pena que a igreja católica não trate estes assuntos com mais transparência e com mais seriedade.
De qualquer modo, ainda bem que alguém o fez, ainda que com bastante hermetismo.
Obrigado pelo comentário. A ressurreição é de facto algo de que não se fala. Afirma-se, mas nãos e pensa no assunto. Por que será?
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