sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Ravasi, o cibercardeal


Reportagem de Marco Ansaldo, no “La Repubblica”, sobre o cardeal Ravasi, “ministro da Cultura do Vaticano”, que está no Twitter (ver aqui), tem blogue, assina uma coluna num diário, organiza o Átrio dos Gentios, gaz um programa num canal televisivo e, podemos acrescentar, escreve prefácios nos livros de José Tolentino Mendonça (“O tesouro escondido”).

Gostei especialmente dos seguintes trechos, mas vale a pena ler tudo aqui.
"Ainda há um longo caminho a ser feito – explica o cardeal –, mas agora é o momento de estar na Internet. Existe um espaço que deve ser preenchido, depois do divórcio entre a linguagem dos sacerdotes e a dos fiéis da Igreja. A Igreja tem à sua frente um problema duplo. De um lado, deve conseguir encontrar uma nova abordagem. De outro, fazer com que a nova linguagem não desgaste o conteúdo: há grandes valores que, se reduzidos em um formato muito frio, correm o risco de desaparecer. Eis o complicado desafio: a alma deve entrar em um pequeno formato – e Ravasi parece se referir aos SMS – mesmo sendo infinita".
De fato, Ravasi é um homem capaz de conjugar instrumentos nascidos há pouco com meios amplamente consolidados. Sua Eminência insiste na necessidade de informação. "Este mundo, que às vezes parece um emaranhado de absurdos, é, no entanto, o nosso mundo. E a leitura do jornal – continua, citando Hegel – é a oração da manhã do homem moderno (aqui). É preciso ler os jornais. E é uma atitude esnobe aquela de quem diz que nunca lê os jornais, ou melhor, nem sequer os olha: uma atitude equivocada. O próprio fiel, de manhã, deve ter a Bíblia e o jornal, no qual verifica, mede, cruza a sua existência". 
Ravasi observa que, "nos últimos anos, houve uma mudança antropológica". McLuhan, explica, "ensinou-nos que os meios de comunicação tornaram-se a nossa prótese. E essa atmosfera tão permeante atravessa a todos, até mesmo aqueles que se obstinam a não TV em casa ou o computador. A Igreja também está envolvida. Devemos adaptar o diálogo, atualizando-nos.Giovanni Battista Montini, o futuro Paulo VI, dizia em 1950 ao filósofo Jean Guitton: 'É preciso ser antigo e moderno. De que serve dizer a verdade, se os nossos contemporâneos não nos entendem?"

5 comentários:

Anónimo disse...

Com tanta modernização, qualquer dia temos agências de rating a avaliar as religiões...

Anónimo disse...

Introduzidas pelo próprio clero para que haja mais "transparência",acalmar o "mercado" dos crentes e da opinião pública, bla-bla-bla, etc... A vontade de ser "moderno", de concorrer com o poder do mundo, aonde pode levar ?

Anónimo disse...

Hala Tribo!

Anónimo disse...

Pequena provocação : talvez já exista mesmo uma internacional (ou americana ?) agência de rating das religiões. Chama-se ONU ou "Declaração Universal dos Direitos do Homem"...

Jorge Pires Ferreira disse...

Aos primeiros três anónimos: Tenho simpatias pelo cardeal Ravasi, e acrescidas após ter lido que o agnóstico U.Eco ficaria contente se Ravasi fosse eleito Papa porque finalmente trataria um pontífice por "tu", mas não acredito na tecno-soteriologia, a teologia que diz que somos salvos pela tecnologia. Por isso sou um bocado céptico quando defendem que os novos meios hão-de fazer o que os antigos não conseguiram. Ora, o meio mais antigo e intemporal é o do testemunho-palavra. Mas concordo, com Ravasi, que é preciso estar em todo o lado e em todos os meios que servem para comunicar. Mas sem euforias nem diletantismos nem messianismos. Se andamos em tantos meios, porque não comunicar com naturalidade nesses mesmos meios? Penso que é isso que o cardeal quer.

Só há doze bispos no mundo. São todos homens e judeus

No início de novembro este meu texto foi publicado na Ecclesia. Do meu ponto de vista, esta é a questão mais importante que a Igreja tem de ...