sábado, 24 de março de 2012

Os "mea culpa" de João Paulo II


Quando num comentário falei dos pedidos de perdão de João Paulo II, em nome da Igreja, que culminaram no grande pedido do Jubileu 2000, pareceu-me que falava de uma novidade, a julgar pelas respostas ao meu comentário.


Para que não haja dúvidas, aqui fica um livro de 1997 (1998 em Portugal), quando os pedidos de João Paulo II já iam em 94 sobre 21 questões. Evidentemente, em algumas das questões, das Cruzadas a Galileu, da Inquisição à relação com os ortodoxos e protestantes, houve intervenções diretas dos papas.

Lembro-me bem de que no final do milénio passado alguns sectores da Igreja não aceitaram bem estes pedidos – como hoje, pelos vistos. Não era possível pedir perdão pelos erros do passado sem pensar que alguns deles foram cometidos com o consentimento e mesmo com a liderança do papado. Isso só causa problemas a quem tem uma ideia errada da identidade da Igreja. João Paulo II pediu perdão para purificar a memória. A de alguns ficou tão purificada que se esqueceram desta história recente.

Curiosamente, ao reler o prefácio desta obra, também me lembrei de algumas coisas de que já tinha esquecido. Esta, por exemplo: Paulo VI também pediu perdão. E, antes dele, o último a confessar os pecados da Igreja foi Adriano VI (1522-1523), o último papa não italiano antes de João Paulo II. Entre Adriano VI e Paulo VI (do séc. XVI ao séc. XX) sabemos bem o que aconteceu e qual a eclesiologia dominante. Aconteceu Trento, por exemplo, e o Vaticano I, entre outras coisa boas e más. Em Trento e no Vaticano I a eclesiologia dominante foi a da Igreja como sociedade perfeita. Numa sociedade perfeita por definição como poderia ter lugar um pedido de perdão? Os perfeitos não erram.

29 comentários:

Anónimo disse...

caro amigo... poderia, por favor, apresentar-nos aqui o texto do pedido de perdão do Papa pelas Cruzadas? É que creio, honestamente, que não existe. Obrigado.

Fernando d'Costa

Anónimo disse...

E agora, estamos numa sociedade eclesial perfeita? Quando vem Bento XVI dar continuidade aos pedidos de perdão? Já pediu pela nojenta pedofilia de alguns membros da Igreja... e os outros pedidos de perdão, quando saem? Mas esta gente não se enxerga? Cometem tantos, mas tantos pecados daqueles que elencam como pecados mortais que nem sei como ainda têm lata de se denominar Igreja.

João Silveira disse...

Se o Papa realmente pediu desculpa pela existência da Inquisição e pelas Cruzadas, e não apenas pelos abusos feitos por certas pessoas, então teria que ter "descanonizado" S.Pio V, que exerceu o cargo de Supremo Inquisidor da Igreja; S.Bernardo por ter pregado a Terceira Cruzada; e "desbeatificado" o beato José de Anchieta sj por ter evangelizado os índios e secundado a conquista do Brasil pelos colonizadores portugueses.

Isto entre muitos outros. Essa tese não colhe, amigo Jorge.

Anónimo disse...

Talvez teria mesmo... mas não creio haver uma tal ousadia e coragem profética na cúpula da igreja...

Anónimo disse...

Claro que não podemos condenar diretamente Pio V, Bernardo e Anchieta por apenas reproduzirem com suas ações a mentalidade reinante na época... mas podemos sim, e devemos, denunciar tal mentalidade, para que ela nunca mais se repita... o que tristemente parece que está querendo acontecer nos dias de hoje... fruto de cabeças nostálgicas e desejosas da volta do modelo de uma igreja triunfante (tão diferente das primeiras comunidades apostólicas)... haja visto também tanta luta por manter ou reconquistar privilégios pelos membros da hierarquia... parece que do tesouro da tradição, do qual se deveriam tirar coisas velhas e novas, só se preferem as velhas...

PS.: Não creio que um modelo inquisitorial e que prega cruzadas se parece com o que Jesus tinha em mente para a "Sua Igreja"

Leandro.

Jorge Pires Ferreira disse...

Concordo consigo, Leandro. Acrescento que é próprio da vivência da Igreja valorizar mais um ou outro modelo (os santos) e ir esquecendo um ou outro. Tantos foram os santos que "desapareceram" na última revisão do calendário litúrgico... Por outro lado, não tenhamos receio em pensar que uma pessoa que foi declarada santa numa época, se o processo decorresse noutra não o seria. O nosso olhar sobre a história é sempre um olhar interpretativo. Por outro lado, santo não quer dizer perfeito. Mesmo o maior santo terá zonas sombrias. Claro que houve pessoas santas na Inquisição, como as haverá hoje nas grandes empresas que até podem ser causa de desgraça para muitas pessoas.

A lógica silveiriana é misturar para iludir - o que é bom para provocar.

Tive um professor que dizia: "Quem não distingue, confunde" - o que é melhor para esclarecer.

João Silveira disse...

Amigo Leadro, a sua superioridade moral para julgar outras épocas mostra muita falta de humildade. Viva o seu tempo e deixa estar que os antigos foram julgados consoante a época em que viveram.

Amigo Jorge, muito obrigado pela lição de falibilidade em canonizações. Ficámos a saber que um santo só o é porque o status quo quer, e na realidade pode até não estar no Céu. Viva o relativismo!

Anónimo disse...

Ah claro... é isso mesmo que Jesus espera de nós, caro João... que façamos vistas grossas aos erros e intolerâncias do passado para podermos repeti-los no presente...
E obrigado pelo seu elogio, afirmado minha superioridade moral e falta de humildade, que em nenhum momento quis aparentar...
mas é necessário que nos acostumemos a sermos 'elogiados', por aqueles que carecem de melhores argumentos...
Caro João, arranque esta trave que te impede de enxergar a realidade, antes de querer cutucar o cisco no olho dos irmãos...

Leandro.

Jorge Pires Ferreira disse...

Eu não disse que há santos que não são santos. Disse que também sobre o que pensamos ser santo, enquanto modelo humano do seguimento de Jesus, pesa a historicidade.

A lógica do João é que bem por ai destramalhada e leva tudo à frente. Menos ímpeto, meu amigo.

Há santos que imaginam que bebem do leite de Maria que não me parecem modelos adequados aos tempos que correm. Leite branco, não qualquer coisa de espiritual. Por exemplo.

Há santos que chamam à mulher "saco de excrementos". Aconselha à sua mãe/irmã/filha (não sei que idade tem, nem qual a sua condição familiar) devoção por este santo?

Mas não estou a descanonizar ninguém - era o que faltava. Por outro lado, noto que Bento XVI pôs um travão em muitos processos. Ele lá saberá porquê. Aliás, todos sabemos. Havia processos mal conduzidos. Um deles até tinha data marcada.

Quantas canonizações não houve por questões políticas? Alguns até são heróis nacionais - não, não estou a falar no nosso Condestável. A compris?

Pergunta-me se são santos? Sei lá se são santos. Não sou obrigado pela fé a acreditar neles em particular. Não são eles que salvam. Na "comunhão dos santos", sim. Neste ou naquele santo, depende.

Felizmente há tantos santos que podemos escolher os que mais nos ajudam a caminhar - incluindo os que não são declarados santos.

João Silveira disse...

Amigo Leandro, o passado deve ser julgado tendo em conta o contexto histórico, a mentalidade da altura, e muitos outros factores que não está em condições de avaliar.

Se me disser: a escravatura é má! Concordo plenamente. Mas achar que é melhor do que uma pessoa que tenha convivido com a escravatura isso já não concordo, porque simplesmente não estou em condições de fazer esse julgamento.

É muito fácil olhar para o passado e achar que nós somos o supra-sumo dos direitos humanos e antigamente eram os bárbaros. A título de exemplo digo que nesta sociedade tão evoluida morrem 60 bebes por dia, só em Portugal, mortos pelos próprios pais e pagos com o dinheiro dos nossos impostos. Parece-me mais útil preocupar-se com isto.

João Silveira disse...

Amigo Jorge, incentivo toda a gente a rezar a todos os santos, sem nenhuma excepção. Para mim todos são modelo e exemplo a seguir. Outros há que também não modelos a seguir, mas (ainda) não foram canonizados.

Mas não julgo as canonizações à minha maneira nem com a mentalidade que tenho, confio no julgamento da Igreja.

Anónimo disse...

João, leia bem o que escrevi, em nenhum momento me referi a uma pessoa específica classificando-a como 'má', e nem mesmo me considerei melhor do que ninguém... parece que a sua cegueira se reflete também ao tirar do que lê apenas aquilo que quer e fazer disto um cavalo de batalha... continuo acreditando que devemos sim julgar o passado (não as pessoas)para não repeti-lo... não foi o que fez João Paulo II ao pedir perdão??? ou será que ele tb se achou melhor do que os papas do passado, que se não todos incentivaram, foram coniventes com situações de injustiça gritantes aos nossos olhos de hoje... ah, mas obrigado por me 'esclarecer' que não estou em condições de avaliar os fatores e contextos da sociedade passada, talvez daí você tire que por não estarmos em condições de avaliar o passado, também não temos direito de desejar que ele não se repita, com todos os seus erros e desmandos... eu, por minha vez, e sei que não sou o único, pois disto vive a ciência da história, acredito que nós estamos melhor capacitados para interpretar o contexto e os fatores passados, uma vez que não estamos diretamente envolvidos por ele, podemos julgar imparcialmente, e tirar lições valiosas da história...
Também não disse, em momento algum, que nossa sociedade atual é o supra-sumo dos direitos humanos, mas sei, assim como João Paulo II em seu pedido de perdão, que todos, sociedade e Igreja, ainda temos muito para melhorar, e só o fato de conseguirmos nos desvencilhar dos modelos retrógrados e opressores do passado, já nos seria um grande avanço, não o único, é óbvio...
Mas parece que na sua visão estreita de mundo e da Igreja, não há nada que possamos aprender, ou melhorar, ou superar, para sermos mais fieis às prioridades do Evangelho...

Leandro

Anónimo disse...

Caro João :

ALL YOU NEED IS LOVE

João Silveira disse...

Amigo Leandro, se essa mentalidade, seja lá qual for, estava tão errada não se percebe que tipo de santos alinharam nessa barbárie. Daí que faça sentido pedir que deixem de ser santos. Eu não digo que sou melhor nem pior do que alguém que viveu há 500 anos, não estou preparado para fazer um julgamento desses.

É mais fácil imaginar que o pedido perdão recaia sobre o saque de Constantinopla, por exemplo, do que sobre todas as Cruzadas, que em certa medida foram uma guerra justa. E se, nada nas Cruzadas foi justo, e nada devia ter acontecido, então todos os envolvidos têm culpa, mais ou menos grave consoante as responsabilidades e o seu conhecimento. O que na prática faz com que nenhuma dessas pessoas possa ser um santo, um modelo a seguir.

Dos tantos julgamentos que já fez ainda não o vi fazer nenhum sobre a situação da sociedade actual, os problemas da mentalidade actual, e em que é se afasta dessa mentalidade e como luta contra ela.

Anónimo disse...

Caro João, pare de ser ignorante e distorcer o eixo da discussão. Aqui estamos falando do passado, e do perdão que a Igreja pediu pelas culpas do passado, não estamos falando da sociedade atual e suas barbáries. Quando surgir este assunto, então discutiremos sobre ele.
Veja se limpa suas lentes e leia com atenção que já disse-lhe mais de mil vezes que não me considero melhor do que ninguém do passado e não estou dizendo que nenhum santo do passado que, por ignorância invencível, se assim o quiser, esteve alinhado com essas atrocidades, deva deixar de ser santo, por que neste caso o que conta é se tiveram boa intenção e agiram sem maldade.
O que tentei lhe dizer é que sim, acho que podemos olhar para o passado e não repetir os seus erros. Os santos que apoiaram tais erros o fizeram por terem sido frutos da sua época também, cheios de limitações pois humanos também, não lhes tiro sua fama de santidade, mas acho que hoje já estamos mais bem informados, hoje não há mais justificativa para que a alguém venha defender inquisição ou o que seja.
Você até que pode não se dizer melhor ou pior do que ninguém que viveu há 500 anos atrás, mas é gritante sua arrogância em tentar se parecer melhor do que aqueles com quem argumenta, parece-me que esta a tentar bancar o verdadeiro, e único fiel e guardião da santa e imutável retrógrada doutrina de uma cristandade, onde todos se sujeitam ao papa e à cúria, e sofrem com inquisições, cruzadas e batalhas 'em nome de Deus'.... me desculpe, mas esse tipo de regime sócio-politico-religioso já acabou... ou acabamos com esta mentalidade intolerante e que quer gozar, recuperar e manter seus privilégios, ou ela acabará conosco.
Não pretendo continuar debatendo contigo neste artigo.
Passar bem.

Leandro.

Jorge Pires Ferreira disse...

Obrigado pela sua responda sensata, Leandro, que subscrevo completamente.

Anónimo disse...

Repetir-me-ei:

caro amigo... poderia, por favor, apresentar-nos aqui o texto do pedido de perdão do Papa pelas Cruzadas? É que creio, honestamente, que não existe. Obrigado.

Fernando d'Costa

Jorge Pires Ferreira disse...

Caro Fernando, talvez ainda encontre o livro numa qualquer livraria. Posso enviar-lhe fotocópias se me der a sua direção.

João Silveira disse...

Amigo Leandro, por essa ordem de ideias, alguém que participasse na matança injusta de inocentes poderia ser um santo, basta para isso que tenha agido com "boas intenções". Até o Hitler tinha boas intenções, um mundo melhor. É uma intenção óptima, mas o meio escolhido é mau, por isso não é um exemplo a seguir, é um mau exemplo.

Se o Papa pediu perdão por pessoas que agiram por boa intenção e não têm culpa, então o pedido de perdão não faz sentido. Ninguém se pode confessar do que não fez. O Papa só pode pedir desculpa por erros, ou seja por faltas cometidas por pessoas concretas, e não por nenhuma mentalidade nem pela doutrina da Igreja.

Existem muitos mitos por aí, e muita desinformação em relação ao passado da Igreja. Por ex. já ouvi neste blog ser dito que um Papa era contra as vacinas. Ora essa história foi inventada: http://www.gazetadopovo.com.br/blog/tubodeensaio/?id=1091182&tit=lorota-da-semana%3A-o-papa-que-proibiu-a-vacinacao, por isso se calhar devia investigar melhor e reformular algumas opiniões.

Jorge Pires Ferreira disse...

João, obrigado por desmentir o que eu não disse. Isso não é repor a verdade. É manipulação. Quando escrevi que houve papas contra as vacinas, não pensava em Leão nenhum. Pensava num Pio. Vá, por isso, descobrir se o que dizem dele (descubra qual, pf.) é mentira e depois poderemos - ou não - continuar a falar do assunto.

Já agora, nas suas pesquisas, descubra os papas que não gostavam de caminhos de ferro nem de iluminação pública, que repudiaram os direitos humanos e a liberdade de consciência, para já não falar da liberdade religiosa. E desminta tudo isso.

(Bem, quanto à liberdade religiosa, provavelmente achará que é uma triste concessão, dada a fraqueza de espírito dos nossos irmãos não católicos).

Note que com isto não quero sacralizar os erros. Quero dizer que não devemos ter medo do passado. Quero relativizar o papado, sim. O papado é relativo, isto é, tem relação e dependência para com a Igreja e Cristo. Mais do que isso...

João Silveira disse...

Amigo Jorge, faça favor: http://ethique-alsace.unistra.fr/fileadmin/upload/DUN/ethique/Ressources_doc/Otteni_Berce.pdf

Mesmo assim, já disse as condições da infalibilidade do Papado e do magistério, não me ponha outra vez a explicar porque é que o Papa não é infalível em previsões futebolísticas.

Em relação a julgamentos passados pode ler o que publiquei hoje no meu blog: http://senzapagare.blogspot.pt/2012/03/quando-os-mensageiros-traem-mensagem.html

Jorge Pires Ferreira disse...

João, começo a pensar que você é obtuso. Responde-em com textos sobre Leão. Eu falei de Pio. Investigue mais porque essas respostas feitas responde a outras perguntas, não às minhas.

O Papa não é infalível em previsões futebolíticas? Como pode ser infalível no maior e não ser no menor? Era tão útil se fosse. Como dizia um outro papista, quem me dera todos os dias ter pela manhã, a par to "Times", um encíclica com pronunciamentos infalíveis do Santo Padre.

Não me explique outra vez porque, na realidade, nunca lhe pedi que me explicasse vez alguma. Para mais, porque haveria de aceitar explicações, quando você é um pobre desgraçado, como escreveu há dias?

Explica sobre o que não lhe pedem (porque dá jeito), iludindo outros assuntos abordados (que são incómodos).

Razão tinha um professor meu que dizia que havia a "humildade de anzol".

Vocês faz da humildade um argumento de arrogância.

Bernardo Motta disse...

Caro Jorge Ferreira,

Acompanhei perplexo o que se desenrolou nestas caixa de comentários. Custa-me a acreditar que um católico tenha especial interesse em propagar um boato falso sobre um Papa, qualquer Papa.

Tenho a certeza de que não o fez por má vontade.
A alegada condenação da vacinacão por Pio VII tem a mesma credibilidade da alegada condenação da vacinação por Leão XII, ou seja, NULA.

O João Silveira, no seu último comentário, deixou-lhe um link bastante adequado, pois contém todos os detalhes históricos necessários para arrumar de vez com essa fantasia dos papas anti-vacinas.

Peço-lhe, já não como católico, mas como pessoa interessada na verdade, que dedique pelo menos o mesmo tempo que dedica a alimentar esta discussão agressiva entre irmãos na fé, que dedique o mesmo tempo à leitura do artigo que o João Silveira lhe deu.

Custa-me assistir a tudo isto.
Não sei o que o anima contra o João Silveira, pois não tenho acompanhado as vossas discussões anteriores, mas é tão evidente (para quem estudou minimamente o assunto das lendas antipapais acerca das vacinas) que o João tem razão, que é confrangedor assistir a esta sua defesa do indefensável.

Por favor, leia o artigo de Bercé e Otteni. E depois voltamos ao debate.
Claro que não contará comigo para branquear os erros do passado da Igreja. Mas também não contará comigo para juntar a minha voz aos que alimentam o mito do conflito entre Igreja e Ciência através da patética repetição acrítica de lendas anticatólicas com séculos de idade.

Hoje em dia temos a Internet.
Podemos estudar, pesquisar, com meios impossíveis para os nossos antepassados.
Não façamos ofensas à nossa inteligência rejeitando a informação que é tão fácil de encontrar, quando se procura.

Um abraço,

Bernardo Motta

Bernardo Motta disse...

Jorge,

Quero também deixar clara a minha posição sobre o tema em debate nesta caixa de comentários. O João Silveira tem toda a razão no que escreve. Apenas por desconhecimento dos factos históricos se pode alegar que a Inquisição ou as Cruzadas só tiveram efeitos negativos. Seria incoerente, imprudente e insensato, e sobretudo injusto, se um Papa pedisse desculpa pela Inquisição como um todo, ou pelas cruzadas como um todo.

Só para dar dois exemplos, a Inquisição livrou a Europa da calamidade do catarismo. Até ao advento moderno do aborto e da eutanásia (duas ideias queridas dos cátaros), devemos agradecer à Igreja Católica o facto de ter salvo a Europa da indigência moral do catarismo. Não defendo de forma alguma a violência física contra os cátaros, mas não há dúvidas de que eram muito perigosos e a Europa só ganhou com o fim dessa maldita heresia.
No segundo exemplo, posso referir o facto óbvio de que sem o movimento da Cruzada cristã, hoje o seu blogue, se existisse sequer autorização para tal ao abrigo da "sharia", chamar-se-ia "Tribo de Maomé".

As Cruzadas tiveram certamente abusos e cometeram-se crimes ao seu abrigo. Mas qualquer historiador sério lhe dirá que as Cruzadas foram essenciais para consolidar a Europa ante a ameaça do Islão guerreiro e expansionista.

O nosso próprio país não existiria sem as Cruzadas.

Um abraço,

Bernardo

Anónimo disse...

pronto, agora o foco da discussão são as vacinas... ah não me faça rir...
sem contar que até historiadores sérios estão a defender as cruzadas para a consolidação da Europa... hum, assim como defendem a revolução francesa e o iluminismo para a consolidação do secularismo e do anti-clericalismo, nisto também tiveram seus aspectos positivos, pois bem...
e qual o problema do papa pedir perdão pelos erros do passado cometidos no interior da igreja, afinal não foi o fariseu que se achava sempre o dono da verdade disposto a tornar todos em fariseus que foi justificado, mas o pecador arrependido... creio que ultimamente tem se acentuado o minha visão novamente triunfalista, na qual se cavoca determinadamente para se encontrar argumentos que justifiquem o injustificável... pelo que eu sei, não é a igreja, mas maquiavel, que diz que os fins justificam os meios... não podemos aplicar este argumento para a inquisição e as cruzadas porque não, os fins não justificam os meios, o fundador e mestre Jesus não nos deu este tipo de exemplo para ser seguido...
não vejo incoerencia alguma em dizer que sim, houveram pessoas totalmente manipuladas por uma visão de mundo e de religião medieval que possam ter acreditado no bem das cruzadas e da inquisição, não as julgo, em nenhum momento,e não me venha dizer que isso justificaria a Hitler, porque nem eu nem ninguém podemos dizer se hitler foi ou não justificado diante de Deus, afinal nem de judas iscariotes a igreja tem certeza de sua condenação, mas embora não possamos responsabilizar diretamente pessoas por estes absurdos do passado, senão voltaremos a culpabilizar os judeus pela morte de Jesus e tudo o mais, não é por isso que não devemos combate-los para que não se repitam... realmente, onde se fala muito em infalibilidade, se esquece por demais do Evangelho...

Leandro.

Anónimo disse...

A "papolatria" esta alcançando níveis consideráveis em certos ambientes eclesiais!

Jorge Pires Ferreira disse...

Bernardo Motta, João e outros:

este blogue é meu e só eu respondo por ele. Um dos motivos por que o alimento é porque considero que a perspetiva católica, que inclui a harmonia entre fé e ciência, creio e sei, é a melhor para todos (basta selecionar a etiqueta fé e ciência para ver o que venho escrevendo sobre o assunto). Que isso não nos tenha impedido de meter o pé na argola, seja nas vacinas (um erro menor, afinal; se não for erro, tanto melhor), na liberdade de consciência (bom, aqui a coisa pia de outro modo), liberdade de religião, de imprensa, direitos humanos, etc. etc.,ç - assuntos de que, afinal, vocês não falam - nada me perturba. Ajuda-me, aliás, a ser mais tolerante e compreensivo. Comigo e com os outros.

Que João Paulo II tenha pedido perdão pelos erros da Igreja (meus, seus, dele, dos seus antecessores papa) - afinal, o post inicial fala disso -, parece ser motivo de desgosto para vocês. Eu tento aprender com o passado. Os erros serão menos erros se servirem de pedagogia. Foi isso que João Paulo II quis dizer e penso que todos temos a aprender com ele. Exceto os perfeitos. E os infalíveis.

Por outro lado, com o blogue tenho criado algumas pontes com gente das margens e com não muitas referências católicas. Isso é positivo porque o meu objetivo não é destruir, mas construir. Jacob tinha uma escada.

De vez em quando aparecem alguns interlocutores como o Bernardo, o João e outros, que se opõem ao que escrevo. É salutar. Discutimos. Mas parece-me que eles deviam estar mais concentrados com outros assuntos e outras pessoas do que com algo que me parece uma espécie de vigilância numa suposta ortodoxia, mais de princípios e paradoxos do que se razões e argumentos.

Por mim, cá continuarei. O blogue é meu e terá sempre a direção que lhe quero dar. Como vocês também têm blogues, força. Havemos de nos encontrar por aí. Desde já vos digo que não gasto tempo a ler os vossos blogues.

Bernardo Motta disse...

Vá lá Jorge, nao complique. Eu já tive que corrigir várias vezes coisas que escrevi. Bastaria ter admitido que inadvertidamente caiu numa lenda anticatolica. Algumas delas estão bem feitas. Eu próprio já caí em várias, o importante é que uma pessoa se levante. Assino por baixo do pedido de desculpas do grande João Paulo II. Só que ele pediu apenas desculpas pelo que ele realmente pediu desculpas e não pelo que alguns seus leitores mais distraídos acham que ele pediu.
Aqui não há inimigos: eu sigo o seu blogue há dez anos quase. Aceite por favor a minha correcção fraterna. E não veja a ortodoxia como o papão! A ortodoxia é sempre salutar e boa por uma razão simples: é verdadeira!

Um abraço

Jorge Pires Ferreira disse...

Caro Bernardo. A questão das vacinas é uma questão menor. Concordamos. Nas outras, não sei porquê, não pega. Adiante, todos teremos mais que fazer do que entrar em guerrilhas internas. Parafraseando Churchill, os que estão dentro procedem como inimigos; os verdadeiros adversários estão fora. É por isso que acho que os acérrimos defensores da ortodoxia, com costelas de torquemada, gastam energias inutilmente.

Mas fiquemos então pelas vacinas. Eu falei em "papa". Nunca em Leão. Desmentiram com informação sobre Leão. Erram o alvo, porque estava a seguir um Pio, o sétimo (seria como eu dizer que um papa condenou a liberdade de religião e virem com textos sobre João XXIII a dizer que não, que não; eu pensaria novamente num Pio,o nono, mas claro que não viriam com textos de João XXIII, muito menos tratanto-o por beato).

Como ainda não desmentiram sobre Pio VII... Portanto, estávamos como estamos (ou o contrário). Se Pio VII nunca se tiver pronunciado ou feito qualquer coisa em relação às vacinas (enfim, um assunto menor), eu estarei errado. Admiti-lo-ei. Mas por enquanto a correção fraterna que me oferece não posso aceitá-la. Não tenho como.

Claro que a bola está do meu lado. Se Pio VII não falou de vacinas, não há nada para desmentir. Ou seja, eu é que tenho de provar que ele falou ou fez. Se eu não conseguir, estou errado. E aceitarei então a correção fraterna que tão generosamente me oferece. Terei, portanto, de me lembrar onde li sobre um papa Pio, que só pode ser o sétimo. Voltaremos a falar, portanto.

Já agora,olhe que este blogue só existe desde maio de 2009.

Boa semana santa.

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