Algo mudou. Diferentemente do passado, o nosso contemporâneo vive uma situação marcada por um ensimesmamento sem mais nenhum compromisso na construção da sociedade. O momento social da fé, que tinha caracterizado os decénios precedentes, deixa agora o lugar ao primado da experiência individual. Paradoxalmente, acontece que a fé se consolida num crente individual, mas sem mais incidência particular na vida social, política e cultural. A responsabilidade pela transmissão da fé dá lugar a uma forma de fideísmo acomodatício que, de facto, impede a fé de ser ela própria. Nesta situação, o conteúdo da fé é despedaçado na sua unidade, enquanto só alguns aspectos são assumidos e, em parte, absolutizados, para se tornar norma da experiência pessoal.
O pavor que a «era do vazio» provoca, sobretudo quando se considera o futuro, parece debelado no melhor dos casos pela confiança numa experiência que oferece uma segurança momentânea; no entanto e pelo contrário, o homem torna-se cada vez mais frágil quando cai nas mãos da superstição travestida nas suas infinitas máscaras. Ilusão tremenda. Com efeito, sem um empenhamento concreto, a fé morre e, num contexto de debilidade geral, ela própria enfraquece pela falta de inteligência coerente que permita conhecer a sua essência.
Rino Fisichella in "A fé como resposta de sentido", ed. Paulinas, 31-32.
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