quarta-feira, 2 de maio de 2012
Ortodoxia dramática
Os homens habituaram-se, loucamente, a falar da ortodoxia como de qualquer coisa pesada, estúpida e segura. Nunca houve coisa tão perigosa ou tão excitante como a ortodoxia. Era a sanidade: o ser são é mais dramático do que ser louco.
Chesterton, "Ortodoxia" (Livraria Tavares Martins, 1947), 163.
Citação com certeza ao gosto de alguns dos leitores ortodoxíssimos que de vez em quando comentam neste blogue. Mas faço notar que, segundo Chesterton, agora outra vez tão em voga em alguns círculos, se a ortodoxia não é pesada, porque libertadora, nem estúpida, porque sabedoria, também não é segura, porque plural. A ortodoxia não é unívoca, desde o princípio. Pensemos nos quatro evangelhos, diferentes, complementares e irreconciliáveis, para não dizer contraditórios. Está dito. A ortodoxia é dramática. Por isso é que Chesterton andava frequentemente despenteado.
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1 comentário:
Comecei a ler o livro algum tempo depois de lidar com alguém ”ortodoxíssimo” que falava dele como de um grande trunfo do catolicismo "puro", numa lógica que me parecia aproximar-se do “toma, toma, os meus argumentam melhor que os teus!”
Mas em vez de encontrar um tanque avançado contra o mundo, e um Chesteron hostil de dedo erguido em acusação, encontrei o Chesterton despenteado, cheio de sentido de humor, que sinto mais próximo do que o Jorge aqui diz da ortodoxia do que se poderia imaginar numa leitura apressada. Em "Moral do País das Fadas", por exemplo, vejo uma defesa do maravilhamento perante a vida ("a manutenção quotidiana do fulgor", como dizia não sei onde Tolentino Mendonça, acerca da Maria Gabriela Llansol), numa linguagem que não me parece particularmente conivente com a linguagem pesada, dogmática e acusadora dessa mesma facção que tenta fazer do Chesterton uma bandeira.
Fazendo uma analogia abusiva, passa-se com o Chesterton o mesmo que se passa com a Bíblia (e com quase tudo, no fundo): cada um vê lá o que quer. Eu, como o Jorge, também vejo o Chesterton despenteado.
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