Hoje é dia da Revolução Francesa. No dia 14 de Julho de 1789, o povo parisiense assaltou a prisão da Bastilha.
Escolhi outro facto para assinalar hoje como efeméride neste blogue (o Missal de Pio V), mas não resisto a transcrever uma explicação religiosa para a revolução que mudou a face da terra. Lida recentemente, para mim representou grande novidade. Mas agora percebo por que é que nos episódios iniciais da Revolução Francesa, feita contra o rei e a Igreja, surgem com frequência nomes de padres entre os protagonistas.
“Nos anos 1750, a Igreja [em França] cinde-se entre o partido de Roma, ligado à monarquia, e os padres jansenistas, próximos das camadas pobres e populares – ao passo que o primeiro jansenismo foi aristrocrático. As paróquias nas quais é mais importante a presença deles são as mais pobres de Paris, como as de Maubert-Mutualité, de Saint-Germain-l’Auxerrois ou de Saint-Jacques-du-Haut-Pas, nas imediações do [hospital militar de] Val-de-Grâce. O jansenismo coloca-se assim ao serviço do povo, opondo-se à monarquia e ao papa; os sacramentos que esses padres administram, nomeadamente o da extrema-unção, não são considerados válidos por Roma. Ora, essa condenação provoca um escândalo, e alguns historiadores chegam a ver nesse acontecimento uma das causas da Revolução. Rejeitart os últimos sacramentos equivale, de facto, a privar uma alma da sua dignidade, do seu descanso, da sua salvação. Esse acontecimento, aparentemente religioso, vai legar o povo a desligar-se da monarquia: o rei, dizia-se, não tem nenhum poder sobre as almas e não pode determinar a salvação delas. Trata-se, neste caso, de uma nova concepção de felicidade para as classes populares: doravante, cabe aos homens velar pela respectiva salvação, sem que nenhuma ordem emanada de cima lhes seja imposta”.
Arlette Farge in "A mais bela história da felicidade" (Texto & Grafia), pág. 121.
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