sexta-feira, 2 de março de 2012

Feriados que não acabam

Parte do editoral da "Sábado" de quinta-feira passada.


Tenho outra leitura para a indecisão quanto ao fim dos feriados de base não religiosa (ia a escrever "civis", mas todos os feriados são civis, caso contrário, os não católicos deviam trabalhar no dia da Assunção, por exemplo). Na realidade, os feriados de base não religiosa pouco dizem às pessoas. Mas dizem muito aos intelectuais e, no caso do 5 de Outubro, dizem tudo a sectores que fazem mais barulho, como os políticos e a maçonaria.

Já os feriados de base religiosa, dizem mais às pessoas, ao povo. Apesar de tudo, ainda vai muita gente às procissões do Corpo de Deus. Uma procissão paroquial ou arciprestal pode reunir mais pessoas do que todas as comemorações nacionais do 5 de Outubro. Mas quanto a esses feriados, se a hierarquia católica quiser, e esta já deu provas de querer, podem ser abolidos sem complicações de maior, desde que se cumpram as formalidades próprias da Concordata - o que leva o seu tempo. E, geralmente, "o seu tempo" é o tempo do Vaticano, não de Portugal. De resto, nenhuma Maria da Fonte vai descer sobre Lisboa por causa do fim de um feriado "religioso". Mas muitos artigos hão de ser escritos por causa do fim do 5 de Outubro.

Ou seja, quanto a mim, o Estado, que é tão forte noutras coisas, sente-se fraco para abolir dois feriados se a Igreja não der o primeiro passo nos outros dois. A Igreja portuguesa até deu, sendo a primeira a apresentar dois feriados para abolir, mas como os timings do Vaticano são outros, o governo não se quer arreliar.

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