O alemão Lucas Cranach, o Jovem (1515- 1586), foi pintor como o seu pai, Lucas Cranach, o Velho (1472-1553). Ambos são pintores da Reforma Protestante, próximos de Lutero, que conheceram.
A Crucifixão que aqui se reproduz (clicar para aumentar) foi começada pelo pai e concluída pelo filho. Encontra-se na Igreja de S. Pedro e S. Paulo, em Weimar, na Alemanha. Repare-se especialmente em Lutero, segurando a Bíblia sobre um chão florido. Entre o braço de João Baptista e os pés de Jesus vê-se Moisés, ao fundo, num chão rochoso, segurando as tábuas da Lei. Na Bíblia de Lutero há três trechos. Um deles diz: “Tal como Moisés elevou a serpente no deserto, assim deve ser elevado o Filho do Homem, para que aqueles que nele acreditam tenham a vida eterna”.
1 comentário:
Ah, Weimar...
Morei lá cinco anos. Este post evoca um sem número de recordações ligadas a esta igreja e a Cranach.
Foi nesta igreja que Bach baptizou alguns dos seus filhos. Nela pregou Martinho Lutero, que era amigo de Cranach, o velho. Por sua vez, este comprou a Guttenberg uma das suas máquinas, e enriqueceu imprimindo os escritos do amigo.
Há neste altar dois elementos muito estranhos. O primeiro é o jacto de sangue que sai de Cristo e cai na cabeça de Lucas Cranach, o velho (o velhinho de barbas brancas ao lado de Lutero). Diz-se que o jacto foi feito posteriormente pelo filho, e significa que o sangue de Cristo salva aquele homem.
O segundo elemento pouco vulgar é o que rodeia esta cena. O altar é um tríptico, e pode ser visto aqui: http://picasaweb.google.com/lh/photo/tgP9dH4zfr2jthMvy_t3sQ
Ao lado desta cena tão cheia de simbolismos religiosos encontra-se de um lado o duque e a sua mulher, e do outro lado os filhos destes. O poder temporal a ocupar quase tanto espaço como o motivo religioso. O que é em si um belo sinal daquela época em que cabia ao poder temporal decidir qual era a religião certa.
Um último apontamento: quando a guerra estava mais que decidida, em Fevereiro de 1945, os aliados fizeram um bombardeamento cirúrgico em Weimar, para destruir os símbolos históricos. Alvos: a casa de Goethe, a casa de Schiller, o teatro onde nasceu a República de Weimar, esta igreja, etc.
Algumas bombas acertaram em cheio na igreja, que ficou quase completamente destruída. Alguns anos mais tarde, em 1949, Thomas Mann recebeu nessa cidade o prémio literário Goethe, e ofereceu o valor do prémio para a reconstrução da igreja. De caminho aproveitou para perguntar o que é que se passava "lá em cima em Ettersberg" - os russos tinham reaberto Buchenwald, e ninguém ousava falar sobre isso (mesmo muito mais tarde, nos anos oitenta, ainda ninguém ousava falar do que lá acontecera).
Mas isso são outras histórias.
Que é coisa que não falta em Weimar.
Recomendo pelo menos uns três dias para visitar a cidade.
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