Eugenio Scalfari
Mais do que uma entrevista é um diálogo, o quarto entre os dois. Eugenio Scalfari, jornalista e fundador do diário "La Repubblica", e o cardeal Carlo Maria Martini, emérito de Milão, conversam sobre a fé, o amor, o sentido da vida, a justiça. No final, o clérigo diz que reza pelo jornalista. E jornalista diz que pensa no cardeal, que é outra forma de rezar. Ler tudo aqui.
Eugenio Scalfari - Às vezes, penso que o senhor espera me converter, me fazer encontrar a fé. Isto recairia nas suas tarefas de pai de almas. É a isso que o senhor se propõe?
Carlo Maria Martini – Não, não penso em lhe converter, embora não possamos excluir, nem eu, nem você, que, em um certo ponto da sua vida, a luz da fé possa lhe iluminar. Mas essa é uma eventualidade que se refere apenas a você. Você busca o sentido da vida. Eu também o busco. A fé me dá esse sentido, mas não elimina a dúvida. A dúvida muitas vezes atormenta a minha fé. É um dom, a fé, mas também é uma conquista que pode se perder a cada dia, e a cada dia pode ser reconquistada. A dúvida faz parte de nossa condição humana. Seríamos anjos e não homens se tivéssemos afugentado a dúvida para sempre. Aqueles que não se põem à prova com esse tormento têm uma fé pouco intensa, muitas vezes a deixam de lado e não vivem a sua essência. A fé intensa não deixa esse espaço cinza e vazio. A fé intensa é uma paixão, é alegria, é amor pelos outros e também por si mesmo, pela sua própria individualidade ao serviço do Senhor. O Evangelho diz: ama o teu próximo como amas a ti mesmo. Não há nessa mensagem a negação do amor também por si mesmo. O amor – se é verdadeira paixão – atua em todas as direções, é transversal, é ao mesmo tempo vertical para Deus e horizontal para os outros. O amor pelos outros já contém o amor por Deus. Você ama os outros?
Carlo Maria Martini
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