sábado, 9 de julho de 2011

Reflexão de José María Castillo sobre o Papa e o seu poder


A reflexão de José María Castillo surge a propósito da Jornada Mundial da Juventude, convocada por Bento XVI para Madrid, em meados de Agosto. Reflexão não por erudição, mas para questionar o direito de convocar concentrações “mundiais”. “Será que ele é o bispo do mundo inteiro?”, pergunta o teólogo espanhol.
No cânon 331 do Código de Direito Canônico se diz que a potestade do Papa é “suprema, plena, imediata e universal”, como Pastor que é da “Igreja universal na terra”. Além disso, é uma potestade contra a qual “não cabe apelação nem recurso” algum (c. 333, 3). Ou seja, o Papa não tem que dar contas a ninguém do que diz ou do que faz. Mas o Papa realmente tem esse poder? Faço esta pergunta porque está mais do que demonstrado que nos Evangelhos não existe nenhum argumento que prove que o bispo de Roma tenha tido ou tenha essa potestade. Além disso, está igualmente demonstrado que o poder supremo universal do papado não tem origem apostólica, mas imperial, de forma que a bibliografia muito documentada que existe sobre este ponto concreto é enorme. Segundo os minuciosos e detalhados estudos que foram feitos sobre esta questão, a “potestade universal” foi uma invenção dos imperadores de Roma. No século IV, de Roma passou para Constantinopla, ao Império Bizantino. E dali, não sem forte resistência dos papas, finalmente, em 1049, Leão IX a apropriou para a sede romana. Mas antes, o Papa Gregório Magno (séculos VI-VII) chegou a dizer que utilizar o título de patriarca “universal” era uma “blasfêmia” (Mon. Germ. Hist., Epist. V, 37).
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2 comentários:

Anónimo disse...

Confesso que tenho pensado muito em tudo isto. A inculturação do Evangelho em Roma constituiu um desfiguramento. Depois da evangelização de Roma, aconteceu a romanização do Evangelho. Esta situação ainda não foi superada e até tem bloqueado outras similares. Basta ver a reacção de Roma (precisamente) á defesa da africanização do Cristianismo, propugnada no pós-Concílio.
Sucede que a romanização do Cristianismo transfigurou-o num sistema de poder decalcado no império.
O Papa é o «imperador» e o imperador não admite condicionantes de espaço. O imperador é para o «império» todo.
Só que nada disto faz sentido quando a matriz é Jesus e o Evangelho.
Corre-se o sério risco de, internamente, se praticar a maior instrumentalização do Cristianismo.
Só quando se «desromanizar» a Igreja estaremos no caminho da mudança.
Roma tem um lugar importante, mas não lugar único, condicionador de tudo.
Já repararam em como, nos últimos tempos, a principal preocupação da autoridade eclesiástica é impedir, frear e bloquear?
Para alguns, a pirâmide funciona de modo quase automático, longe de qualquer aderência ao Espírito: o Papa decide, os bispos adequam e os padres executam. Os leigos contribuem. Do povo só se espera a esmola. Democrático não é com certeza este método. Mas genuinamente eclesial também não é. Eclesial é o preceito de que «o que diz respeito a todos por todos deve ser decidido».
Mas há aqui algo positivo. Um grande caminho nos espera. Uma enorme mudança nos aguarda. E, quem sabe, uma saborosa surpresa está em vias de nos visitar.
O «bispo invisível», de que falavam os antigos, é que reconduzirá a Igreja à verdade sobre si mesma e ao serviço humilde na humanidade.
O tal »bispo invisível» actua na consciência de cada um.

Anónimo disse...

Apesar de estarem já inscritos 400 mil jovens, esperam-se em Madrid entre 18 e 21 de Agosto cerca de "2 milhões" de jovens". Onde se vê isto actualmente? Com estes números? Interessante não???

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