Da entrevista de António Marujo ao cardeal Gianfranco Ravasi,
presidente do Conselho Pontifício para a Cultura
(…) Como fala hoje a Igreja com o ateísmo?
Esse é um problema grave. Falar com o autêntico ateísmo é uma tarefa
difícil. Verdadeiros ateus como Nietzsche são pouquíssimos. Refiro-me aos que
propõem uma visão do mundo e da vida realmente alternativa.
Muitos dos actualmente mais conhecidos procuram sempre uma frase ou a
Bíblia lida de modo fundamentalista, para dizer que ainda acreditamos nestas
coisas, sem se esforçarem em fazer hermenêutica. Diria que os últimos ateus
foram os grandes pensadores marxistas e liberais…
Ernst Bloch…?
Bloch, sim. Penso também em alguns como Jean-Paul Sartre, Albert Camus
ou grandes espíritos laicos em Itália como Norberto Bobbio. Eram grandes laicos
que se batiam contra o poder clerical, mas que tinham grandes visões.
Os de agora são ateus que reflectem o clima do ateísmo actual, da
indiferença. Tivemos a sociedade com Deus, depois a sociedade contra Deus,
agora a sociedade sem Deus. É um problema, mesmo para alguns crentes, que
acreditam em Deus mas para os quais acreditar ou não, não faz variar muito.
Dialogar com esses grandes pensadores constrangia-nos a reflectir e a reconstruir
a nossa própria visão. Com os actuais, é um jogo de pergunta-resposta, em que
se responde de maneira apologética.
António Marujo, “Deus Vem a Público. Entrevistas sobre a
transcendência. I volume” (ed. Pedra Angular), pág. 71.
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