Alguém que ouvira o versículo «Oferece a Deus um sacrifício
de louvor» (Sl 49,14) pensou: «Todos os dias, ao acordar, irei à igreja e aí
entoarei um hino da manhã; ao final do dia, um hino da noite; e depois, em
minha casa, um terceiro e um quarto hinos. Deste modo, farei todos os dias um
sacrifício de louvor que oferecerei ao meu Deus». Fazer isto é bom, se
realmente o fizeres, mas livra-te de ficares tranquilo com o que fazes e vê
que, enquanto a tua língua fala bem perante Deus, a tua vida não fale mal à Sua
frente. [...] Toma cuidado e não vivas mal enquanto falas bem.
Porquê? Porque Deus disse ao pecador: «Que tens tu de
recitar os Meus mandamentos, com a Minha aliança na boca [tu que rejeitas as
Minhas palavras por trás]?» (v. 16-17) Eis o temor com que devemos falar. [...]
Vós, meus irmãos, estais em segurança: se ouvirdes dizer coisas boas, é Deus
que ouvis, qualquer que seja a boca que fala convosco. Mas Deus não quis deixar
de repreender aqueles que falam, com receio de que adormeçam em segurança numa
vida de desordem, afirmando que falam do bem e pensando: «Deus não quererá
condenar-nos, pois foi através de nós que quis dizer coisas tão boas ao Seu
povo». Portanto, vós que falais, quem quer que sejais, escutai o que dizeis;
vós que quereis ser ouvidos, ouvi-vos em primeiro lugar. [...] Possa eu ser o
primeiro a ouvir, possa eu ouvir, e ouvir melhor do que todos, «aquilo que o
Senhor Deus diz em mim, pois Ele diz palavras de paz ao Seu povo» (Sl 84,9).
Agostinho (354-430), Bispo de Hipona
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