segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A minha corcunda e as costas infinitas de Deus

Católico, sim ou não?
Um leitor deste blogue, do lado de lá do Atlântico (escrevo em Portugal), pergunta-me se sou católico. Um “sim” ou um “não” basta. Já lhe respondi há dias. Na altura não me lembrei de contar a anedota do corcunda que conta a toda a gente que é corcunda. Como se precisasse de o dizer. Pois eu sou um corcunda consciente. Mas não sabia que isso não se notava em quem me lê. O leitor brasileiro diz-me na volta que eu falo muito da “banda podre” do catolicismo. Talvez. E tenho simpatias pela insegurança antropológica luterana e pela segurança ontológica judaica – acrescento. Mas sou católico. Pensava que isso se notava pelas efemérides quase diárias e quase sempre papais. Pelas pontes que procuro entre culturas, ciências, artes e religiões. O católico sabe que há muitas moradas na Casa do Pai. Que o Papa é pontífice para lançar pontes. E cada um de nós, à sua maneira, também há-de lançá-las. Ou pelo menos atirar uma escada. Se for como a de Jacob, melhor. Ou permitir que subam pela corcunda. Talvez a minha corcunda seja pequena. 

Santidade pessoal e milagres
Já um amigo, do lado de cá do Atlântico, comentando o meu resumo do artigo de John Allen Jr. (aqui), sublinha que o norte-americano, antes de apontar os cinco pontos em comum nos turbo-santos, refere a “reputação de santidade pessoal e relatos de milagres”.

Claro. Que haja milagres é algo de admirável. Por vezes, como qualquer um, pergunto-me por que é que o Padre Américo não é santo. Ou Óscar Romero. Não conheço os dossiês. Mas suponho que falta o milagre. Já uma vez expressei a opinião de que dispensaria o milagre dos processos apostando na “santidade pessoal”. A expressão já diz tudo. Mas reconheço que é espantoso que aconteçam os milagres. E aceito o processo de canonização tal como está constituído, apesar de alguma objecção teológica à interferência directa de Deus nas nossas coisas tão humanas. Para mais, à primeira vista, por vezes, alguns milagres… Claro que não posso duvidar da comissão científica que os avalia. Mas estou a pensar num deles, até bem recente, que foi ridicularizado na imprensa portuguesa. Em resumo, tendo a pensar que os milagres são de facto um sinal divino extraordinário e, ao mesmo tempo, a querer que a proclamação dos santos seja algo mais eclesial, humano, deixando as costas de Deus livres de mais esta responsabilidade. Mas Deus tem umas costas infinitas.

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