terça-feira, 24 de agosto de 2010

A boa eternidade - Um texto de Romano Guardini

Na nossa vida,
que é uma caminhada para a morte,
nós pressentimos, ó Senhor,
a tua calma eternidade.
As coisas começam, têm o seu tempo e acabam.
Ao princípio do dia,
sentimos já que ele mergulhará na noite.
E toda a felicidade
já nos previne acerca do sofrimento futuro.
Edificamos a nossa casa
e fazemos a nossa obra
e sabemos que ela se arruinará.
Mas tu, Senhor,
vives e nada de transitório te toca.
Tu és o novo por essência
e não conheces saciedade.

De nada precisas.
Nada te falta. És tudo.
Tua é a essência de toda a glória.
O centro da tua eternidade
está onde Tu, ó Pai, e Tu, ó Filho,
estais juntos um do outro
na intimidade do Espírito Santo.
Nessa calma está o teu amor e a tua paz.
Nela está a tua pátria, ó Deus Bendito!
Quando o tempo se cumprir,
também lá será a minha pátria.
Dá-me a certeza disso.
Faz com que o desejo
nunca morra no meu coração,
a fim de que, quando a vida mudar,
eu permaneça unido àquilo que dá
medida e sentido a todas as coisas.
Toca o meu espírito
com o sopro da tua eternidade,
para que eu realize bem a minha obra
no tempo e possa, um dia,
levá-la para o teu Reino eterno. Ámen.

Romano Guardini

Italiano de nascimento, Romano Guardini (Verona, 1885 – Munique, 1968), estudou e ensinou na Alemanha. Com a ascensão do nazismo, este padre ordenado em 1910 viu-se afastado do ensino universitário. Reflectindo sobre a liberdade individual e a sociedade transformada pela tecnologia, com uma visão compreensiva do mundo, Guardini foi percursor do II Concílio do Vaticano e um dos grandes teólogos do séc. XX.

Sem comentários:

Há um sínodo?

O sínodo que está a decorrer em Roma é de uma probreza que nem franciscana é. Ou há lá coisas muito interessantes que não saem para fora ou ...