terça-feira, 30 de novembro de 2010

30 de Novembro de 1943. Morre Etty Hillesum

Etty Hillesum, ou o sentido no meio do absurdo

Etty Hillesum nasceu no dia 15 de Janeiro de 1914, em Middelburg (Holanda), e morreu no dia 30 de Novembro de 1943, no campo de concentração de Auschwitz (Polónia). Ainda não tinha 30 anos.

Até 1981 Etty Hillesum foi apenas um dos seis milhões de judeus anónimos que não escaparam ao holocausto nazi. Mas nesse ano, na Holanda, o teólogo e editor J. G. Gaarlandt publicou excertos do diário que a holandesa manteve entre 1941 e 1943. Os diários tinham sido dados pela autora a Klaas Smelik, que depois da guerra os enviou a 12 editoras. Sem sucesso. O filho do primeiro depositário dos diários é que conseguirá a publicação, presidindo actualmente a um Centro de Estudos Etty Hillesum. Depois da Holanda, seguiram-se edições em Inglaterra, França, EUA… e Portugal, em 2008 (na Assírio&Alvim, com o título “Diário 1941-1943”), sempre com grande sucesso, excepto na Alemanha (o que não surpreende) e em Israel (“por causa da mensagem pacifista” – diz ao “Público” de 2 de Maio de 2008 o Smelik júnior).

Numa intervenção pública a que tive oportunidade de assistir, o historiador José Mattoso referiu-se à judia como alguém que, rodeada pelos horrores nazis, “sabe estar acima de tudo isso” e não perde o sentido de Deus. Encontra o sentido no meio do absurdo. “Eu creio em Deus, mesmo quando daqui a pouco os piolhos me devorarem na Polónia”.

O padre e teólogo Tolentino Mendonça, que dirige a colecção Teofanias e prefacia o livro diz que o “Diário” é “uma das aventuras espirituais mais significativas do século”. E exemplifica no prefácio (que pode ser lido, também, no site do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, aqui): “No meio da tortura absoluta, é ela quem se preocupa com Deus. «Vou ajudar-te, Deus, a não me abandonares», escreve. (…) Claro que é também uma prece nocturna, povoada de dilacerantes interrogações: «Às vezes pergunto-me, num momento difícil como esta noite, quais são os planos que tens para mim, tu Deus.» Mas o traço mais forte é o de uma impressionante e inexplicável confiança: «Quando ontem, às duas da manhã, finalmente cheguei lá acima ao quarto da Dicky e me ajoelhei quase nua, no meio do quarto, totalmente deprimida, eu disse de repente: “Hoje, vendo bem, vivi coisas grandiosas e esta noite também, meu Deus, agradeço-te por eu poder suportar tudo e por haver poucas coisas que não ponhas no meu caminho.”»

Contra o “grande ódio” aos alemães, que “envenena a alma”, quando os judeus muito compreensivelmente dizem: “Eles que se afoguem. Essa ralé… Deveriam ser todos fumigados”, Etty deixa surgir uma “ideia libertadora, hesitante e frágil, como rebento de relva que começa a nascer num terreno bravio rodeado de ervas daninhas”. “Mesmo que só houvesse um alemão digno de ser protegido contra essa chusma bárbara, por causa desse alemão decente, não se devia derramar o ódio sobre um povo inteiro”. Esta ideia “não significa que uma pessoa deva ter uma atitude indecisa em relação a determinadas correntes”, diz. “Uma pessoa toma posição, indigna-se regularmente com determinadas coisas. Tenta informar-se. Mas o ódio indiferenciado é a pior coisa que existe. É uma doença da própria alma”.

Sem comentários:

Há um sínodo?

O sínodo que está a decorrer em Roma é de uma probreza que nem franciscana é. Ou há lá coisas muito interessantes que não saem para fora ou ...