"Tocqueville começa por atribuir à religião um papel decisivo na elevação do olhar dos povos e na realização de grandes feitos seculares, mesmo em domínios que podem ser totalmente independentes da religião. Se tivermos em conta que Tocqueville detecta na era democrática uma forte pressão para o abaixamento do olhar, podemos compreender a importância que ele atribui à religião para contrabalançar e contrariar esse abaixamento.
Em segundo lugar, Tocqueville considera que a religião é fundamental para travar a voragem totalizadora do poder central na era democrática: os povos religiosos terão menos facilidade em ceder a sua liberdade ao despotismo igualitário porque sabem que a esfera política não será nunca única nem total - além dela existirá sempre a esfera espiritual. Por outras palavras, tal como a arte de associação, o autogoverno local, a descentralização administrativa, a liberdade de imprensa e de associação, a religião é fonte de pluralismo e liberdade numa era de paixão pela igualdade e pela centralização. Por isso, Tocqueville dirá que «é o despotismo, não a liberdade, que pode prescindir da fé»".
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