Umberto Eco e Jean-Claude Carrière, na conversa de “A obsessão do fogo” (edição Difel), dizem a certa altura que há clássicos que nunca leram. E falam de uma das obras de Tolstoi. Talvez “Guerra e Paz” ou “Ana Karenina”. Não sei qual deles não leu o quê. Li o livro deles Verão do ano passado. Tal episódio acicatou o desejo de ler os clássicos. De ver chegar o dia em que me possa gabar: “Falta-me ler «Os Miseráveis»”.
Por isso, peguei num clássico da literatura. Aquele que começa assim: “Chamem-me Ismael”. Não foi por gostar da música de Moby (ou antes, de um disco em especial, “Play”, de "Why Does My Heart Feel So Bad?"), que é bis-bis-bisneto do autor desse livro, Herman Melville, que iniciei a leitura de “Moby Dick”. O desejo por este em concreto vinha de longe. Agustina Bessa-Luís despertara-me para este título, arrancando-lhe o rótulo "literatura juvenil". Gonçalo M. Tavares inspirou-se nele para umas histórias. E até há uma editora com o nome do capitão Ahab. Demasiados aconselhamentos, mesmo que involuntários.
Ora, a leitura de “Moby Dick” é um poço de surpresas. Naquilo que interessa a este blogue, devo dizer que são imensas as referências religiosas, bíblicas, cristãs, nas 60 páginas que já li. Tenho-as assinalado nas bordas das páginas. Deve dar uma média de duas por páginas. Um exemplo. O capítulo VIII (nos dias prévios ao embarque, Ismael entra numa capela) termina assim: “O que poderia com mais significado que isto? O púlpito é de facto a parte mais avançada da terra, tudo o resto vem depois, enquanto o púlpito precede o mundo. É no púlpito que surge a ira de Deus, é também na proa que se deve enfrentar os primeiros assaltos. É dele que, na esperança de monções favoráveis, se invoca o senhor dos ventos. Sim, o mundo é um navio numa viagem efémera e não completa. O púlpito é a proa desse navio”.
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