Parece que basta evocar a palavra «cruz» para nos evocar um contexto de dor e de negatividade, de lágrimas e de sangue, de maneira que a expressão «levar a sua cruz» equivale quase sempre a «sofrer uma provação», «resignar-se ao inevitável», «sofrer sem lamentar-se». Pode-se mesmo chegar a determinados casos extremos, não muito raros, que levam a uma suspeita sistemática do prazer e a procurar autocastigar-se quando parece que as coisas correm demasiado bem.
Deve-se reconhecer que há uma forma incorrecta de entender a cruz, que empobrece e reduz o seu significado e produz uma visão sofrida e tétrica do cristianismo, onde a fé, em vez de funcionar como força dinâmica e positiva, leva a que a pessoa se dobre sobre si mesma, numa atitude lamurienta e vitimista, que é tudo menos a resposta a um «bom romance».
Domenico Pezzini em “As feridas que curam” (ed. Paulinas)
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