Alberto Melloni até gostava de ver o Vaticano III, mas receia os resultados
Há dias, um texto no "Corriere della Sera" falava de um III Concílio do Vaticano (aqui). Eu penso que é mais do que necessário. Ou um Jerusalém II. Não chega aprofundar o Vaticano II, quando muitos olham ainda mais para Trento. É irrealista pensar que o Vaticano III acontecerá dentro de uma década, mas as questões do sacerdócio/celibato, mulheres/ordenação, poder/democracia, que são decisivas para o modo de estar da Igreja no mundo, só se resolvem com um concílio.
Alberto Melloni, no diário italiano, lembrava a tomada de
posição do Cardeal Martini. Ao seu lado – é a nota portuguesa – surgiu nesse
sínodo de 1999 D. António Marcelino, que agora é bispo emérito de Aveiro. Dizia
o arcebispo de Milão, diocese que, como afirma o articulista, é o lugar mais importante
para se chegar a Papa (por isso, quando há meses foi nomeado para Milão Angelo Scola,
que estava em Veneza, muitos disseram: Olhem para ele. Pode suceder a Bento
XVI), que havia uma série de questões a discutir. Foi há 12 anos. E ainda estão por discutir.
Os pontos que Martini indicava como agenda de uma futura assembleia de bispos de escala universal – um eufemismo que não queria fazer sombra ao papa, ao qual compete a convocação do Concílio – haviam sido no máximo encostados pelo magistério de Karol Wojtyla: a "carência dos ministros ordenados", a "posição da mulher", a participação "dos leigos em algumas responsabilidades ministeriais", "a sexualidade, a disciplina do matrimónio, a práxis penitencial", a revitalização da "esperança ecuménica".
De então para cá, o que aconteceu?
Certamente, a julgar pela mediocridade do debate teológico destes anos – muitas vezes reduzido a banalidades adulatórias, vícios personalistas e acuradas eliminações dos verdadeiros problemas das Igrejas –, se poderia dizer que o Concílio de uma Igreja, mesmo que vasta como a católica, correria o risco de se empobrecer em traços óbvios. E o sonho de um Concílio "das Igrejas" – que no Conselho Mundial de Igrejas, de Genebra, se esgotou em um precioso trabalho de diplomacia infra-eclesiástica – parece muito longe para quem conhece a quantidade de descortesias que as Igrejas sabem trocar entre si.
Se o Vaticano II, apesar de inesperado, foi o culminar de um
trabalho das bases (o movimento patrístico, o movimento bíblico, o movimento
litúrgico, o movimento ecuménico e a Acção Católica, para falar dos movimentos
mais importantes), só podemos temer pela realização de um Vaticano III nos
próximos anos. A ter em consideração o pensamento teológico dominante, que se
resume a um Papa que pensa e a uma legião de comentadores do Papa, seria mais
um Trento II. Valha-nos o Vaticano II, que foi mais ruptura do que continuidade
na linha oficial, embora agora se ouçam vozes a dizer foi mais continuidade.
Dizer isso é uma forma de desvalorizar o Vaticano II.
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