domingo, 4 de dezembro de 2011

Em busca de sentido: Ciência e religião



Carlos Fiolhais publicou no "Rerum Natura" a sua colaboração num encontro no Colégio (católico) de S. Teotónio e que agora faz parte de "um livrinho" intitulado "Em busca de um sentido: Ateísmo e crença na construção da pessoa que ama".

Não tenho tantas esperanças quanto ele no que diz respeito à possibilidade de a ciência falar do sentido, tal como não espero que conhecer o funcionamento de um automóvel me diga alguma coisa da finalidade das viagens que faço com ele. Mas é um bom texto sobre a relação ciência/fé. Um excerto (agradeço a FCO, que me informou do texto):
É interessante, a propósito, referir os casos de sacerdotes que são também cientistas. A Igreja Católica possui um Observatório Astronómico, que é dirigido por um padre jesuíta, de certo modo um descendente do Padre Clavius, e no qual se faz trabalho científico moderno, designadamente a observação de asteróides. Por outro lado, o pastor anglicano inglês John Polkhingorne é físico de partículas e um conhecido divulgador da ciência. Um bom exemplo não já de um sacerdote, mas de um cristão fervoroso, que trabalha nas fronteiras da área da biologia, é o norte-americano Francis Collins, um dos cientistas mundialmente mais conceituados no campo da genética, que foi nomeado por Barack Obama Presidente do National Institute of Health, NIH, a maior agência de investigação médica dos Estados Unidos.  
Assim como Darwin se tornou agnóstico, muitos outros cientistas, a partir do século XIX, declararam-se agnósticos ou mesmo ateus. Há hoje, de facto, muitos cientistas que não são crentes, assumindo alguns deles essa descrença com alguma militância: é o caso do físico norte-americano e Prémio Nobel da Física Steven Weinberg ou do biólogo inglês Richard Dawkins, autor de O Relojoeiro Cego, um livro notável que realça o papel do acaso no processo da evolução, e de A Desilusão de Deus, um livro que alguns consideram uma “cruzada” contra a religião. 
A história da ciência mostra que a fé e a falta dela se encontram distribuídas pelos cientistas tal como pelos não cientistas. Assim, a crença em Deus não pode ser encontrada no fundo de um telescópio ou de um microscópio, tendo antes a ver com intrincados factores culturais, sociológicos e psicológicos. Deparei na Internet com uma curiosa estatística sobre a religião de 100 cientistas considerados muito influentes: a conclusão é que existem 16 por cento de judeus (o número grande de cientistas judeus poderá ser explicado pela forte valor atribuído à educação e ao conhecimento no seio das famílias judaicas), 12 por cento de católicos e 11 por cento de ateus, não havendo quase cientistas árabes (o que poderá ser explicado pelo maior dogmatismo dos adeptos desta religião, para quem o livro sagrado não foi inspirado por Deus mas sim ditado directamente por Ele). Sendo os cientistas pessoas e cidadãos antes de serem cientistas, é natural que na comunidade que eles formam se encontrem as mesmas proporções, ou proporções semelhantes, de crença ou descrença que se encontram na sociedade em geral e ainda que se encontrem as mesmas afiliações religiosas patentes na sociedade em que estão inseridos. 
O tema das relações entre ciência e religião dá pano para muitas mangas. Tem sido uma discussão continuada sem fim à vista. Quando se quer enfatizar uma eventual oposição entre ciência e religião, encontramos cientistas a usar argumentos não-científicos e não-cientistas a avançarem argumentos científicos. Claro que a autoridade de um cientista na sua ciência não lhe confere particular autoridade num qualquer assunto não-científico. E julgo que o mesmo vale para a teologia. A autoridade de um teólogo na sua área não lhe permitirá ter qualquer poder especial no debate científico.

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