terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Implicações religiosas das recentes descobertas da ciência

Diarmuid O'Murchu

Diarmuid O'Murchu, irlandês, padre da Congregação Missionária do Sagrado Coração, reflecte sobre a fé e a vida religiosa à luz das novas descobertas da ciência. Publicou os livros "Quantum Theology", "Evolutionary Faith"e "Reclaiming Spirituality". No “National Catholic Reporter” publicou uma estimulante reflexão sobre “implicações religiosas das recentes descobertas da ciência”. Termina com oito pensamentos que copiei daqui.

1. Muito antes de a religião evoluir, o homem acreditava que o divino estava intimamente envolvido na criação. Todas as religiões sustentam essa ideia. Seria, então, a criação uma espécie de revelação primária de Deus a nós? Se assim for, precisamos observar atentamente a como entendemos a criação.

2. Nossa tendência humana, especialmente nos últimos 2 mil anos, é a de reduzir a criação a um artefato humano, que podemos usar e subjugar à nossa vantagem. Todas as grandes religiões, de uma forma ou de outra, endossam essa orientação. Consequentemente, não podemos mais aceitar que as compreensões religiosas da criação são, de certa forma, adequadas, espiritual ou teologicamente.

3. Embora os cientistas também assumam o interesse viciante com o poder e o controle, muitas de suas intuições sobre a vida cósmica e planetária podem ser muito mais informadas espiritualmente agora do que as compreensões das religiões formalizadas. Por outro lado, vários desses conhecimentos científicos são congruentes com os dos grandes místicos de todas as tradições religiosas da humanidade.

4. Os teólogos cristãos manifestam um forte interesse com o conceito de creatio ex nihilo (criação a partir do nada). Eles pretendem manter essa crença, a fim de salvaguardar a iniciativa divina e, presumivelmente, sua compreensão do poder divino. Hoje, nós entendemos o nada primordial como um substrato da criatividade efervescente. Talvez, para Deus, a noção de um ponto de partida não é significativa. Que isso não seja outro deslumbramento antropocêntrico!

5. As escrituras de todas as tradições fazem alusão ao fim do mundo. Ele é muito explícito nas tradições cristã e muçulmana. A ciência contemporânea está se movendo rapidamente em direção à noção de um mundo sem começo nem fim. Não seria esse um indicador mais forte da verdade, ao invés da postura antimundo que algumas das principais religiões sustentam?

6. O grande temor – científica e religiosamente – gerado por muitas dessas novas ideias faz referência ao nosso lugar e papel humanos no plano da criação. Está abundantemente claro que não estamos no comando, que não somos a espécie máxima em qualquer sentido, que dependemos de muitos outros aspectos da criação para sobreviver na terra, que somos um pequeno organismo dentre muitos outros e, perturbadoramente, não somos tão sábios quanto nós gostaríamos que fôssemos. Então, qual é o nosso propósito?

7. De todas as respostas a essa questão, a que eu acho mais desafiadora e inspiradora é a proposta de que somos a criação tornando-se consciente de si mesma. A nossa singular vocação - e contribuição para a criação – é aumentar o crescimento da consciência. Uma gigantesca responsabilidade! (Talvez é disso que os grandes místicos trataram e tratam!).

8. Teologicamente, a questão crucial está em torno da noção de revelação. Se o divino vem revelando criatividade e sentido em toda a história da criação, ao longo desses bilhões de anos, por que restringir a autonomia do divino aos limites de tempo e cultura religiosamente validados? De alguma forma, isso não parece fazer mais sentido!

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