“É às palavras que devemos a existência de Deus?” A questão é colocada por Jorge Pires (um homónimo, que não conheço) no número 17 de Ler (capa aqui). E acrescenta: “É lícito supor que nunca haveria Deus – o “nosso” Deus, pelos menos – se não existissem textos. Antes de ser uma ideia conceptual e um retrato inteligível da plenitude, Deus foi uma figura literária, e como tal tem ultrapassado a correria dos séculos”.
Não é seguramente às palavras que devemos a existência de Deus, mesmo que Deus fosse somente uma ideia humana. Poderia ser também à ideia de luz, que, aliás, está na base da palavra “Deus”. Mas é certo que à melhor imagem – esta palavra também é limitada – de Deus se chamou “dabar” (hebraico), “logos” (grego), “verbum” (latim), ou seja, palavra.
De qualquer forma, a questão de Deus não é uma questão de textos. O texto (tal como pelo menos a luz, a comunidade, a relação) é uma condição necessária mas não suficiente. Nisso, estou como o Patriarca na catequese quaresmal do domingo passado. Veio no “Correio da Manhã” de ontem.
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