Assim como o fiel é sufocado pela água salgada da dúvida que o oceano não pára de lançar na sua boca, assim também existe a dúvida que o incrédulo nutre a respeito da sua incredulidade e da totalidade real do mundo que ele resolveu erigir como o seu todo. Ele Jamais terá a certeza plena da completude de tudo o que viu e que declara ser tudo. Será sempre ameaçado pela pergunta: será que a verdadeira realidade não está na fé e no que ela proclama? Portanto, assim como o fiel se sabe constantemente ameaçado pela incredulidade que o acompanha como uma tentação sem fim, também a fé constitui para o incrédulo uma ameaça e uma tentação para o seu mundo aparentemente completo. Por outras palavras, não há como escapar do dilema da existência humana. Quem quiser fugir das incertezas da fé terá de suportar as incertezas da ausência de fé e nunca poderá dizer com certeza definitiva que a fé não é a verdade. Só na recusa da fé se revela a sua irrecusabilidade.
Joseph Ratzinger, "Introdução ao Cristianismo" (ed. Principia), pág. 21-22.
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