Anish Kapoor
La Reppublica - Os canais desse diálogo [Igreja / mundo e cultura] são múltiplos. Um dos mais delicados é o com o mundo da ciência.
Gianfranco Ravasi - Stephen Gould, cientista não crente, formulou um princípio que destrói, com um só golpe, concordismo e fundamentalismo, mas também positivismo e neopositivismo. Sintetiza-se no acrônimo NOMA (Non-overlapping magisteria), com base no qual, para explicar a vida, concorrem magistérios diversos – ciência, teologia, literatura, arte – e não superponíveis. Entenda-se bem: trata-se de percursos paralelos que têm, todos, uma legitimidade, se dotados de coerência epistemológica. Essa teoria, embora preciosa, é insuficiente, porém. Porque, como o objeto de investigação é o mesmo – o homem –, os diversos magistérios inevitavelmente acabam por se cruzar. Por meio de duetos e de duelos.
O entomólogo Norman Lewis sugere um caminho, aparentemente, mais modesto. Visto que criacionistas e evolucionistas não concordam sobre o início do mundo, que o esforço comum se concentre na criação, na preservação de todo ser vivo.
Certamente é justo buscar o acordo onde é mais fácil encontrá-lo. Mas, a meu ver, é preciso confrontar-se também sobre as razões primeiras. Veja, frequentemente, criação e criacionismo, evolução e evolucionismo são usados como sinônimos. Eu, ao contrário, prefiro me concentrar no primeiro binômio, criação-evolução, porque, nesse caso, não necessariamente se vai ao encontro de uma colisão, ao contrário. Em âmbito teológico, o conceito de criação é elaborado com base em princípios de causalidade e finalidade. Dito isso, o homem pode escolher o fruto do bem ou do mal. Portanto, a palavra-chave, no Deus criador cristão, é relação, não domínio. Tanto é que se prevê a liberdade humana e o desenvolvimento da história. Como se vê, o diálogo com a ideia de evolução é possível.
Uma curiosidade, talvez boba. Como é que o senhor, assim como o Papa, além de Veltroni e Fini, citam Saint-Exupéry?
Talvez, porque certas frases dele soam como verdadeiras parábolas. Lembra-se daquela do navegador? Ao navegador, não se deve apenas ensinar como se constrói um navio, mas infundir nele a nostalgia do mar espaçoso e infinito. Os políticos a usam do ponto de vista mundano, mas na realidade é uma parábola da transcendência. No mundo contemporâneo, permanecemos sempre constrangidos na dimensão do acessível, enquanto devemos pensar mais no inacessível, no infinito.
Entre as tarefas do Pontifício Conselho para a Cultura, está também a da relação entre religião e arte, interrompida há muito tempo, como Paulo VI viu bem há 40 anos.
E pensar que arte e fé são irmãs, viajam em trilhos paralelos. Henry Miller, que certamente não era um crente, dizia que a arte e a religião não servem para nada, exceto para mostrar o sentido da vida. Por isso, é paradoxal que não se falem mais. E aqui a Igreja tem as suas responsabilidades. Desde o século passado, ela começou a usar recalques na arquitetura: o neogótico, o neoclássico. E, no lugar da grande arte sacra, ela se confiou a um artesão que muitas vezes ultrapassa o limite do mau gosto. Ou, pense-se em como ela se retraiu diante da música dodecafônica, enquanto no século XV ela havia acolhido uma revolução muito grande, quando se passou da voz monódica do gregoriano à polifonia. Eu estou me empenhando a fundo para retomar esse diálogo. Espero, por exemplo, que na Bienal de Veneza de 2013 possa haver finalmente o estande da Santa Sé, onde grandes artistas – de Bill Viola a Anish Kapoor – se confrontem com os primeiros 11 capítulos do Gênesis: a criação, o dilúvio e a decriação, o mal, a violência, o imperialismo da Babilônia. Nesses 11 capítulos, já estão todos os grandes temas da humanidade.
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