As ligações entre o tempo e o divino são frequentes. O tempo é a primeira criatura de Deus. E será a última a desaparecer no fim… dos tempos. Até já se disse que “Deus é o relojoeiro”. Cego para uns; providente, logo atento, para outros. Superar o tempo é entrar na dimensão divina. Mesmo que Deus seja “íntimo à realidade”.
Nós não somos os senhores do tempo. Mas hoje fiquei a saber podemos ter algum poder sobre o tempo. O nosso tempinho.
O suplemento “Cronos – Pilares do tempo”, no “Público” de hoje, fala em “milagre da suspensão do tempo”. E este tipo de milagres (ver post anterior) aceito de coração mais aberto. Trata-se de um relógio, um Hermès, modelo Arceau Temps Suspendu, que, com um toque, recolhe os ponteiros para as 12 horas.
“Imagine que, a meio de um dia de trabalho, recebe a visita de alguém que lhe é caro – os filhos, por exemplo. Para eles, o tempo pode ser suspenso. Com uma pressão num botão, os ponteiros das horas e dos minutos «recolhem-se» em módulo de «tempo suspenso», numa posição às 12 horas, enquanto o ponteiro da data desaparece. E a sua dedicação às crianças é total. Quando a visita acaba, basta pressionar de novo um botão, e os ponteiros das horas e dos minutos recuperam o tempo que tinha estado suspendo, indo ocupar as posições normais, como se o relógio nunca tivesse sido «parado»”.
Uma versão mais longa do texto foi já publicada no blogue Estação Cronográfica, aqui, de onde tirei a imagem (clique para ver melhor a maravilha).
Fernando Correia de Oliveira, autor do blogue e responsável pela publicação, escreve no editorial que em tempos de crise e depressão colectiva temos de ser indulgentes connosco próprios. Aqui fica o apontamento, que encerra um contributo para a cultura religiosa:
“Uma palavra inglesa, indulgence, tem em português a correspondente «indulgência». O étimo é comum (do Latim, indulgere, conceder), mas os significados não podiam ser mais distantes. Enquanto a indulgência lusa nos faz lembrar Igreja, a compra do perdão dos pecados, revolta Protestante; a indulgence inglesa é sibatírica, hedonista. Em tempos como estes, indulge yourself!”
Gostava de ser indulgente comigo e ter uma daquelas maravilhas que pára o tempo. Mas, pela descrição, é muito cara a máquina da suspensão do tempo. Se tempo é dinheiro, não tempo é ainda mais dinheiro.
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