Texto de Anselmo Borges no DN de 4 de Setembro de 2010
Se Madre Teresa de Calcutá fosse viva, teria feito cem anos na passada semana. De facto, A. Gonxha Bojaxhiu, mais tarde Madre Teresa de Calcutá, nasceu no dia 26 de Agosto de 1910, em Skopje (Albânia), actual capital da República da Macedónia. Mas diria mais tarde: "Realmente nasci no dia em que um leproso abandonado na rua morreu nos meus braços e me disse: 'Vivi como um cão, mas parto deste mundo como um anjo'".
Religiosa das Irmãs de Nossa Senhora de Loreto, deixou a Congregação, após uma experiência mística, em 1946, na qual teve a inspiração de dever entregar-se inteiramente ao serviço amoroso dos mais pobres entre os pobres, nos quais via o próprio Jesus.
A antiga professora começou então o que alguns chamaram o "magistério evangélico" de acudir a Jesus nos mais necessitados. Nasceu daí a Ordem das Missionárias da Caridade, hoje com mais de 700 casas em todo o mundo e um total de 5000 religiosas, que conta também com um imenso número de voluntários, que, seguindo o seu exemplo, dedicam parte do seu tempo a cuidar de doentes terminais recolhidos nas ruas, mães necessitadas, crianças deficientes.
Recebeu o Prémio Nobel da Paz em 1979. No seu discurso, desafiou os presentes a irem ao encontro dos que também no Ocidente são apanhados pela pobreza não só de bens materiais, mas também de amor e atenção.
Nas suas casas, não se faz discriminação: são atendidos tanto os cristãos como os hindus, os budistas, os muçulmanos ou outros.
Tornou-se uma das pessoas mais admiradas do mundo por crentes e não crentes. Junto ao túmulo vêem-se permanentemente pessoas de diferentes condições sociais e credos. Madre Teresa de Calcutá é verdadeiramente uma santa global e ecuménica. Não se percebe como é que o Vaticano ainda procura um "milagre" para a canonização, quando os únicos milagres são os do amor e esses já estão presentes na obra de Madre Teresa. O mesmo se poderia dizer do nosso Padre Américo.
Para mostrar a sua atitude face à vida, o jornalista Jesus Bastante, sintetizou, no estilo pergunta-resposta, o que chamou o "testamento" de Madre Teresa:
O dia mais belo? Hoje. A coisa mais fácil? Equivocar-se. O maior obstáculo? O medo. A raiz de todos os males? O egoísmo. O maior erro? A guerra. A distracção mais bela? O trabalho. A pior derrota? O desalento. Os melhores professores? As crianças. A primeira necessidade? Comunicar. O pior sentimento? O rancor. A pessoa mais perigosa? A que mente. A via mais rápida? O caminho certo. A maior satisfação? O dever cumprido. O melhor remédio? O optimismo. A mais bela de todas as coisas? O amor. As pessoas mais necessárias? Os pais. O mais imprescindível? O lar. O melhor presente? O perdão. O sentimento que mais te bloqueia? A tristeza. O que te faz mais feliz? Ser útil aos outros. A força mais poderosa do mundo? A fé. O maior mistério? A morte. A sensação mais agradável? A paz interior.
Depois, como lema de vida, reflectindo sobre o tempo: "Vou passar pela vida só uma vez. Por isso, alguma coisa boa que possa fazer ou alguma amabilidade que possa ter com um ser humano devo fazê-la agora, pois não passarei outra vez por aqui."
No início de um novo ano lectivo e do retomar das lutas diárias, incluindo as políticas, é um lema urgente para todos.
Aí ficam também as palavras do Padre António Vieira sobre os pecados do tempo: "Uma das coisas de que se devem acusar e fazer grande escrúpulo os ministros é dos pecados do tempo. Porque fizeram o mês que vem o que se havia de fazer o passado; porque fizeram amanhã o que se havia de fazer hoje; porque fizeram depois o que se havia de fazer agora; porque fizeram logo o que se havia de fazer já. Tão delicadas como isto hão-de ser as consciências dos que governam, em matérias de momento. O ministro que não fez grande escrúpulo de momentos não anda em bom estado; a fazenda pode-se restituir, a fama, ainda que mal, também se restitui, o tempo não tem restituição alguma".
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