Pode haver tensões dentro da Igreja, entre católicos que são liberais e outros que são conservadores, porque a maioria das pessoas na nossa sociedade são uma coisa ou a outra. Estamos marcados pela cultura da nossa sociedade. Mas não pode ser o âmago real da divisão, porque a fé católica transcende essa polaridade.
Timothy Radcliffe na página 241 de "Ser cristão para quê?"
3 comentários:
O que mais me incomoda entre "conservadores" e "liberais" é quando as pessoas se identificam como um ou outro adjectivo, e em nenhuma discussão se permitem a serem algo diferente daquilo que um dia decidiram ser. Tal como ser de esquerda ou direita, ou ser de um clube ou outro, ser de uma raça ou outra, de uma religião ou outras tantas. Quando a imparcialidade sobre um qualquer assunto em discussão é esmagada por uma identificação pessoal com um movimento e não permite a alguém estar aberto ao diálogo. Quando teses e antíteses se encontram em diálogo, quase sempre há uma síntese de ambas, um meio termo equilibrado, que é a melhor solução equilibrada para ambos os lados. No fundo não existem "conservadores" e "liberais", existe a Igreja una em diálogo, que se espera saudável, em caminhos de construção universal. Somos uma casa com muitos quartos, uma mesa com espaço para todos, temos um Pai com joelhos enormes para sentar todos os seus filhos, temos mesmo Jesus que nos aproxima nas diferenças, e um só Espírito que nos aconselha no momento de pensar, falar, calar e ouvir. Quanto mais discutimos com ignorância, mais nos polarizamos. Quanto mais nos dividimos com indiferença, mais nos afastamos. Quanto mais nos dedicamos a falar sobre o que nos separa dentro da Igreja, menos tempo passamos a acolher os que precisam de nós fora da Igreja.
Mas o grande problema é o conceito que se dá a conservador. Normalmente diz-se de conservador que é uma pessoa que não está aberta a novas ideias, quando na verdade o conservador é aquele que "conserva" o que Cristo e a Igreja nos legaram.
Permita-me só uma discordância sobre a "conservação" do legado da Igreja. Penso eu que à Igreja se deve o trabalho de conservar viva a Palavra. E tentar não a adulterar e manter a sua imutabilidade, porque Jesus foi, é e será o mesmo, tal como Deus é e não muda, mesmo que a nossa ideia sobre Deus possa mudar. Mas a Igreja, ou mesmo a Tradição, não deve ser conservada imutável, porque nós como Igreja, pedras vivas, estamos em constante construção. É o nosso trabalho como cristãos, católicos, nos mantermos informados e procurar formação, para não nos deformarmos, e assim, poder dar novas formas á Igreja. É verdade que há muitas coisas que nos chega até nós desde os Apóstolos que não se deve mudar por já estarem marcadas pela experiência em Igreja de que são frutos do Espírito. Enquanto que outras podem e devem ser questionadas, podem e devem ser o centro destas tensões e diálogos entre cristãos. O que não podemos é nos absolutizar de tal modo que tudo é visto pela prespectiva de um conservador, para quem tudo deve ser conservado, ou um liberal, para quem tudo deve ser mudado e colocado em causa; pois não queremos de repente atirar o menino com a água suja depois do banho, mas sim deixar que as águas do Espírito Santo possam correr livremente, sem estagnar, e baptizar novas gentes, novas pedras, novas ideias, novos vinhos, e novas formas de ser Igreja. E concordo absolutamente com o Anónimo quando fala de preconceitos, são infelizmente imagens redutoras minimalistas, ás vezes caricaturas, que infelizmente são fáceis de se usar para se rotular o mundo á nossa volta e não se ter o trabalho de ver um mundo a cores, em vez de a preto e branco. Mas, sofremos todos do mesmo, sejam conservadores, ou liberais.
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